Sônia era a única pessoa que não conviveu comigo, e que eu conseguia respirar fundo e ouvir o que tinha para me dizer.
Desde a primeira vez ela foi incapaz de repetir os mesmos gestos das outras pessoas e isso por si só já me deixava desarmado perto dela.
Quando cheguei no quarto cedido para mim, ela estava acomodada em uma das duas camas que ficavam ali. Arrastei a toalha pelos cabelos molhados e tive sua atenção ao entrar no cômodo.
— O chuveiro tá bom? — Fiz um gesto positivo para sua pergunta.
Tinha um clima estranho. Quando cheguei, Joana não estava. Era Domingo então a irmã tinha muito trabalho para fazer na igreja... bem longe de mim. Mas a sua ausência não foi suficiente para levar com ela toda a rejeição que tinha com relação a minha presença. Aquele sentimento ficou ali, no murmúrio entre a Catarina, a outra cozinheira e a Duda. Alguns senhores também ficaram murmurando coisas. Fingi desdém aquilo. Tudo o que dissesse seria em vão porque ninguém ali, além da Sônia, me olharia com olhos amenos.
Larguei a toalha na cama e tirei um cigarro do maço. Acho que nem ela sabia como começar aquela conversa. Abri as janelas e usei o peitoril como apoio para o cinzeiro.
— Como foi a festa ontem?
— Foi boa. — respondeu sem pestanejar. — A Isa só sabe crescer. — Sorriu de um jeito abobalhado, que só existia quando falava da neta. — Foram poucas pessoas por causa do distanciamento, mas foi suficiente pra deixar ela super animada. — riu.
Não consegui acompanhar sua animação.
Por isso seu sorriso murchou até desaparecer por completo.
Sônia me analisou e suspirou antes de entrar no assunto espinhento.
— Então você levou o homem pra ver o mar?
Ou inusitado dependendo da maneira como você reage.
Compartilhei o mesmo sorriso divertido com ela.
— Joana quase me matou.
— Não liga pra ela. — Cruzou a mão no ar fazendo pouco caso de algo que me corroía por dentro. — Como foi?
Sônia não desfez o sorriso nos lábios.
— Foi... bom. — Traguei o cigarro. — Ele não me falou nada, mas... — Soltei as cinzas no cinzeiro. — era a primeira vez em muito tempo que via ele, — Suspirei. — livre. — Busquei por aquele tom acastanhado.
— Pena que isso não permanece.
Concordei devagarinho.
Ele não acordou bem naquela manhã.
O silêncio ficou entre nós por um tempo.
— Não consigo entender ela. Se não tem capacidade para compreender eles é só não ficar aqui ao invés de me usar para justificar o seu desdém.
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🏳️🌈| O Mar que Aqui Retorna
Ficción GeneralTobias é ex-presidiário e dependente químico que tenta retomar a vida no mesmo ritmo que o mundo retorna de uma pós pandemia. Através de reencontros, deseja refazer os laços com o filho e zelar pela vida de pessoas que um dia ajudaram ele, mas isso...