Entre Luz e Sombras (Sebastian Sallow x FemOC)

O Começo do Fim

Acordei alarmada na manhã seguinte, perante o dourado diante dos meus olhos. Sentei-me num salto e tudo escureceu. Espreitei pela janela à cabeceira da minha cama e encontrei a névoa branca matinal. Uma linha brilhante no que acreditava ser o horizonte deu-me a segurança de que não tinha passado da hora. Já estava mais do que marcada pela diretora na sua lista negra, pelo que evitar mais motivos para isso seria prudente. Bom, motivos fúteis como dormir demasiado.

No entanto, ainda não tinha a explicação para o que vira quando acordara. Estaria ainda a sonhar? Uma movimentação ao meu lado chamou-me a atenção. Margaret estava espremida no espacinho que sobrava da minha cama. Os cabelos dourados estavam espalhados pela almofada. Sorri diante da visão, tocando-lhe a bochechinha redonda com leveza. Sem sombra de dúvidas, Margaret era o sol daquele lugar, sem qualquer névoa que a ofuscasse.

– Samantha? – Balbuciou a pequena.

Os olhinhos piscaram, procurando-me ainda entre o sono e a realidade.

– Bom dia, girassol.

À menção do nome, ela estendeu os bracinhos para mim e não hesitei a atender o seu pedido. Abracei-a com força, enchendo-lhe as bochechas rosadas de beijos. As risadas que recebi em troca eram música para os meus ouvidos, fazendo-me esquecer naquele breve momento que o mundo estava prestes a se desmoronar ao meu redor. Não havia magia ancestral nem maldição da Anne; não havia o ódio nem o sofrimento da Helen; não havia a responsabilidade pelo repositório por baixo de Hogwarts.

– O que vieste fazer para aqui? Não estás um pouco crescida para precisares de companhia para dormir?

– Estavas a ter pesadelos. Nunca te vi a tê-los, por isso fiquei assustada.

Beijei-lhe a testa e aconcheguei-a no meu peito.

– Está tudo bem, não te preocupes.

Apesar disso, Margaret continuou a trocar para a minha cama durante a noite, sob o mesmo motivo. Não me lembrava dos pesadelos, mas ela garantiu-me que me acalmava quando se deitava ao meu lado. Não duvidava: se durante o dia ela era a minha salvação, durante a noite não seria diferente.

Assim fui levando os dias seguintes. Dias que se tornaram semanas. Longas semanas, em que, eventualmente, acabei por descobrir o motivo dos vestidos que Margaret e outras garotas estavam a costurar. A vez de tirar-me as medidas chegou e eu aproveitei a ocasião para questionar.

– O casamento da Helen é este mês. Temos que ter isto pronto o quanto antes. Obrigada por vires nos dar mais trabalho.

Foi como um balde de água gelada num dia de inverno. Congelou-me o corpo e a alma, e fui incapaz de tecer qualquer comentário. Fui ingénua, na verdade, pois para qual outro motivo estaria um lindíssimo vestido no centro da sala de costura, num manequim sem rosto? Talvez nem o próprio objeto desejasse carregar o fardo que era preservar a sentença de morte de uma mulher de dezasseis anos. Se as coisas tivessem sido diferentes, seria a minha sentença. Era certeza que seria mais fácil de lidar. Mas lembrar que era para Helen e, um dia, para Margaret... Na minha cabeça, cometia a loucura de rasgar aquela peça até ao último pedaço. No entanto, só Helen poderia fazê-lo, a não ser que ela me pedisse.

Os enfeites começaram a ser colocados na semana do casamento, que foi quando os vestidos ficaram prontos. Por isso, tive a sorte de poder ter Margaret comigo. Quando estávamos encarregues dos arranjos de flores, aproveitei as pequeninas para decorar o cabelo dela.

– Sabes, vi um pássaro arco-íris outra vez. – Um risinho escapou-me. – Estou a falar a sério!

– Não duvido! Continua.

Ajustei as flores brancas presas nas tranças que fizera no cabelo dela naquela manhã, enquanto ela contava a sua história.

– Eles contaram-me sobre onde estiveste e que és a heroína que salvou a todos! – Sustive a respiração, intrigada com as palavras dela. No entanto, eram tão genéricas que poderiam significar qualquer coisa. – Mas que perdeste alguém no final. Por isso que voltaste, não é verdade?