CAPÍTULO 04

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Sônia era a única pessoa que não conviveu comigo, e que eu conseguia respirar fundo e ouvir o que tinha para me dizer

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Sônia era a única pessoa que não conviveu comigo, e que eu conseguia respirar fundo e ouvir o que tinha para me dizer.

Desde a primeira vez ela foi incapaz de repetir os mesmos gestos das outras pessoas e isso por si só já me deixava desarmado perto dela.

Quando cheguei no quarto cedido para mim, ela estava acomodada em uma das duas camas que ficavam ali. Arrastei a toalha pelos cabelos molhados e tive sua atenção ao entrar no cômodo.

— O chuveiro tá bom? — Fiz um gesto positivo para sua pergunta.

Tinha um clima estranho. Quando cheguei, Joana não estava. Era Domingo então a irmã tinha muito trabalho para fazer na igreja... bem longe de mim. Mas a sua ausência não foi suficiente para levar com ela toda a rejeição que tinha com relação a minha presença. Aquele sentimento ficou ali, no murmúrio entre a Catarina, a outra cozinheira e a Duda. Alguns senhores também ficaram murmurando coisas. Fingi desdém aquilo. Tudo o que dissesse seria em vão porque ninguém ali, além da Sônia, me olharia com olhos amenos.

Larguei a toalha na cama e tirei um cigarro do maço. Acho que nem ela sabia como começar aquela conversa. Abri as janelas e usei o peitoril como apoio para o cinzeiro.

— Como foi a festa ontem?

— Foi boa. — respondeu sem pestanejar. — A Isa só sabe crescer. — Sorriu de um jeito abobalhado, que só existia quando falava da neta. — Foram poucas pessoas por causa do distanciamento, mas foi suficiente pra deixar ela super animada. — riu.

Não consegui acompanhar sua animação.

Por isso seu sorriso murchou até desaparecer por completo.

Sônia me analisou e suspirou antes de entrar no assunto espinhento.

— Então você levou o homem pra ver o mar?

Ou inusitado dependendo da maneira como você reage.

Compartilhei o mesmo sorriso divertido com ela.

— Joana quase me matou.

— Não liga pra ela. — Cruzou a mão no ar fazendo pouco caso de algo que me corroía por dentro. — Como foi?

Sônia não desfez o sorriso nos lábios.

— Foi... bom. — Traguei o cigarro. — Ele não me falou nada, mas... — Soltei as cinzas no cinzeiro. — era a primeira vez em muito tempo que via ele, — Suspirei. — livre. — Busquei por aquele tom acastanhado.

— Pena que isso não permanece.

Concordei devagarinho.

Ele não acordou bem naquela manhã.

O silêncio ficou entre nós por um tempo.

— Não consigo entender ela. Se não tem capacidade para compreender eles é só não ficar aqui ao invés de me usar para justificar o seu desdém.

🏳️‍🌈| O Mar que Aqui RetornaOnde histórias criam vida. Descubra agora