Capítulo 1

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Notas: contém spoilers do livro A Balada do Felizes para Nunca

***

Nós poderíamos ir abaixo juntos, sempre e sempre. Mas, não. Não é assim. Tudo que me restou foram lembranças quebradas. Tudo ao me redor é confusão...

Evangeline parou a pena, olhando para o papel borrado pelas lágrimas. Odiava toda sua vida. Não se lembrava de nada. Era uma tela em branco. Onde estaria seu felizes para sempre, afinal? Porque não conseguia ser feliz? Olhou para a porta que ligava seu aposento ao de Apolo. Que tolice! Sempre imaginou que teria seu felizes para sempre, mas aquilo era o começo de um pesadelo. E ela não sabia como havia começado tudo.

Deitou-se na cama de dossel e fitou o teto. Poderia dar fim a tudo isso. Poderia fazer uma coisa terrível. Mas, não parecia algo que lhe daria um final feliz. Ela não era vingativa. Não lutaria de forma injusta. Sempre desejou fazer as coisas de forma correta. Mas, parecia que nada fazia sentido. "Nem pense nisso, raposinha". Pensou ter escutado. Assustou-se, olhando para os lados, mas não via nada, apenas escuridão. Devia estar delirando. Fechou os olhos novamente, tentando engolir o gosto amargo que pairava sobre sua boca. Então, sentiu o cheiro de maçãs. Era um cheiro delicioso. Abriu os olhos, para perceber que não estava em seu quarto, nem deitada em sua cama. Estava sobre um telhado, sentada, olhando o céu salpicado de estrelas e ao redor mais telhados. A visão preenchia seu horizonte.

- Pensei que nunca a veria de novo – ela pensou ter escutado.

Olhou para o lado, não viu nada, até que viu um rapaz a sua frente, jogando um objeto para cima e para baixo. Usava um gibão. Os cabelos ela não saberia dizer de cor era, porque a penumbra encobria tudo e mesmo com a luz da lua, deixava o cabelo dele com tom de prata líquida. Ele sorriu. Um sorriso de dentes afiados. Seu coração disparou, de repente. Deu cambalhotas. Adorou a visão dele, por mais que não devesse gostar. Era casada com Apolo. Deveria se lembrar disso.

- Quem é você? Onde estou? – perguntou.

- Uma pena não se lembrar de mim – respondeu, em um tom zombador, dando uma mordida no objeto que tinha na mão. O cheiro de maçã se infiltrou em suas narinas. Um cheiro delicioso, adocicado. Tão familiar – Ele fez um bom trabalho.

- Quem fez um bom trabalho? – indagou confusa.

- Isso não vem ao caso – respondeu de forma ácida.

Então, o cenário mudou ao seu redor. O misterioso rapaz estendia a mão para ela. Estavam em um salão de baile? Olhou ao redor, não havia ninguém. A luz deixava as paredes em tons dourados. O chão era quadriculado, em tom preto e branco. Percebeu que usava um vestido rodado, em tom fúcsia. O rapaz a sua frente tinha um olhar enganadoramente triste, tão azuis. Os cabelos loiros. O rosto anguloso. Vestia um gibão cor de vinho e calças de montaria bege. Sapatos com fivelas. Ele era mortalmente belo. Ela sentia um perigo no ar. Seu sorriso então a desarmou. Era afiado, mas havia algo de familiar ali.

- Quer dançar, Evangeline?

Ela queria perguntar como ele sabia seu nome, mas apenas aceitou a dança, de forma inconsciente, se movendo para ele. Eles valsaram pelo salão. A melodia que tocava no ar era de um violino melancólico. Ela se perguntava onde poderia estar o músico e seu instrumento. Então, seus olhos pousaram no rosto esculpido, de anjo, daquele rapaz que a guiava. Olhava diretamente para os olhos dele, sem conseguir desviar.  Ele parecia preencher todo seu ser. Era estranho como seu corpo se movia com o dele de forma perfeita. E como ela ansiava por ele, de uma forma que era tão dolorosa. Recostou sua cabeça em seu peito, sentindo-se pela primeira vez segura. Só poderia ser um sonho, realmente. Não se sentia segura, há muito tempo. Mas, ali, em seus braços, sentia-se flutuar. E sentia seu coração bater. Bater tão rápido, como asas de beija-flor. Fechou os olhos comovida. Então, ao abrir, estava mais uma vez, sozinha em sua cama.

O que não daria para ter aquele final feliz. Talvez, eles não existissem, de verdade.

Um final feliz - Era uma vez um coração partidoOnde histórias criam vida. Descubra agora