XXXII: Maquinações e mais

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Bonifácia via o automóvel de Gaspar parar na rua da praia. Ele a voltou a ver molhando os pés na beira da praia. 

Tirou seus sapatos e foi até ela no túnel de rochas. 

— É meio perigoso você me encontrar aqui, não é? — ele zombou, irritado. 

— Por que seria perigoso? 

— Eu poderia te afogar aqui, Bonifácia. — explicitou seu desejo. 

— Por que você faria isso? — se aproximou dele. 

— Você destruiu o meu casamento. — correu dela enquanto saía seu tom bruto. — Está ficando maluca? 

— Eu não estou maluca, Gaspar. Apenas quis te ajudar. — fingiu um tom amoroso. 

— Me ajudar? — riu. — Você é louca, garota. Eu estava prestes a ser o dono de todos os bancos da cidade. 

— É isso que via nela? — levantou a sobrancelha e fez biquinho. 

— Isso e bem mais, não é? Ela tem nível, bonita e rica. — olhou-a estando afundado em seu mau humor. 

— Você pode ser muito cruel às vezes. — tocava o terno dele e olhava a gravata. — Mas eu também posso ser maldosa. 

Ele a olhou sem emoção e depreciou dela. 

— Sabe, com o Grint aqui na cidade as coisas podem ir tão diferentes. — continuou olhando a gravata do homem enquanto deixava as mãos passearem pelo terno dele. 

— Esse Grint só veio para causar problemas. — resmungou. 

— Ele foi tão justo ultimamente. Imagine o que faria se soubesse dos crimes que esconderam nesta cidade? O seu pai mesmo. — continuava arrumando o terno. — Ele já cometeu tantos crimes. E ultimamente, bem recentemente ele fez uma coisa contra o senhor Martin Mendes que poderia ser tão ruim para vocês... Imagine seu pai ser preso de repente, já que o Mendes é o protegido do rei. O Mendes nem sonha que foi o seu pai, pensa que foi o coronel Marques, mas... Imagine o que novos fatos poderiam mudar o caso com a presença do Grint por Magris? — suspirou fingidamente como se estivesse chocada e pacífica e não atacando. 

— Que seja. — encolheu os ombros. — Meu pai é o compadre do coronel Henrique, ele nunca seria preso. E na pior das hipóteses, todos os bens dele viriam direto para o meu nome. 

— Não, Gaspar. — sorriu fingindo inocência. — Na pior das hipóteses o rei iria desvincular todos os vossos bens do nome Gomes. Além de você tentar forçar a filha dele para um casamento forçado. 

— O que está supondo, Bonifácia? — sua sobrancelha levantou de modo que sua raiva despertava. 

— Eu? — sorriu. — Nada. Apenas que eu tive o azar de presenciar um crime e seria crime por cima de crime se eu mentisse ao rei em tribunal. 

— É. Seria mesmo. — respondeu mal-humorado. 

— Mas eu nunca denunciaria meu sogro. — o olhou nos olhos. 

— Seu sogro? — recuou com a cabeça. 

— Você sabe tudo o que estamos fazendo desde muito tempo, Gaspar. E você está solteiro agora e eu quero você e eu vou ter você. 

— Bonifácia, você está ficando maluca. — balançou a cabeça negativamente e a afastou. — Eu não vou me casar com você. Nunca. 

— Não seja mau comigo. — mordeu os lábios. 

— Eu não te... Bonifácia você está meio louca. — riu. — Eu sempre fui sincero contigo.

— Eu não estou dizendo que você me enganou. Eu disse que você tem que começar a olhar para mim com outros olhos, não só como a filha da costureira que você pode apertar às vezes. 

Magris A história de uma cidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora