INTRODUÇÃO
Muito se tem falado nas origens da Umbanda, havendo
diversas correntes de pensamento, cada uma interpretando o
assunto da maneira que mais fala à sua alma. Não se pode dizer
quem está certo ou errado, pois todos, de algum modo, estão
corretos.
A Umbanda, seja qual for a denominação aplicada – popular,
esotérica, carismática, omoloko etc. –, é simplesmente a Umbanda,
com ritualísticas diferentes.
A essência da espiritualidade pode estar travestida de
diversas maneiras; o importante para o Plano Astral é que sejam
atingidos os objetivos de determinada comunidade e, pouco a
pouco, de maneira simples e não contundente, sejam descortinados
os véus da Senhora da Luz Velada, para que, por meio do esforço,
do amor e da dedicação, a percepção do sagrado possa ser
desenvolvida, dentro e fora do indivíduo, e ele se torne um ser mais
consciente de si mesmo.
Como diz mestre Itaoman: “Não existe, para o momento
atual, verdade absoluta, pois até mesmo um relógio parado está
certo duas vezes ao dia”.
Serão apresentados, ao longo desta obra, alguns conceitos
teóricos fundamentais sobre os Orixás, as Sete Linhas da Umbanda,
o sincretismo religioso, a implantação da Umbanda no Brasil, a
mediunidade, as origens do vocábulo “Umbanda” e as entidades
espirituais que se manifestam no terreiro. Além disso, serão
explicadas algumas práticas do cotidiano dos terreiros, bem como
alguns procedimentos dos médiuns umbandistas, tais como: o
comportamento da corrente mediúnica, os rituais, a saudação aosOrixás e às entidades espirituais, os banhos ritualísticos, as
defumações e os descarregos e o uso de velas, tabaco, curiadores,
guias, ponteiros, pemba e toalha ritualística. Para finalizar, haverá
uma série de importantes orações e trabalhos que o médium pode
realizar em seu dia a dia, com o intuito de obter proteção para seu
lar, seus familiares e amigos. Principalmente para os iniciantes, é
apresentado o Hino da Umbanda, bem como as datas
comemorativas e o juramento do umbandista. Também não foram
esquecidos alguns temas polêmicos do cotidiano dos terreiros,
como: guias amarrados, briga de orixás, a atuação de Exu, a
semana santa e o dia de finados.
O mais importante na vida de um médium de Umbanda é a
caridade, o resto é mero adereço. Todos têm a obrigação de voltar
para o outro lado da vida melhor do que entraram. Para isso, é
necessário extirpar a inveja, o orgulho e a vaidade, sentimentos que
corroem um terreiro. Se seu pai espiritual é escravo da vaidade e
utiliza o terreiro para fins espúrios, fuja dele. Existem milhares de
terreiros e, com certeza, haverá algum com o qual você não irá se
decepcionar. Nunca ataque. Defenda-se, pois no Astral a lei é
inexorável e não há liminares, habeas corpus e apelações. Então,
pense antes de fazer o mal. Nunca esconda suas faltas atrás da
capa de uma entidade espiritual.
Deseja-se que este Manual de Médium de Umbanda possa
ser útil, a fim de trazer um pouco mais de esclarecimento quanto ao
cotidiano da querida Umbanda.
Saravá!UMBANDA: A SENHORA DAS MIL FACES
Escrever sobre a Umbanda não é tarefa para leigos,
repórteres ou curiosos. Estes, por falta de percepção, sensibilidade
ou de conhecimento vêm a Umbanda como um emaranhado de
práticas oriundas das mais diversas religiões. Jamais pararam para
se perguntar por que um culto, por eles mesmos tratado como
fetichista, pode atrair milhões de pessoas. Diriam até que seria pelo
aspecto etnocultural das mais diversas classes socioculturais. Que
mistério há por trás desses ritos que consideram confusos e
destituídos de bom senso? Por que tantos a atacam? É preciso
conhecer seus aspectos fenomênicos, magísticos, mediúnicos,
ritualísticos, doutrinários e filosóficos, nas suas causas. É preciso
também que se tenha vivência do dia-a-dia de seus terreiros e
templos. Raros, raríssimos são os que têm essa experiência.
Embora a Umbanda se abra num leque de mil cores, muitos se
interessam apenas pela que têm afinidade, certos de que é a
melhor. Outros pretendem impor um determinado ritual porque é
aquele que lhes traz mais benefícios.
