0.3 - Intragável

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02.03.2034

O príncipe com certeza era detestável, não tinha como negar. Estavam a pouco menos de dez minutos no mesmo carro, nem ao menos haviam trocado outras palavras senão as do jardim que, convenhamos, pré estabeleceu um clima nada favorável; Mas ainda sim, incontestável, não precisava de mais confirmações para este fato. A presença dele era insuportável.

- Vocês parecem tensos - Han comentou, distraído. Encarava a paisagem pelo vidro escuro da janela, gostava de contemplar as montanhas ao redor dos reinos, o caminho era realmente bonito, campos com diversas flores e lagos extensos. - Aconteceu alguma coisa?

- Nã-

- Sim - O príncipe interrompeu com o olhar faceiro ao soltado. - Seu escolhido aí invadiu o jardim da minha mãe e destruiu as flores favoritas dela, mas não se preocupe... Eram apenas flores. - Sorriu por fim, amargo, e virou o corpo para a janela. Já estava aparentemente inquieto com toda a situação do ultimo dia, talvez não quisesse mais se estressar; Sam tentou compreender, mas sua impaciência já lhe batia a porta.

- Eu já pedi perdão, alteza. Não fazia ideia de que...

- Não quero suas desculpas, ponto final. - Mais uma vez interrompido. Como queria apenas poder dar um murro bem dado na boca do mais jovem, talvez assim ele aprendesse a respeitar os demais.

- Entendi... - O conselheiro desviou o olhar, agora um pouco perplexo, não era bom em resolver desavenças. - Então, acho melhor vocês se resolverem, sei lá, vocês vão ficar uns bons dias juntos.

- É, obrigado por lembrar Jisung, amo meu trabalho. - Mostrou os dentes em um sorriso forçado e caricato. Era óbvio sua insatisfação.

- Está convidado a ir embora, soldado - A voz do Lee soou baixa, ainda estava virado para a estrada quase que fazendo pouco caso. - Não é como se eu estivesse adorando a ideia.

- Não é você que me contratou, foi o Rei, então enquanto eu estiver recebendo por isso pode acreditar, vou ser obrigado a te suportar... alteza.

- Ei, ei... Gente? - Jisung agitou os braços, não era possível começarem um bate boca ali, mal haviam se conhecido.

- Obrigado você certamente não é a nada, soldado! - Frisou a última palavra. Ele estava querendo colocar Sam em seu devido lugar? Como se o mostrasse que era superior? Ora mas que grande filho da...

- JÁ DEU!

O Hwang respirou pesado, retraiu os ombros e também se virou para o lado oposto, ignorando a presença aversiva do australiano enquanto mentalmente o xingava de todos os piores nomes que podia imaginar. Não entendia a raiva descontrolada que sentia por um desconhecido insignificante... bom, não tão insignificante, ele era o príncipe, mas ainda sim! Não deveria deixar suas emoções ultrapassarem os limites de sua razão.

- Obrigado, vocês ainda conseguem ser gentis. - O conselheiro sorriu mais relaxado e voltou a sua contemplação.

Sam via o verde dos campos passando com certa velocidade, destorcidos, quase o trazendo uma sensação de náusea, mas segurou. A mente borbulhava em pensamentos bagunçados, ora sobre o príncipe que queria socar sentado ao seu lado, ora sobre como estava preocupado com os amigos que deixara no reino. Os ataques rebeldes cada vez mais fortes e o movimento de oposição ganhando cada vez mais força no Sul da margem, estavam totalmente despreparados para um novo ataque e isso era o que mais temia; Samuel e Jisoo - sua única família juntamente a Jisung - haviam ficado pra trás e se algo acontecesse enquanto estivesse fora seria impossível voltar de tão longe a tempo de salvá-los. O sentimento de desespero subiu até sua garganta sem que pudesse evitar, não podia mais perder ninguém... já bastava seu pai. Bufou irritadiço, se sentindo impotente por saber que não havia o que fazer além de confiar nos seus colegas do exército e torcer para terem tempo o suficiente para erguer barreiras contra os inimigos, até pensou em rezar... mas bom, sua fé já teve dias melhores.

Descansou a cabeça pesada pelas ideias e suposições no encosto do banco confortável da limusine, aproveitando a próximas horas de viagem para descansar enquanto ainda tinha paz, enquanto tinha certeza que sua família não estava em perigo e enquanto o infante estava de boca fechada.

°°°

𝑅𝑒𝒾𝓃𝑜 𝒹𝑒 𝒯𝑒𝓃𝑒𝒷𝓇𝒶

- Lix, ei amigo - Jisung balançou o corpo do oriental devagar na esperança de acordá-lo mais rápido. - A gente chegou.

