Capítulo 1 - O Reino de Roriecsta

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Meu nome é Patrick Filtzpack. Acredite ou não, eu sou um duende. Mas não sou um duende qualquer; sou um guerreiro. Luto contra forças ocultas para proteger o meu reino da destruição. Não sou verde, não sou ajudante do Papai Noel, e muito menos sou baixinho. Minha história mudou quando algo aconteceu no meu reino. Naquela manhã, eu estava em casa...

Reino de Roriecsta - 21/04/2003

— Patrick, Patrick, aconteceu algo terrível! — gritou Fong.

— O que houve, Fong?

— Outro humano atravessou o portal!

— Como assim?

— Foi exatamente isso que ouviu: outro humano atravessou o portal. E sabemos muito bem o que humanos podem causar no nosso reino.

— Acho que não precisamos entrar em pânico. Foram apenas dois humanos. Isso não deve ser o suficiente para desestabilizar a energia. — Falando isso, fui à procura do humano que Fong mencionara. Aproximei-me de uma ruela e vi vários elfos ao redor de alguém. Pedi que se afastassem e, quando finalmente avistei a criatura, não consegui ver seu rosto. O cabelo cobria-lhe toda a face. Aproximei-me o suficiente para perguntar com uma voz mais grave:

— Quem é você? O que faz em Roriecsta?

Eu estava vidrado pelo perfume que ela exalava. Quando ela se virou, um arrepio atravessou minha espinha.

— O que está acontecendo? — A voz dela me fez fechar os olhos. — Exijo que me solte agora! — disse, sentindo que eu amarrava seus pulsos.

— Não vou soltá-la até me dizer quem você é.

— Eu sou Karolin, Karolin Couth! Está satisfeito?

— Não, ainda não. Lembra-se de algo antes de chegar aqui? — perguntei, tentando enxergar seu rosto.

— Eu estava andando na praça da minha cidade, quando de repente apaguei e...

— E agora está aqui... — completei.

— Isso! Onde estou? Pelo amor de Deus, diga-me onde estou! — disse, encolhendo-se.

— Você realmente não sabe onde está? — perguntei.

— Não foi o que eu acabei de dizer? — Antes que ela completasse a frase, interrompi.

— Você está no Reino de Roriecsta.

— O quê?

— Você está em Roriecsta.

— Mas que diabos é isso?! — Ela levantou a cabeça, e finalmente pude olhar em seus olhos.

Meus pulmões falharam por um momento. Seus olhos... eram vermelhos. Vermelhos como fogo. Eu podia ver minha alma refletida neles.

— Seus olhos... — falei, sem fôlego para continuar.

— O que tem meus olhos? Você é louco? — Ela continuava me encarando, faíscas pareciam saltar de seu olhar. — Onde estou?

— Como já disse, você está no reino de Roriecsta. Não sei como conseguiu atravessar o portal. Humanos não podem atravessá-los facilmente. O portal dimensional não se abre assim para a sua espécie. Quando o faz, desestabiliza a energia, o que pode trazer consequências terríveis para lugares que dependem dela, como Roriecsta, que é mantido estável por essa energia. — Ela pareceu começar a aceitar a explicação, balançando a cabeça, até que...

— COMO ASSIM “MINHA ESPÉCIE”? — Ela fez aspas com os dedos, irritada.

— Sim, humanos. Eu não sou da sua espécie. — Ela me olhou de soslaio, confusa.

— Se você não é humano, o que é, então? — perguntou, claramente desorientada.

— Isso é fácil de responder. — Sorri de forma maliciosa.

Ela deu um passo para trás, balançando a cabeça em negação.

— Não brinca comigo! Onde eu estou?! — exclamou, exasperada.

— Já disse: você está em Roriecsta. — Sua expressão passou de confusão para desespero. Previ o que ela iria dizer.

— Por que estou aqui? Não sei o que estou fazendo! — As faíscas nos seus olhos sumiram. Percebi que ela estava mais assustada do que o povo da cidade. Abaixou a cabeça, acuada, e eu afrouxei as cordas nos seus pulsos. Ela me olhou fixamente e, de repente, começou a rir de forma desesperada.

— Agora você vai me dizer que estou em um reino encantado? — indagou.

— Sim, encantado. — Eu estava me divertindo com sua confusão.

— Encantado como? Vai me dizer que tem fadas e anões aqui? — Ela quase gritou.

— Mais ou menos isso. — Continuei a me divertir.

— Então vai me dizer que você é um duende? — perguntou, com ironia.

— Sim, sou um duende. — Ela parou de rir e me encarou.

— Você? Um duende? Acha mesmo que vou acreditar nisso?

— Não vejo o motivo da graça. Estou falando a verdade. Sou um duende e líder do exército da rainha. Sou um guerreiro.

— Mas duendes não são verdes, baixinhos e ajudantes do Papai Noel?

— Ah, humanos e suas distorções... Isso é só uma lenda. Preste atenção: você não está em sua terra. — Afastei o cabelo da frente da orelha e continuamos andando.

— Sua orelha... ela...

— É pontiaguda, eu sei. E não faz parte de algum adereço.

— Eu não consigo acreditar nisso... — murmurou.

— Mas deveria. É a pura verdade. — Nos olhamos por alguns instantes e seguimos em frente.

— Santo Deus! Nunca vi nada parecido com este lugar!

— Provavelmente não.

— Por que estou amarrada?

— O reino está com medo de você.

— Ai, meu Deus! — Ela revirou os olhos.

— Acho que posso soltá-la. Não parece ser perigosa nem para uma mosca.

— Ei! O que quis dizer com isso?

— Nada demais. — Sorri.

Soltei as cordas, e continuamos andando. Eu nunca havia visto uma criatura tão bela. Enquanto caminhava, ela esfregava os pulsos e ajeitava os cabelos negros.

Os elfos nos olhavam, confusos, e tive que improvisar um pronunciamento. Peguei um caixote próximo e subi nele:

— Cidadãos de Roriecsta! Estamos fora de perigo. Esta jovem não nos fará mal. Por favor, voltem às suas atividades. — Com um murmúrio, vi a multidão se dispersar.

Mais à frente, notei que Karolin tremia.

— Você está bem, Karolin? Está com fome? Com frio? — perguntei, tentando trazê-la de volta de seus pensamentos.

— Sim, estou morrendo de fome e com um pouco de sede também.

— Parece que não é só isso... — deixei a frase no ar.

— É... — Ela hesitou, mas continuou: — Estou muito assustada e preocupada. Quero sair daqui.

Eu hesitei. Ela notou e perguntou:

— Você está bem? — Tentou encontrar meus olhos, mas eu não consegui encará-la. Não sabia como lhe dizer que não poderia voltar ao seu mundo agora.

— Claro que sim! Venha, levarei você à minha casa para comer e beber algo. — Pareci sábio demais para alguém com apenas 250 anos.

Seguimos até meu castelo, e eu a vi boquiaberta, olhando para minha casa.

Onde vivem os duendes?Onde histórias criam vida. Descubra agora