CAPÍTULO 17

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Amália foi embora de manhã

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Amália foi embora de manhã. Ela tava com pressa de ficar longe, encerrar ciclos, voltar pra casa. Sabia de todas as dores, traumas e mentiras que fizeram ela sair de lá, mas não conseguia entender nenhum dos seus motivos para voltar. Acho que era só para ficar longe e não seria eu que ia forçar ela a ficar.

Não tínhamos mais nada. Tudo o que um dia existiu acabou e o que ficou foi um resquício doloroso e sensível demais para que a gente ficasse tocando toda hora. Por isso deixei quietinho. Mesmo com aquela sombra imensa do meu lado, fingi que não estava ali só para que fosse mais fácil rir e manter o silêncio enquanto todo mundo falava em roda.

Os dias só capotaram na frente dos meus olhos.

— E ela só foi?

— É. — Concordei. — Ela precisava sair daqui.

Busquei por aqueles olhos castanhos do meu lado. Foi a Luena que ajudou Amália a me encontrar e a fazer a denúncia pra polícia. Só que ela não tinha a menor ideia de para onde a garota tinha ido, e a minha ficha ainda não havia caído.

— Só não pensei que ela fosse voltar pro lugar de onde ela fugiu. — Traguei o cigarro entre meus dedos.

A brisa passou por nós, causando um arrepio sobre a pele.

Luena ficou absorvida nos próprios pensamentos.

— Talvez ela esteja atrás de algo que ela não tem mais aqui.

— E o que ela poderia ter em um lugar tão cheio de... — Não consegui concluir.

Queria ter tido a capacidade de dizer que ela não precisava ir, mas eu não podia fazer nada pela gente.

— Ela sabe o que tá fazendo, Tobias. — retrucou como em uma espécie de consolo.

Suas íris eram amáveis.

Não disse nada. Nosso silêncio só foi dissipado quando sua animação tomou forma dentro de algo tão melancólico.

— Sei que isso vai parecer ridículo, mas eu passei em uma padaria e os dois estavam muito lindos. — Luena tirou uma caixa toda marrom de dentro da bolsa sobre a areia e abriu, me entregando um dos cupcakes com glacê colorido.

Nos capotes da vida, esqueci de coisas que perderam toda a importância para mim ao longo dos anos.

— O que que isso?

A garota tomou o outro para os dedos e continuou vasculhando a bolsa, de repente tinha uma vela do tamanho do dedo mindinho.

— Eu lembrei, seu bobo. — Enfiou a vela no bolo entre meus dedos. Fiquei do avesso vendo aquilo. Luena percebeu. — Hoje é 21 de Agosto, Tobias.

O Sol queimava a minha pele.

Olhei para aquele bolinho, com um aperto na garganta.

Nem pensei naquilo.

🏳️‍🌈| O Mar que Aqui RetornaOnde histórias criam vida. Descubra agora