Balançando os pés de maneira totalmente distraída na linha de frente da trincheira, Seok Matthew continuou a observar os inexperientes soldados cochicharem sobre uma vida fantasiosa ao lado de uma bela esposa, ambos repartindo o sonho de construir a sua doce moradia no final de uma vila; — como se fosse um adorável conto de fadas, narrada para um bando de crianças ingênuas. Uma tentativa de atração e distração, Matthew supôs ao ouvir os seus profundos desejos tradicionalistas. Um devaneio que certamente alimentava as suas pobres esperanças ao levar consigo o medo, a insegurança e o desespero em cada voz compartilhada na fileira de homens que possuíam uma arma carregada ocupando seus palmos sujos e trêmulos.
Algo contraditório de se ver, mas que não passava da realidade enfrentada.
— Você fez aquilo de novo, não fez? — Sung Hanbin questionou após surgir no meio da escuridão da noite, surpreendendo Matthew que quase desequilibrou de seu excelente observatório. — Até quando vai fazer isso?!
Bufando, o menor balançou as suas mãos ao se levantar da terra.
— Para de me confundir, eu não sei do que você está falando.
— Matthew, por favor, você sabe das regras. — Sung Hanbin declarou num suspiro estressado. — Já é arriscado o suficiente você visitar aquele humano todos os dias, mas se apaixonar por ele é um grave...!
— Eu não estou apaixonado! — Matthew revidou impaciente, cansado de todos sempre falarem a mesma coisa cada vez que avistam o seu rosto. — Eu não estou.
Balançando a cabeça, Hanbin exibiu em sua direção um olhar preocupado e triste.
— Se você não é capaz de acreditar em suas próprias palavras, acha que eu serei capaz? — Avançando em passos largos, Seok Matthew observou seu amigo se sentar ao seu lado. Depois, Sung Hanbin sorriu. — Não tente mentir pra mim, Matthew.
— Dentre todos os ceifeiros, você é o menos qualificado pra me cobrar alguma coisa. — Seok Matthew o relembrou com atrevimento, fazendo o mais velho concordar silenciosamente enquanto balançava sua cabeça. — Não estou interferindo em nada, eu só quero observá-lo de perto. — Ele concluiu vagamente num sussurro, virando-se de volta para os soldados.
Sung Hanbin riu.
— Você mente.
— Não minto.
Revirando os olhos, o mais velho fechou suas pálpebras ao aproveitar a brisa da noite de um céu estrelado. Seok Matthew se sentou ao seu lado, desconfortável.
— Certo, eu minto.
— Eu sei. — Hanbin disse rindo, voltando a encará-lo segundos depois com certa diversão crescente. — Seus olhos brilham diante de qualquer menção ao nome do mortal.
— Oh, está me dizendo que me pareço com você? — As palavras saem como um desprevenido relâmpago. Por fim, ele negou. — Não, não sou tão pretensioso.
Hesitando por um momento, o olhar do mais velho logo se tornou mais melancólico ao virá-lo para a paisagem pouco iluminada da divisória entre os inimigos.
Ele arfou.
— Matthew, você realmente não entende o que estou tentando te dizer? — Permanecendo em silêncio, Sung Hanbin prosseguiu: — Lembre-se meu amigo, depois que eles se vão, se não formos escolhidos para reencarnar, nós ainda iremos continuar vagando por este plano.
Silêncio.
— É... Eu sei. — Seok Matthew respondeu baixinho, detestando que sua cabeça o relembre tantas vezes daquele fato que talvez não seja capaz nem de contar, mesmo se ele quisesse.
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Palavras não Ouvidas
FanfictionPor causa de um humano, Seok Matthew esqueceu seu trabalho em meio a guerra e passou a desejar proteger a vida do único humano que ele acreditava que era merecedor da dádiva da vida: Um amável professor chamado, Kim Jiwoong.