Quando O Amor Está Pronto (completa)

Capítulo Único

Quando O Amor Está Pronto

Bianca Daniela

29/03/24

" Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, pelas gazelas e cervas do campo, que não acordeis nem desperteis o meu amor, até que queira. "

Cantares 2:7

A pequena cidade de Herstown, cravada no sul dos Estados Unidos, era um lugar muito bonito e pacato, ruralizado e distante das cidades grandes. A população era majoritariamente mais velha, conservadora e preservava o comportamento tradicional e os costumes antigos. Eve Madison que o diga. Aos 26 anos, já não conseguia ir ao mercado em paz sem que no caminho alguma senhora (ou senhor) lhe falasse sobre casamento e filhos, lhe dizendo que ela estava ficando velha e "para titia", essas coisas. Acontece que Eve, que nasceu em Herstown e vivia lá desde sempre, era uma jovem "solteirona". Órfã de pai e mãe, por causa de um acidente de carro, foi criada pela avó, Caroline, mas essa também morreu, quando ela tinha vinte anos. E ela ficou sozinha. Muitos moradores tentaram convencê-la a ficar com eles, para que ela tivesse companhia, mas Eve recusou.

Ela era uma jovem reservada e desde sempre muito dedicada e trabalhadora. Mantinha seu emprego numa sorveteria desde os quinze anos e as vezes era babá ou fazia faxinas nos finais de semana. Embora a vida tivesse sido difícil e triste, com a perda de seus entes queridos, Eve mantinha sempre a fé em Deus, que lhe dava forças para continuar. Sua boa vontade era conhecida, e ela também se ocupava em ajudar os outros.

E ela era bonita? Eve era encantadora. Ela tinha olhos meigos e castanhos, cor de mel, assim como os cabelos. Sua pele era clara e repleta de pintas, sua boca pequena e rosada, sua voz firme, mas doce. Ela não passava de 1,60m e embora estivesse sempre beliscando docinhos e experimentando sorvetes, era magrinha. As costureiras da cidade gostavam de presenteá-la com vestidos e saias, e usá-la como manequim. Mas engana-se quem pensa que Eve era vaidosa ou extravagante. Ela não gastava nem meia hora diante do espelho por dia, detinha-se em cuidar de sua higiene pessoal e manter-se limpa e alinhada. Só usava maquiagem em ocasiões especiais.

Embora as senhoras mais velhas fossem boas amigas, havia uma coisa em que elas e Eve entravam em conflito. Elas queriam que Eve se casasse. Para elas, a jovem mulher estava desperdiçando seus melhores anos e os melhores pretendentes, a chance de ser mãe e de ter uma família para cuidar. Eve ouvia seus conselhos, mas sua decisão já estava tomada: ela não se casaria a menos que encontrasse o grande amor da sua vida e não se importava em esperar. E se não encontrasse, morreria solteira mesmo. As senhoras ficavam aflitas com essa ideia, muitas apresentavam seus filhos, seus netos, seus sobrinhos e tentavam, em vão, fazer com que Eve se interessasse por eles.

Mas quem poderia despertar o amor, sem que este estivesse pronto?

Era um dia de chuva em Herstown, quando Dylan Brown saiu da rodoviária com suas malas pesadas e coturnos de couro, causando mexericos na cidade com sua presença. Embora a maioria das pessoas o conhecesse, ninguém o cumprimentou pelo caminho. Mas Dylan não se importava com isso, ele não esperava ser bem recebido em lugar nenhum naquela pequena cidade interiorana. Não depois do que ele havia feito antes de ir embora dali, cinco anos antes.

Aos 23 anos, Dylan estava no pior momento de sua vida. Ele tinha acabado de enterrar o pai, que morreu de apendicite, sua mãe estava inconsolável e deprimida, e sua noiva, Molly, por quem ele era apaixonado, havia lhe traído com seu melhor amigo. Revoltado e deprimido, Dylan começou a beber para fugir da realidade. E um dia, bêbado, ele pegou seu carro e saiu pela cidade como um louco, passando por cima dos canteiros de flores, subindo nas calçadas e derrubando lixeiras, até que bateu no muro de uma casa. Ele foi preso e ficou algum tempo detido. Quando se deu conta do que havia feito, Dylan se arrependeu amargamente e se envergonhou não só do que fez mas também de quem havia se tornado. Antes, ele era um jovem disciplinado e conhecido por seu bom comportamento, ele era uma pessoa agradável e um cavalheiro, fiel aos bons princípios que havia aprendido com os pais. Mas a autocomiseração o havia transformado em uma pessoa egoísta e destrutiva. Determinado a mudar, depois que foi liberado, Dylan fez as malas, se despediu da mãe e foi embora. Ele resolveu continuar seus estudos em outra cidade e passar algum tempo sozinho, longe das pessoas conhecidas e da cidade que não parava de falar dele depois do que havia acontecido.