Quem quiser, apenas de longe, saber o que a Senhora das
Mil Faces representa para o povo brasileiro, basta ver o que
acontece nas praias na passagem do ano. Lá encontram-se ricos,
pobres, brancos, negros, mestiços, todos juntos acendendo suas
velas e ofertando flores a Yemanjá, pedindo que o ano lhes seja
propício. Esta manifestação colossal é peculiar, é própria da fé ou
da mística umbandista. Muitos se aproximam da Umbanda, pois
pressentem sua força, sua magia, seu poder de transformação. A
Umbanda aceita e respeita as necessidades de cada grupo, naquilo
que os faz sentirem-se unidos ao Sagrado. Por isso Ela parece tão
variada em suas manifestações, pois cada unidade-terreiro exprime
com fidelidade as necessidades daqueles que ali acorrem. Para
muitos, esta maleabilidade é confundida com uma mistura
desconexa, mas na verdade apenas traduz, em seus aspectos maisprofundos, um motivo: atingir a síntese do conhecimento humano,
lembrar a todos que, como Caboclo, Preto Velho e Criança, também
somos espíritos eternos e imortais e que cada existência nos serve
de aprendizado e aperfeiçoamento para vidas futuras, caminhando
rumo à nossa realidade. Esta é a Umbanda de Todos Nós.
As tentativas de codificação da Umbanda tem sido
infrutíferas, pois esta religião abarca um grande número de
consciências de todos os níveis sociais, culturais e intelectuais.
Enquanto para alguns os cultos mais tradicionais falam mais alto ao
seu grau de consciência, outros se encontram espiritualmente nos
ritos esotéricos e iniciáticos umbandistas. A Umbanda é uma só,
independente do tipo de terreiro ou culto. O Astral Superior atende a
todos que a ela recorrem. Para entender melhor basta lembrarmos
das sábias palavras do Caboclo das Sete Encruzilhadas:
A Umbanda é a manifestação do espírito para a
caridade; da mesma forma como Maria ampara nos
braços o filho querido, também serão amparados os
que dela se socorrerem.RELIGIÃO E ESPIRITUALIDADE
Tarsila Costa de Oliveira[1]
Para entender melhor os conceitos e diferenciar religião de
espiritualidade, de forma simples, pode-se dizer que a religião surge
como um meio para alcançar a espiritualidade; já a espiritualidade é
a busca por compreender o sentido da vida, da transcendência,
aquilo que de fato se é.
Sempre que se fala em religião, remete-se à etimologia
popular, a qual atribui a origem da palavra latina “religare” à religião,
religando o homem a Deus. Embora, para muitos estudiosos, essa
etimologia seja falsa, esse é o primeiro degrau de consciência,
quando se começa a estudar religião. Esse sincretismo popular traz
sentido para muitos que entram nas religiões na busca por
espiritualidade.
Então, qual seria a etimologia correta de religião? Do latim
“religio”, significa reverência, respeito. A palavra deriva de
“relegere”, em que o termo “re“ significa reiteração, ou seja, “de
novo”, e está associado ao verbo “legere”, “ler”, formando o sentido
de “tomar com atenção”. Dessa forma, pode-se dizer que uma
pessoa vive a religião quando cuida rigorosamente de algo que deve
ser cultuado.
Perceba que, para um ser tornar-se mais espiritualizado que
outro, ele não precisa ser de uma religião específica, pois a religião
é apenas uma das inúmeras possibilidades existentes na busca pelo
sagrado.
A Umbanda está fundamentada em quatro pilares: religião,
ciência, filosofia e arte; são esses quatro pilares que conferem
equilíbrio ao ser para seguir no caminho da espiritualidade.
Religião
Pode-se dizer que é a porta de entrada para o contato
com o universo espiritual. Por meio de sua liturgia, os
consulentes e médiuns passam a ter contato de forma
mais objetiva com o mundo espiritual. Vejam que se diz
mundo espiritual e não espiritualidade, pois a
espiritualidade é algo que desperta de dentro para fora.
Dessa forma, a liturgia, por meio de seu
condicionamento, ajudará nesse despertar.
Ciência
Ainda de forma objetiva, traz o conhecimento necessário
para se viver, na matéria, em harmonia com o mundo
espiritual. Busca a realidade e os aspectos extrafísicos,
ou seja, aquilo que vai além deste mundo convencional.
Filosofia
Quando se adentra no aspecto filosófico, começa-se a
ter consciência do modo como se deve viver. Não é
possível adentrar nesse aspecto sem ter a religião e a
ciência presentes e claras. A filosofia transcende aquilo
que é lógico e exato e passa a tratar os aspectos mais
subjetivos, que variam de acordo com cada ser, pois as
necessidades são diferentes para cada um. Quando se
adentra na doutrina filosófica, começam a ser feitas
verdadeiras transformações internas, as quais refletem
significativamente na forma como se age. Passa-se a
respeitar as pessoas como elas são, pois pela
compreensão é possível entender que cada ser tem um
grau de consciência.
Arte
Este pilar integra-se aos outros três e, assim como a
filosofia, trata também dos aspectos subjetivos. A arte
busca despertar o sentir. Na liturgia religiosa, por
exemplo, a arte é expressa por pontos cantados, sons
emitidos pelas entidades, pembas riscadas etc. CadaOS ORIXÁS
O pesquisador S. O. Biobaku diz que o termo “yorùbá” aplica-
se a um grupo linguístico que abrange milhões de pessoas. Além da
linguagem comum, os yorùbá estão unidos por uma mesma cultura
e tradições de sua origem comum, na cidade de Ifé.
