É como um amor de polaroid | Heejake

O amor é um sentimento antiquado.

Se puderem deixem a estrelinha.

Boa leitura.

O amor é um sentimento antiquado.

Mas meu coração está palpitando.

Heesung tomava um sorvete sentando a beira mar. O vento suave espalhava a franja lisa e úmida que parcialmente cobria seus olhos. Encarava o horizonte além daquela linha perfeitamente desenhada entre o céu e o mar. O fim de tarde em Gangneung-si era de tirar o folego. O surfista ainda usava seu típico traje de mergulho quando parou ali para se refrescar. A prancha ainda tinha gotículas de água, assim com os alguns fios de cabelo na nuca do rapaz. Ele estava quieto, pensativo. Mordia a colher de plástico entre os dentes, distraído com a beleza de toda aquela imensidão. Fazia pouco mais de dois meses que mantinha aquele ritual. Surfava, depois sentava para ver o sol se pôr enquanto aproveitava um sorvete de creme e baunilha, um sabor sem graça, mas que lembrava ele.

Revivia aquela lembrança, sozinho.

Um suspiro longo escapou por seus lábios quando deitou o restante do corpo na areia. As mãos se apoiaram atrás da cabeça, como um travesseiro. Seus olhos se fecharam e novamente aquele rosto voltou em seus pensamentos. O som dá risada dele se misturou com as ondas batendo na areia e o coração de Heesung palpitou mais forte. O cheiro de amora penetrou em seu nariz e o sorriso bobo preencheu sua mente. Aqueles lábios perfeitamente desenhados que o Lee lembrava muito bem de como encaixava aos seus. Maldito seja o amor. Levantou bagunçando os fios úmidos, misturando a grãos de areia. Ergueu sua prancha fincando no chão para jogar o recipiente vazio do sorvete na lixeira. Dois meses era tempo suficiente para apagar da memoria um beijo que não significou nada. Mas porque seus lábios ainda formigavam sempre que pensava? Não devia ser assim, não podia. Quantos bocas na vida já havia beijado? Nem se quisesse contar poderia. Não devia ser assim. Não quando tinha o controle da própria sanidade, mas, porque sentia que perdia?

Ao longe ouviu a voz de Sunoo — seu irmão mais novo — o chamando pela terceira vez. Acenou para ele dizendo que já estava indo. A noite não ia demorar a cair, só precisava de mais alguns minutos buscando respostas para suas questões internas. Heesung sentia que ia enlouquecer.

Voltou para casa batendo a areia na soleira da porta, não queria encrenca com sua mãe por sujar tudo. Guardou a prancha favorita em meio a outras tantas, mas aquela era especial. Se comparada as outras tinha o mesmo tamanho — em largura e altura — um pouco mais claras que as demais, o formato semioval era idêntico. O que tornava especial? Um pequeno "J" desenhado em uma das quilhas*. Jake tinha feito aquilo quando estivera ali para uma aula das aulas de surf. O irmão mais velho do namorado de seu irmão, aquele garoto que não saiu da mente de Heesung desde que foi ousado o suficiente para lhe beijar em alto mar. Desde aquele dia o Shim mais velho não voltou em sua casa e muito menos entrou em contato com o Lee. Quem entraria depois de ser rejeitado?

Heesung fez o que tinha que fazer, o que achou que devia fazer. Jake teve algumas poucas aulas com ele. A rotina só lhe permitia dirigir por duas horas aos sábados. Era divertido ensina-lo. Jake sempre tão animado tirava boas risadas do seu tutor, e por terem idades semelhantes algumas coisas havia em comum. Heesung se deixou levar por um inicio de amizade, e não percebeu a liberdade que permitiu. Devia ter colocado limites desde sempre, mas algo em Jake quebrava todo o muro que ele levou bons anos para construir.

Sunoo olhava o irmão passando o dedo na marca feita por Jake na prancha com um sorriso de canto e os braços levemente cruzados acima do peito. Heesung ficava tão hipnotizado vagando em suas memorias que não notou o irmão até ele apoiar o queixo em seu ombro e olhar também.