Capítulo 29 - Se por acaso morrer do coração, é sinal que amei demais

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— Três vezes, Martín. Nesses anos todos, eu te vi ficar bêbado de verdade em exatas três ocasiões diferentes. Não que tu não fique animadinho quando bebe, mas bebaço mesmo, de cair e vomitar, foram apenas três vezes.

Martín e Luciano conversavam sobre memórias compartilhadas de juventude enquanto o brasileiro os servia da segunda taça de vinho da noite.

Os dois homens estavam sentados na areia sob o tecido macio, no qual também tinha sido posta a mesa que os servia alguns petiscos.

— Você diz isso como se fosse algo ruim.

— E não é? Meu amor, tu não aproveitou a nossa juventude enquanto podia. Agora estamos mais perto dos trinta do que dos dezoito anos. Se tu decidir começar a beber de verdade hoje, eu não vou permitir.

— Primeiro que você não tem que me permitir nada – Martín retrucou, bebericando a taça. — E segundo que se eu não comecei até hoje, não será agora que farei isso. Inclusive, se estiver ao meu alcance, eu vou é te ajudar a largar essa bebedeira ocasional sua, de verdad. Você sabia que o álcool reduz drasticamente a habilidade de atletas absorverem energia dos alimentos que ingerimos? É como se estivéssemos tomando a bebida que nos tira a força motora para o nosso trabalho.

Luciano encarava o argentino falar com atenção, enquanto Martín notava que estava entrando no seu 'modo culto' de forma natural.

Eram poucas as oportunidades nas quais o loiro se sentia à vontade para falar com mais profundidade de assuntos dos quais entendia bem. E enquanto falava, Martín parecia se recordar de que ele só se sentia confortável daquele jeito apenas quando estava sob obrigações profissionais em entrevistas, ou na presença justamente daquele brasileiro.

A segunda taça de vinho, que seguia para a sua metade, já tirava um pouco o foco do argentino e de toda a sua linha de pensamento, fazendo-o se sentir demasiadamente leve e empolgado.

— Tu quer que eu pare de beber de uma vez por todas, neném? – Luciano perguntou, levando à boca uma colher de um doce caudaloso que ele não reconheceu do que era feito.

— Quero – Martín respondeu quase que imediatamente.

— Então eu paro. Só porque tu me pediu.

O argentino esboçou a sombra de um sorriso zombeteiro no rosto.

— Se eu me lembro corretamente, você já fez essa mesma promessa pra mim quando morávamos juntos na Inglaterra. E não cumpriu.

— Eu era um adolescente, ingênuo e cheio de vontade de viver, meu bem. Não era tão responsável quanto sou agora – o brasileiro respondeu, com uma falsa expressão de inocência no rosto.

— Não sei qual é o parâmetro que você está usando pra medir seu nível de responsabilidade, mas eu diria que não mudou muita coisa dos nossos dezesseis anos pra cá.

Luciano sorriu de lado, bebendo mais um pouco do vinho, sem tirar os olhos de Martín.

— É... Talvez tu tenha razão. Nada mudou de lá pra cá. Eu continuo o mesmo homem louco de paixão por você.

O brasileiro riu quando Martín se engasgou com o pedaço de morango que comia, ao ouvi-lo dizer aquelas palavras.

— Não existe outro nesse mundo como você, outro capaz de não perder uma chance se quer, perrito. Você não perde uma oportunidade de me falar essas coisas...

— Bom, alguém tem que falar, não é mesmo, cariño? E tu tá sendo bem injusto comigo. Porque eu me lembro de ter prometido também, lá nos nossos tempos de pivetes, que eu faria o dobro por nós dois se fosse preciso. Eu te apreciaria por nós dois, eu trabalharia na cama por nós dois – Luciano deu um risinho de novo quando o argentino revirou os olhos ao escutá-lo comparar sexo a trabalho. — Eu viveria por nós dois pelo tempo que tu me quisesse. Não cumpri direitinho essa promessa?

Private Dreams (BraArg) (PT-BR)Onde histórias criam vida. Descubra agora