As quatro amigas já estavam reunidas na casa da Dinah, e a reunião composta por muita conversa e bebida que faziam entre si às sextas-feiras, estava sendo um pouco diferente das outras: as garotas examinavam, com certa curiosidade, um livro de capa dura que tinham encontrado em uma mata próximo à praia, momentos antes, ao entardecer.
Hesitantes a respeito do livro, elas novamente leram o título do mesmo, cujo estava destacado em letras douradas, que brilhavam na capa de cor amarelo queimado: Cinderela.
- Julgando pelo tamanho, acho que são contos diversos de versões diferentes da história da Cinderela. – Disse Allyson, analisando o objeto colocado no meio delas, no tapete.
- Não, Ally, eu acho que não são contos. É a real história da Cinderela. – Lauren disse.
- Ou pode ser uma história mais detalhada, julgando pela espessura do livro. – Dinah olhou com atenção todo o objeto, tocando em sua capa com as pontas dos dedos.
- Mas já sabemos a história: Cinderela perde o pai, mas fica com a madrasta e as irmãs. Ela sofre com elas, e depois consegue achar um príncipe que se apaixona por ela e depois de alguns contratempos, vivem felizes para sempre. – Ally deu de ombros, pegando sua garrafa de cerveja e tomando alguns goles pelo gargalo.
- Por isso que se chama real história, Ally. – disse Normani. – Este livro diz o que realmente aconteceu, ao contrário do conto de fadas que já é pré-estabelecido como uma história sem muito sofrimento, onde a mocinha e o mocinho acabam ficando juntos no final e são felizes para sempre.
- Este livro vai me traumatizar, eu estou sentindo. – disse Lauren, fingindo estar sentindo alguma energia externa, fechando os olhos.
- Idiota! – Ally deu um tapa em seu ombro, fazendo a morena abrir os olhos e rir. – Mas, você tem razão, vai ser uma infância destruída!
- Vai ser divertido descobrir o lado pervertido da Cinderela, eu sei que vocês querem! – Dinah olhou para as amigas, exibindo um sorriso malicioso.
- Aposto que a Cinderela pretendia mesmo ter alguém calçando o sapato nela, só para a pessoa poder olhar para a calcinha dela enquanto isso... – Disse Lauren, rindo.
- Se ela estivesse mesmo usando uma calcinha! – Ally completou, dando de ombros.
- Ok, nem abrimos o livro e vocês já acabaram com a minha infância! – Normani bebeu um pouco de sua bebida.
- Ainda assim, não podemos esquecer que achamos esse livro na floresta, assim que lermos, temos que procurar o dono... – Dinah disse, ficando um pouco séria.
- Eu concordo, assim que lermos, caso haja algo legal até o final, a gente devolve. – Lauren disse, pegou e o colocou em suas pernas. – Julgando pelo peso, acredito que isso seja uma carruagem fantasiada. – ela fez uma careta.
Todas sentaram ao lado de Lauren, prontas para abrirem o livro, mas assustaram-se ao ouvirem batidas fortes na porta da casa. As quatro olharam para a porta, depois se olharam, alguém batia forte e incessantemente.
- Quem é? – Dinah gritou, levantando-se.
Em seguida, Normani e Ally também se levantaram indo atrás de Dinah, que caminhava até a porta. Lauren segurou firme o livro e levantou, o levando até a mesa ali. A curiosidade de folhear o objeto foi tão grande quanto a de saber quem batia na porta. Ainda assim, Lauren cedeu à vontade de abri-lo.
- Onde está o objeto? – uma senhora mal vestida as encarou, ela estava com roupas velhas e capuz para proteger-se da chuva. Seu humor não parecia um dos melhores, o que assustou as garotas.
- O livro? – Normani falou baixinho, amedrontada.
- Você nessa idade lê história encantada? – Ally franziu o cenho, levando um olhar de repreensão de Normani.
- Onde está o livro? – a mulher repetiu, demonstrando ainda mais sua fúria.
- Senhora, nós não temos livro algum aqui que não seja de nosso colégio. – disse Dinah.
