"Nossos pensamentos podem nos libertar ou aprisionar, é nossa escolha decidir em qual direção iremos seguir."
Hannah acordou cedo naquela manhã, e se arrumou com cuidado para o trabalho. Ela escolheu uma blusa branca e uma saia preta, penteou seus cabelos longos e castanhos e prendeu em um coque desleixado, ela passou muita maquiagem para esconder as noites mal dormidas, as olheiras escuras sob seus olhos e as lágrimas que ameaçavam cair a qualquer momento. Ela se olhou no espelho e deu um suspiro, tentando ignorar a sensação de vazio em seu peito. Ela tentava manter sua rotina normal, mas cada tarefa se tornava um esforço. Seus pensamentos estavam sempre voltados para uma semana atrás, naquele dia fatídico no metrô, e ela não conseguia tirar a cena da cabeça. Sentia como se um peso enorme estivesse sobre seus ombros, e suas emoções estivessem em constante conflito.
Ela se perguntava quem era aquele rapaz que a salvou, e por que ele se importou o suficiente para tentar impedi-la de cometer um erro irreversível. Será que ele já tinha passado por algo parecido?
As perguntas a assombravam dia e noite, e ela não conseguia encontrar respostas. Ela olhava ao redor, tentando encontrar o rapaz que a salvou, mas ele parecia ter desaparecido completamente. Ela se perguntou se ele era apenas um anjo da guarda, enviado para salvá-la naquele momento crucial, Hannah queria saber por que ela merecia uma segunda chance, por que ela, em meio a tantas outras pessoas no mundo que fizeram exatamente a mesma coisa que ela, mas tiveram um final mais trágico? Ela não conseguia encontrar respostas para suas perguntas, apenas um sentimento de injustiça e confusão que a deixava ainda mais perdida e sozinha em sua dor.
A jovem estava em um estado de melancolia constante desde o incidente no metrô, ou melhor, desde que sua mãe se foi. Ela mal conseguia se concentrar em suas tarefas na pequena cafeteria no centro da cidade, onde trabalhava com Michael, seu melhor amigo, eles se conheciam desde criança, os pais dele eram donos da cafeteria onde trabalhavam. Ele notou que ela parecia perdida em pensamentos e chamou sua atenção.
- Terra chamando Hannah, você tá bem? Parece que tá pensando em algo sério. - Michael perguntou enquanto limpava a bancada.
Hannah olhou para ele, tentando forçar um sorriso em seu rosto cansado.
- Ainda estou tentando superar a perda da minha mãe. Continua difícil.
Michael soltou um suspiro e pegou a mão dela, apertando com força.
- Eu entendo, Hannah. Eu realmente entendo. E eu estou aqui por você, sabe disso, certo?
Hannah queria dizer a ele que ele não entendia, que nunca poderia entender a dor que ela estava sentindo. Mas ao invés disso, ela deu um sorriso fraco em resposta.
- Eu sei, Michael. Obrigada.
Michael sorriu gentilmente para ela antes de voltar a limpar a bancada. Hannah sentiu uma onda de gratidão e tristeza se misturarem dentro dela. Ela estava grata por ter alguém como Michael em sua vida, alguém que se importava e queria ajudá-la, mas ainda assim sentia-se perdida e sozinha em sua dor, como se ninguém pudesse realmente entender o que ela estava passando, exceto... novamente o pensamento dele passava por sua mente. Aquele estranho ainda estava presente em seus pensamentos, mesmo depois de uma semana. Ela se perguntou se o encontraria novamente e se ele ainda se lembraria dela.
De repente, um pensamento a assaltou: e se ela tivesse morrido junto com sua mãe? Ela também se lembrou do momento em que estava prestes a pular nos trilhos do metrô e sentiu uma onda de arrependimento. Como ela poderia ter feito algo tão egoísta? Ela desejou ter coragem para se perdoar, mas não conseguia. Hannah se perguntava se algum dia seria capaz de sorrir de novo sem se sentir culpada. Ela sabia que precisava de ajuda, mas não sabia como pedir. Ela sentia que sua dor era tão grande que ninguém seria capaz de entendê-la. Ela se sentia sozinha em um mundo cheio de pessoas.
A jovem mulher olhou para Michael e pensou em como ele parecia feliz, como se tivesse uma vida completa e preenchida. Ela se perguntou se algum dia seria capaz de sentir-se assim novamente, ou se a tristeza seria sua companheira constante para sempre.
Seus pensamentos foram interrompidos quando o sino da porta da cafeteria tocou, indicando a chegada de um novo cliente, ela se virou para ver que era. O ar saiu por seus pulmões, ela não acreditou no que viu: os mesmos olhos azuis penetrantes e cabelo castanho escuro que ela tinha visto na estação de metrô há uma semana. O coração de Hannah acelerou enquanto ela tentava processar o que estava acontecendo. Ela se perguntou se estava imaginando coisas, mas os olhos dele se encontraram com os dela, confirmando que ele estava realmente ali. Ela sentiu um misto de emoções: surpresa, curiosidade, medo e atração, tudo ao mesmo tempo. Por um momento, ela esqueceu a morte de sua mãe e tudo o que a atormentava. O rapaz também parecia surpreso ao vê-la ali, e os dois se encararam por um momento, sem saber o que dizer.
- Bem-vindo! – disse Michael, quebrando o transe em que os dois estavam. – O que vai querer?
- Um expresso, por favor. – Respondeu o rapaz. Sem sombra de duvidas era ele, era a mesma voz da semana passada na estação.
Hannah se sentiu aliviada por ter uma desculpa para desviar o olhar do rapaz, mas ao mesmo tempo estava um pouco desapontada. Ela não podia acreditar que ele estava ali, e ela não sabia o que fazer ou dizer. Ela se sentiu desconfortável e vulnerável, como se ele pudesse ler seus pensamentos. Mas, ao mesmo tempo, havia algo em seus olhos que a fazia sentir-se estranhamente segura e protegida.
A moça mal conseguiu se concentrar em trabalhar depois que ele entrou na cafeteria. Ela se perguntava quem ele era e o que ele estava fazendo ali.
Os minutos se passaram e Hannah continuou a trabalhar em silêncio, com a mente cheia de perguntas e incertezas. Ela esperou ansiosamente pelo momento em que o rapaz iria embora e ela poderia finalmente respirar aliviada e tentar entender o que acabara de acontecer.
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Fragmentos de Nós
RomanceHannah e Alex são duas almas quebradas, perdidas em suas próprias tristezas e mágoas. Hannah acabou de perder sua mãe em um acidente de carro, e luta para seguir em frente sem sua presença amorosa e acolhedora. Alex está se recuperando de um vício e...