O orfanato ficava ao fundo de uma rua sem saída, perdido na névoa branca e densa, onde apenas o grande e imponente portão de ferro se distinguia. Apesar do verão já ter iniciado, as manhãs eram sempre frias naquela região interior. O silêncio era sepulcral, não fosse pelo trotar dos cavalos e as rodas sobre a terra batida. Parecia que aquele lugar não pertencia ao resto do mundo, como se tivesse entrado numa outra dimensão.
Desci da carruagem assim que cheguei, puxando o malão pesado comigo. Respirei fundo. O ar húmido parecia mais difícil de inspirar do que me lembrava. Para lá das nuvens e das altas árvores que rodeavam o perímetro, o sol tentava dar os bons dias. Talvez se ele pudesse brilhar na sua plenitude, aquele lugar se tornasse mais alegre.
Sacudi a minha saia e ajustei a blusa antes de me aproximar do portão. Alcancei a corda e puxei-a, escutando ao longe o sino anunciar a minha chegada. Silhuetas apareceram nas janelas, provavelmente a amontoarem-se para descobrir quem estava no portão.
Não levou cinco minutos para que escutasse a porta de entrada abrir-se. Passos rápidos e pesados aproximaram-se, a sombra começou a ganhar forma, até que pude ver claramente de quem se tratava. Na verdade, mesmo de olhos fechados saberia quem era, apenas pelo som dos passos.
– Samantha Lynch – anunciou, pausadamente, como se digerisse a notícia.
O sobrolho carregou-se quando o olhar analítico examinou-me dos pés à cabeça, atentando-se especialmente ao meu rosto. Vagarosamente, abriu o portão num longo lamento que reverberou na minha alma.
– Espero não ter que te ensinar tudo outra vez. Prende o cabelo – ordenou no costumeiro tom ríspido.
Sem delongas nem questionamentos, segui a sua ordem o mais rapidamente que consegui, quase deixando o malão cair nos meus pés no processo. Quando estivesse no quarto, frente a um espelho, faria melhor.
– Quero-te em dez minutos pronta para começares as tuas tarefas. A limpeza dos banheiros está por tua conta esta semana. Todos.
O portão fechou-se num estrondo depois que o atravessei. Sem mais nada dizer, adiantou-se de volta para o interior do edifício. Este demonstrava exatamente tudo o que definia a diretora: fria e severa. Depois de um ano com professores maravilhosos, principalmente o professor Fig, voltar àquela realidade era um choque. Felizmente, a diretora nada questionou sobre ele e permitiu-me subir até ao meu antigo quarto.
Velhos hábitos dificilmente se perdem, por isso, mesmo distraída nos rostos curiosos com que me cruzava nos corredores, os meus pés levaram-me direitinha até ao quarto certo. Àquela hora, cada uma acabava de arrumar a sua cama, já vestidas e de cabelos perfeitamente arrumados. Assim como a diretora, precisávamos ser igualmente perfeccionistas.
– Samantha!
Uma cabeleira loira e encaracolada veio a saltitar na minha direção, abraçando-me assim que me alcançou. Estava ligeiramente mais alta desde a última vez que a vira, os cabelos mais dourados, tão brilhantes quanto o sol. Senti paz quando a abracei e afaguei-lhe os cabelos.
– Voltaste! Eu sabia que ias voltar para nos visitar!
Um rápido olhar ao meu redor foi o suficiente para ver que Margaret seria a única a receber-me de braços abertos. E, sinceramente, não esperava outra coisa. Sentei-me na beira da cama e recebi a minha pequena no colo. O pouco de altura que ganhara deu-lhe a facilidade de subir sem a minha ajuda.
– O que estás a fazer com o cabelo ainda solto?
Sem esperar alguma das suas elaboradas histórias, girei-a de costas e recolhi os fios, dividindo-os em três. Comecei a entrança-los enquanto me contava qualquer coisa sobre um pássaro. Nunca deixava de me impressionar a sua criatividade.
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Entre Luz e Sombras (Sebastian Sallow x FemOC)
FanficO fim do seu quinto ano em Hogwarts aproximava-se e, com ele, os exames finais. Mas não era isso que martelava na mente de Samantha Lynch, tirando-lhe noites de sono. Sem a orientação do seu professor que, até então, a acompanhara, Samantha sente-se...