A mulher inclinou-se um pouco para o lado a fim de olhar todo o cômodo, então arqueou a sobrancelha de modo irônico e cruzou os braços.
- Aquele livro é meu! – disse a mulher.
- Não, ele é nosso! Achado não é roubado! – disse Ally.
- Garota! – a mulher esbravejou.
- Ok, fique calma! – Dinah disse, mostrando a palma da mão para a mulher. – Nós vamos devolvê-lo para você.
Ally olhou para Dinah sem acreditar, mas foi ignorada pela maior, que pegou o objeto na mesa e logo em seguida o entregou nas mãos da mulher.
- Desculpe-nos pelo transtorno, acontece que nós o achamos na mata próximo à praia, e não tinha ninguém por perto. Então trouxemos. – Dinah disse.
- Nenhuma de vocês o abriu, não é?
- Não, senhora, não rasuramos seu livro. Apenas o mantivemos ali em cima do tapete, iriamos abri-lo momentos antes de a senhora chegar aqui. – disse Normani. – Aliás, como você o achou aqui?
- Vocês jamais entenderiam... – ela olhou nos olhos de cada uma, então finalmente saiu, levando o livro entre seus braços firmes.
As amigas soltaram o ar dos pulmões, ainda assustadas com aquela senhora macabra. Elas voltaram para a parte de dentro do local e estranharam ao notar a ausência de Lauren ali.
- Onde está a Lauren? – disse Normani.
- Deve estar no banheiro. – Dinah apontou com o queixo para a porta diante delas, nos fundos do corredor da casa.
- Ela está escondida, medrosa! – Ally zombou, indo até a porta do banheiro. – Saia daí, sua medrosa, a mulher já foi embora!
As três riram, Lauren geralmente costumava demonstrar coragem, mas tivera corrido naquele momento, algo quase raro, vindo de Lauren Jauregui.
- Vamos, Lauren, saia daí! – Ally bateu mais algumas vezes na porta, fazendo com que a mesma se abrisse um pouco.
Ally deu uma olhadela por entre a brecha da porta e pôde perceber o cômodo vazio. Ela olhou para as amigas com certa surpresa, seus olhos arregalados assustaram Normani e Dinah, que achavam que Lauren estava brincando com elas.
- Ela não está aqui! – disse Ally.
- Como não? Claro que está, aqui não tem janelas! – Dinah se aproximou.
- Não! – Ally empurrou de vez a porta, deixando à vista de ambas, o banheiro vazio. – Lauren desapareceu!
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Aos poucos, seus olhos foram se abrindo. Sua cabeça doía, não somente pelo impacto ao bater a cabeça no chão, como também pela enorme claridade no local. Ao redor, e muito próximo dali, era possível ouvir o barulho de uma cachoeira, pássaros voando e galopes incessantes cada vez mais distantes. Julgando pelo cheiro, ela estava na mata, com árvores ao redor e deitada sobre plantas úmidas.
Lauren abriu os olhos com dificuldade, e a paisagem que viu foi a mesma em que seus sentidos lhe ajudaram a prever. Ela demorou um pouco até se sentar, ainda se esforçava para lembrar o que tinha acontecido, mas nada lhe vinha à mente. Ela observou, em sua direção, por trás de várias árvores, a cachoeira forte em que espirrava litros e litros de água por segundo. O lugar coberto por árvores grossas, algumas com marcas de furos, alguns fundos e outros mais rasos, e vários pássaros voando de um galho à outro, como se a observassem.
Com dificuldade, ela levantou, bateu um pouco em sua calça jeans e sua blusa, a fim de tirar um pouco da lama de ambos, o que não teve muito sucesso. Sua cabeça latejava, então, ela fez pequenos movimentos circulares em suas têmporas, ficando alguns segundos de olhos fechados. Ela girou 180°, querendo observar o que havia atrás de si, então, ela foi pega de surpresa ao enxergar, distante dali, um castelo de tamanho imensurável; coberto de guardas e diversos cavaleiros.