"Ei, Fulano, Beltrano morreu".
Há, também, variações, tais como: "sabia que Beltrano morreu?", ou "deu no jornal agora, Beltrano morreu", mas, no fim, todas comunicam o mesmo. E, embora possam aparecer de tempos em tempos, com pausas grandes ou pequenas, sempre persistem. Tais comunicados nunca cessam, jamais irão.
Muitas vezes, são notícias de pessoas que mal conhece. Figuras da televisão, internet, ou mesmo um conhecido de vista da sua rua. Irônico, pois, embora não tenha conhecimento aprofundado sobre sua vida, logo saberá cada mínimo detalhe de sua morte. A trágica história do fim, carregada de informação, é sempre mais veloz que história da luta interminável da vida (afinal, o que é a vida, senão um embate cruel, injusto e prolongado?).
Os dias passam, o tempo me faz esquecer. Quando havia sido a última vez, desde a de hoje? Não faço ideia, e nem teria como saber. Nunca guardaria tal informação. Por que me torno tão apático frente a derrocada vital alheia? São os tempos modernos? Sou eu mesmo? É a falta de apego com aquela gente? N.D.A? E, no fim, isso sequer faz alguma diferença?
Os anos passam, tudo isso continua. Essa dúvida, raramente, vai aparecer. Vai fazer minha cabeça doer, coçar, pinicar e ferver. Qual será a maldita resposta!? Tanto faz, tanto fez. Já me esqueci disso. O que deveria ser feito hoje mesmo? Ah, sim, as obrigações. São bem mais importantes que uma pergunta idiota.
Beltrano morreu
Fulano faleceu
Tudo isso se repete
E quem fica sabendo sou euO tempo passou
A memória se foi
Em poeira se desfez
O destino anuncia, sem receio
Que chegará, eventualmente, minha vez.
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Minha vez
PoetryDizem isso de novo e de novo, de tempos em tempos, maiores ou menores. Sempre dizem. Quando será a minha vez?