CAP I - A verdade

181 10 4
                                    

Ouvi um barulho e logo acordei, do meu lado um copo de água praticamente vazio, senti uma sede absurda que me fez sentar na beirada da cama refletindo sobre o que fazer. Brevemente fiquei em pé, o mundo ainda parecia meio distorcido pelo sono, sai do quarto e fui em direção as grandes escadas da minha casa, tudo parecia calmo, do lado de baixo notei meu irmão no sofá.

- KAZUTORA?! - gritei assustada.

- Ah, eai maninha.

Acontece que não vejo meu irmão a algum tempo, especialmente após ele ter ido parar no reformatório, eu nem sabia se ele voltaria para casa um dia.

- Oque você tá fazendo aqui? - Fui animada para abraça-lo, mas ele não parecia contente e me evitou.

- Nada, agora vá lá dormir. - O som da voz dele saiu de forma amedrontadora.

Balancei minha cabeça que sim, eu nunca tive coragem de revidar, nem ele, e nem meu pai quando ainda morávamos com eles, eu tive a vida toda na cabeça uma submissão que me fez acreditar não valer apena descutir.

Peguei meu copo de água e voltei até a sala onde ele assistia um filme, parei pensativa o observando.

- Oque foi sua metida? - Com o olhar de canto eu senti calafrios quando meu irmão falou.

- Nada, nada, estou subindo.

Comecei a correr pelas escadas, e sem querer tropecei e derrubei o copo de água, o silêncio ficou nítido na casa, senti um arrepio vindo pelas costas, e quando me virei notei ele lá, me cuidando com os olhos vidrados nos meus.

- Maninha, você sujou a casa - Kazutora fala sorrindo.

- D.Desculpa - Gaguejando eu fechei os olhos.

Senti a mão dele tocar minha cabeça e logo depois quando abri os olhos novamente para observar, apenas senti um soco vir no meio da minha cara, eu acabei desmaiando.

Quando acordei já estava na minha cama e atrasada para a escola, o relógio pontuava 9 horas da manhã,oque aconteceu foi um sonho? Me levantei correndo o mais veloz que pude e coloquei rapidamente o uniforme, ao me olhar no reflexo do espelho da porta notei um corte gigantesco no nariz, corri para a cozinha e achei curativos, fiz de qualquer jeito e acabei saindo, notei que na casa não havia ninguém, meu irmão nunca foi presente, viveu a vida toda andando com os amigos e esquecia de mim, fui muito excluída por ele, e por esse motivo era o saco de pancada dos nossos pais, e ele nunca me protegeu, mas na minha cabeça sempre, sempre foi um bom irmão e eu o respeito muito.

Corri o suficiente para meus pulmões doerem, e quando cheguei vi que o portão da escola já estava fechado, não havia como entrar, e aquilo me fez claramente perder as forças.

- Faz oque aqui?

Uma voz grave surgiu das minhas costas.

- Oi? - Disse olhando para trás.

- Sou o Draken, um conhecido do seu irmão. - Ele disse vindo em minha direção para me ajudar a levantar.

- Obrigada. Então conhece o Kazu?

- Haha, Kazu? Esse é o nome dele agora? - De trás do Draken uma nova voz surgiu.

Olhei bem e notei que era Baji, eu o conhecia de longe, já vi ele buscar meu irmão muitas vezes de moto.

- Olá Baji.

- Eae. - Ele disse colocando a mão para o alto.

Os dois não conversaram muito comigo e foram embora, pareciam ocupados, estavam com o uniforme da Toman, oque me preocupou um pouco.

Como estava claramente sem o que fazer decidi segui-los. Eles foram a casa do Draken e depois para a antiga S & S motors, o lugar onde o irmão do Mikey acabou falecendo, justamente por causa do Baji e do meu irmão. Caminhei até o beco de trás, e então cheguei próxima do vidro e consegui ouvir eles conversando.

- Ei Draken, aquela menina de antes, quem era? - Baji pergunta.

- S/N, você não lembra dela seu desgraçado? - Draken falou o olhando irritado.

- A irmã do Kazutora? Não fode. - Baji sorriu e continuou.

- Ela tá bem gostosinha, você não acha?

- Que merda você tá falando cara, você conheceu ela pirralha. - Draken empurrou ele de leve e Baji deu de ombros.

A medida que passei olhando eles conversarem, na minha cabeça só conseguia pensar sobre meu irmão e a morte do Shinichiro Sano, mesmo que eu não tivesse culpa me sentia responsável pelos atos do meu irmão.

Resolvi me retirar, não era justo estar ali, e bom só os segui também por que pensei na possibilidade do Kazutora estar junto. Andei para trás e sai na frente da loja, mas infelizmente quando virei a esquina bati de frente com Emma Sano.

- Ah, oi. - Ela diz com um sorriso.

- Você não é a... - Notei Mikey logo atrás.

- Eu... - Tentei falar algo mas fugi.

Corri o mais rápido que pude e quando os vi desaparecer eu parei para respirar.

Nunca entendi meu irmão, ele sempre andou com o Mikey, sempre andou com o pessoal, mas por algum motivo ele fez o que fez e nunca explicou, nem para mim e nem para ninguém, a única pessoa que sabia disso era o Baji, afinal estava junto com ele, e eu adoraria saber as versões dessa história, queria saber em quem acreditar.

Caminhei tranquilamente, chutei algumas pedras que estavam no caminho e pensava alto, queria acreditar que meu irmão era inocente, queria que minha vida fosse mais normal, amigos, escola de verdade, e tudo mais, por que, por conta de tudo o que aconteceu, na minha vida todos tinham medo de mim e achavam que eu iria matar alguém a qualquer momento, coisa que não aconteceria, afinal minha saúde é frágil e eu mal consigo dar conta de tudo sozinha. Apesar de ser 1 ano mais nova que o Kazu, eu tenho que trabalhar para viver, e por esse motivo sempre fiquei em um mercado na frente da minha casa, vendia de tudo, doces e até mesmo drogas quando precisava. Admito que sim tinha medo da vida que eu levava, sem pais, sem nada, mas o que me deu forças para viver foi meu irmão, eu queria ver ele, proteger ele, e por isso até hoje consigo levar minha vida adiante, sei que ele é agressivo, mas entendo que ele faz isso por amor...

- Isso é seu?

Uma mão veio na minha frente me mostrando um pingente de Penguipanda.

- Meu Penguipanda!

*Penguipanda: penguin com panda*

Peguei da mão e em seguida olhei no rosto dela.

- Baji? - Disse surpresa.

- Você deixou cair quando vazou de lá, e o Mikey achou. - Ele virou as costas para sair.

- Baji, podemos... Podemos conversar?

Ele parou e colocou as mãos nos bolsos virando devagar para trás.

- Sobre oque quer falar?

Eu o olhei com determinação.

- Meu irmão.

Keisuke Baji: Livre De AlgemasOnde histórias criam vida. Descubra agora