- Ahrgh! Que gosto de merda na boca - encosta os dois pés no chão - Jameson já não tem o mesmo gosto de sempre.
Trinta minutos de ócio estendido depois, o homem se levanta e sai de casa. "O primeiro morador da rua 2", era esse um de seus profundos adjetivos.
Hoje não é um dia frio, e não é um dia quente, na verdade é o inferno que qualquer ser com asas, ou não, pisa. As casas e prédios seguem cinza, tornando mudas, as vozes do espiral arco-íris. Simultaneamente as flechas acabaram, e tudo tem cheiro de pólvora. Entretanto, ele está chegando, e hoje, é só café preto e um Marlboro vermelho, já ajudando a relembrar a quantidade de vezes no dia em que se faz necessário parar, pisar no freio, ingerir fumaça, e se matar, com o objetivo de viver menos amargamente. O paladar doce é só um oásis fora de um deserto que desassumidamente existe. Os olhos, só fingem não ver. A desgraça segue em volta.
Depois do ritual matinal que foi esse café, eu tenho que voltar para casa, me sinto cansado.
Em passos desanimados, quase como desejantes de sossego, eu sigo andando. Rodeiam pela rua todo o tipo de gente-bicho tentando devorar minha carne, por mais que eu por osmose já o faça.
Abro o portão, a porta, entro. Fecho a janela e como um lapso, foi possível ver o sol se abrindo por dentro das nuvens-cinzas. Caminho até a cama, levanto a colcha, e me esgueiro, me juntando ao colchão como um rato confortável na toca mais asquerosa.
Na volta à casa eu vi todo tipo de gente e bicho, todo tipo.
Alguns até sorriam.
Mas esse tipo de coisa eu não escrevo. Sou um escritor melancólico.
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O escritor melancólico
Short StoryCada escritor tem sua ótica para a escrita, se não assim fosse, teríamos sempre livros iguais em cima de situações diferentes, e vice-versa