12 mudanças

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me inspirei no murakami e na lydia davis pra escrever esse plot que eu criei enquanto delirava de sono

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primeira badalada: soobin acordou se sentindo diferente. aspirou profundamente o cheiro fresco do jardim e observou go eun se arrumando para o trabalho. notou que a esposa cortou o cabelo e pensou em perguntar quando aquilo ocorreu, pois na noite passada os cabelos de go eun ainda estavam compridos. por algum motivo, não conseguiu articular as palavras e, com os olhos grudentos, murmurou sua habitual despedida e voltou a dormir.

segunda badalada: tinta. a tinta das paredes externas da garagem estava descascando com rapidez, e soobin era um rapaz que não tolerava imperfeições na linda casinha que herdara dos avós. resolveu ignorar a estranha dor que subia por seu estômago e preparar o almoço. o curioso era que ele tinha quase certeza de ter aplicado tinta na garagem há menos de três meses.

terceira badalada: ouvindo la traviata e comendo macarrão, soobin refletia sobre os problemas recentes e o trabalho de go eun. detestava ficar em casa contando os minutos enquanto a esposa sacrificava a alma naquela editora infernal. era revoltante estar sem trabalho há seis meses, depender do seguro desemprego e ainda receber olhares de censura dos pais. seu estômago não parava de doer e o macarrão tinha gosto de terra.

quarta badalada: hueningkai ligou às duas para seu dono de casa favorito e gastou meia hora do tempo de soobin fofocando sobre os dramas entre yeonjun e beomgyu, os amigos aspirantes a escritores que não conseguiam entrar em consenso a respeito de seu primeiro livro, que versava sobre buracos negros. mas beomgyu não era formado em marketing? hueningkai ignorou a pergunta e seguiu com a fofoca. soobin ouvia tudo com paciência, ignorando a sensação de queimação que começava a se espalhar pelo corpo.

quinta badalada: você saiu para procurar a gata? gata? soobin e go eun não tinham nenhuma gata, então por que a esposa lhe ligou com esse pedido inusitado? você está brincando comigo? não se lembra da nari? ela saiu ontem a noite e ainda não voltou. encontre ela, estou preocupada. com uma sensação inquietante de mal estar, soobin resolveu obedecer go eun.

sexta badalada: com o corpo mole, soobin perambulou pela casa a procura de remédios. pelo caminho, encontrou objetos estranhos, que nunca tinha visto. um telefone amarelo no quarto de hóspedes, comida para gatos no armário da cozinha, vestidos brilhantes repousando na lavanderia, relógios de prata no quarto do casal. próximo a penteadeira, go eun pousava sorridente em uma fotografia, um gato branco e pequeno em seu colo. era a primeira vez que soobin via a foto.

sétima badalada: era febre, ele tinha certeza. mas onde estavam os remédios? ele sabia que estavam no banheiro, se lembrava disso. então porque não os encontrou no pequeno armário da pia? por que achou, no lugar de seu dipirona, uma revista de moda sobre orelhas? go eun nunca se interessou por tais assuntos.

oitava badalada: como procurar por um animal que você não sabia que existia? e o que eram aquelas ruas estranhas em seu bairro? soobin conhecia o lugar desde criança, e podia jurar que nunca vira aquela ladeira feita de uma escadaria escorregadia, ou a rua sem saída que margeava casas antigas com jardins mal cuidados. experimentou sussurrar o nome de nari, sem sucesso. a febre não baixava, e seu corpo estava cada vez mais mole. seria aquele dia um delírio?

nona badalada: comprou latas de tinta e ligou para taehyun, para que este lhe ajudasse com a pintura. o corpo, ainda fraco, andava bamboleando pelas ruas e a febre com certeza subiu desde que saiu de casa. a boca estava seca e o coração palpitava. pensou com graça que aquele bem poderia ser seu último dia de vida e, nesse caso, go eu ficaria extremamente chateada. tinham um jantar marcado com os pais da garota para o próximo fim de semana.

décima badalada: soobin, eu sei que está desempregado, mas eu preciso muito daquele dinheiro que te emprestei. que tipo de golpe yuki estava tentando aplicar? soobin sabia, com certeza, que nunca pedira dinheiro a garota. ela era, acima de tudo, amiga de go eun, e sua relação superficial nunca abrira espaço para pedidos pessoais como aquele. além do mais, soobin sabia que, se estivesse em apuros financeiros, poderia recorrer ao irmão. sentindo a visão embaçada e a audição abafada, tentou explicar a situação a yuki até que, abruptamente, a linha caiu. seu dia ficava cada vez mais estranho.

décima primeira badalada: o que eram aqueles pedaços que ele vomitou? seu fígado? um barulho estranho, de carros acelerando e bombinhas estourando, preenchia o local, embora a rua estivesse deserta àquela hora. a cabeça começou a doer e, quando taehyun chegou, comentou que soobin parecia pálido e doente. ele precisava de um médico? soobin, que morria de medo de hospitais, disse que tinha apenas uma indisposição e em breve estaria bem, bastava encontrar seus remédios. tentou, discretamente, citar nari, o que não causou reação visível no amigo.

décima segunda badalada: do alto da escada, o mundo parecia esmaecer. a dor na cabeça aumentava e a mão segurando o pincel tremia. mas soobin, os pensamentos confusos, não quis desistir do trabalho, era teimoso. taehyun tagarelava enquanto fazia sua parte do trabalho. a tarde avançava, logo go eun estaria de volta. ecoando seu pensamento, um carro, conduzido pela esposa, subiu a rua em direção a sua casa. que curioso, go eun não tinha carteira de motorista! assim que ela desceu do carro, um estampido alto foi ouvido e go eun caiu, morta. soobin melhorou instantaneamente.

doze badaladasOnde histórias criam vida. Descubra agora