Felix abriu os olhos devagar e com um pouco dificuldade pela claridade baixa que invadiu sua visão. Voltou a órbita um pouco depressa, agradecendo o mais velho silenciosamente por tirá-lo de um pesadelo, mas agora já não lembrava mais com clareza sobre o que se tratava, apenas a sensação de não querer voltar a tê-lo.

- Que horas são? - Perguntou baixo, a voz ainda mais rouca.

- Seis e vinte, a viagem durou oito horas.

Assentiu e pulou do carro, precisava esticar as pernas dormentes urgentemente e alongar seu corpo, odiava dormir em carros.

- Olha só quem finalmente veio me ver... - Ouviu a voz tão querida por si vindo de trás e se virou rápido, quase como uma criança ao ver o melhor doce que já existiu.

- CHAN! - Correu para abraçar o rei, e claro, melhor amigo de longa data. - Que saudade Chan Hyung.

Baixou um pouco a guarda, ao menos naquele momento; Estava genuinamente feliz por reencontrar o mais velho que tanto lhe cuidou e ensinou sobre a vida, o admirava demais. De longe o soldado observava um pouco intrigado, quase pode ficar chateado por ter sido tratado com tanto desgosto pelo príncipe e agora vê-lo ser caloroso e gentil com outra pessoa, mas tinha que manter em mente que não eram amigos e nem ao menos tinham uma relação anterior.

- Meu menino, como tá grande hein, bonito - O rei sorriu emocionado enquanto examinava cada detalhe do mais jovem, o arrancando uma gargalhada. - Bonito demais, e os pretendentes?

- Bangchan, pelo amor de Deus - Revirou os olhos ainda em meio a risos. Se afastaram para então prestar uma reverência mútua de forma pomposa, era uma tradição que haviam criado desde a coroação do mais velho, achavam surreal o fato dele ter se tornado rei com apenas vinte e dois anos e passaram a se cumprimentar dessa maneira por pura gozação. - Minnie! - Sorriu mais contido e acenou para o conselheiro com cara de cachorrinho que esperava paciente alguns metros atrás. Reverenciou em resposta, também sorrindo, era um querido. - Eu trouxe o Ji, e aquele... aquele brutamontes altão é o Sam, meu pai teve a ideia estúpida de colocar ele na minha cola pra me proteger depois do ataque. - Olhou de soslaio para o moreno que os encarava com uma carranca já típica, mas agora com um olhar diferente, como se tentasse decifrar algo.

- Ele é bonitão, olha - Brincou e quase gargalhou com a careta que o príncipe fez, negando copiosamente com a cabeça. - Parece que seu pai mandou mais gente. - Indicou os outros dois homens que saiam conversando baixo da limusine, aparentemente sentados nos bancos da frente, mas o Lee logo os reconheceu, lembrando das palavras do pai ao saírem.

- Ah sim, eles. Hongjoong... - Apontou para o homem terno creme e boina de mesma cor, tinha uma expressão alegre e viva no rosto e óculos de armação fina prateada, Felix se dava muito bem com ele. - É novo em Anchie, me dá aulas de história e economia, é bem legal e outro é o Changbin - Indicou o segundo, forte e baixo, de semblante mais sério com suas roupas leves e totalmente brancas. - É meu médico e psicólogo, basicamente. Meu pai disse que eu deveria tentar manter minha rotina de estudos e afins por aqui, aquele crápula age como se nada tivesse acontecido, Chan, eu tô sem mais papas pra aturá-lo, é sério. - Bufou frustrado ao voltar tão rapidamente para o assunto que sempre o assolava. Era difícil desatrelar seus pensamentos dos feitos do pai.

- Calma Lixie, vamos entrar e conversar com mais calma, sim? - Acariciou o ombro do mais novo em forma de conforto, abertamente preocupado com o tom de mágoa que o príncipe carregava na voz.

Felix suspirou triste e ajeitou a postura, concordou e saiu andando a caminho dos grandes portões do castelo de paredes escuras, Tenebra, reino conhecido por seus metais e armamento sem iguais, grande parceiro comercial de Anchie, além da amizade que as gerações construíram a muitos anos, se unindo durante as guerras e oferecendo suporte um ao outro. Um pouco cabisbaixo apenas ouviu de fundo o amigo cumprimentando os demais formalmente e abraçando Jisung como fizera consigo e por fim entrou sem esperar mais.

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O Príncipe e o Guerreiro - HyunlixOnde histórias criam vida. Descubra agora