Pierre Verger cita que não existe, em todo o território yorùbá, um
panteão de orixás bem hierarquizado, único e idêntico. As variações
locais mostram que determinados orixás, os quais ocupam uma
posição dominante em algumas localidades, estão totalmente
ausentes em outras. Em Oyó, Xangô é o mais cultuado. Esse
mesmo culto não existe em Ifé, onde uma divindade local, Oramfé,
ocupa esse lugar com o poder do trovão. O culto de Oxum é
bastante acentuado na região de Ijexá, porém não existe na região
de Egbá, onde Yemanjá é soberana. A mesma Yemanjá não é
conhecida em Ijexá. A posição de todos esses orixás depende da
história da localidade onde aparecem como protetores. Xangô era,
em vida, o terceiro rei de Oyó. Odudua, fundador da cidade de Ifé,
cujos filhos tornaram-se reis de outras cidades yorùbá, conservou
um aspecto mais histórico e até mesmo mais político do que divino.
A posição ocupada na organização social pelo orixá pode ser
bem diferente, quando se trata de uma cidade onde se ergue um
palácio real, àáfin, ocupado por um rei, aladé, com direito a usar
uma coroa, adé, com franjas de pérolas, ou onde existe um palácio,
ilé Olójà, a casa do senhor do mercado de uma cidade, cujo chefe é
um Balé que só tem direito a uma coroa mais modesta, denominada
àkòró. Nessas duas situações, o orixá participa no reforço do poder
do rei ou do chefe.
O culto yorùbá dos Orixás está associado a um conceito
familiar, ou seja, a uma família numerosa, oriunda de um mesmo
antepassado, que engloba os vivos e os mortos. O Orixá seria, a
priori, um ancestral com características divinas, o qual, em vida,
estabeleceu vínculos que lhe garantiram uma ascendência sobredeterminadas forças da natureza, como o trovão, o vento, as águas,
ou, ainda, assegurando-lhe a possibilidade de exercer certas
atividades, como a caça e a metalurgia, ou, ainda, adquirindo o
conhecimento das propriedades das plantas e suas aplicações.
Quanto ao poder, axé, do ancestral, o Orixá teria, após sua morte, a
prerrogativa de encarnar temporariamente em um de seus
descendentes, durante um fenômeno de possessão por ele
provocada.
A transição da vida terrena para a condição de orixá dessas
divindades, detentoras de um poderoso axé, ocorre em geral em um
momento de paixão, cujas lendas conservaram a lembrança. O
Orixá é uma força pura, axé imaterial que só se torna perceptível
aos seres humanos ao incorporar em um de seus descendentes,
escolhido pelo Orixá, e que é denominado elégùn, aquele que
possui a prerrogativa de ser “montado” por ele. Esse é o veículo que
possibilita a volta do orixá para a Terra a fim de saudar e receber as
homenagens de seus descendentes que o evocaram.
O povo yorùbá possui uma mitologia complexa, com a
divinização dos
elementos e fenômenos naturais. Assim, a concepção mais
religiosa é a divinização do Firmamento.
Nina Rodrigues[2] assim se pronuncia:
Do consórcio de Obatalá, o Céu, com Odudua, a terra,
nasceram dois filhos: Aganju e Yemanjá (Aganju, a terra
firme, e Yemanjá, as águas). Desposando seu irmão
Aganju, Yemanjá deu à luz Orungan, o ar, as alturas, o
espaço entre o Céu e a terra. Orungan concebe incestuoso
amor por sua mãe e, aproveitando a ausência paterna, a
raptou e violou. Aflita, entregue a violento desespero,
Yemanjá desprende-se dos braços do filho e foge
alucinada, desprezando as infames propostas de
continuação às escondidas daquele amor criminoso.
Orungan a persegue, mas, prestes a deitar-lhe a mão,
Yemanjá cai morta. Desmesuradamente cresce-lhe o corpo
e dos seios monstruosos nascem dois rios, que adiante sereúnem, constituindo uma lagoa. Do ventre enorme que se
rompe nasceram:
DADÁ, deusa ou Orixá dos vegetais;
XANGÔ, deus do trovão;
OGUM, deus do ferro e da guerra;
OLOKUM, deus do mar;
OLOCHÁ, deus dos lagos;
OYÁ, deusa do rio Niger;
OXUM, deusa do rio Oxum;
OBÁ, deusa do rio Obá;
OKÔ, Orixá da agricultura;
OXOSSI, deus dos caçadores;
AJÊ-XALAGÉ ou AJÊ-XALUNGÁ, deus da saúde;
XANKPANÃ ou XAPANÃ, deus da varíola;
ORUM, o sol;
OXU, a lua.
Dessa forma, caberia a Orungan, o Édipo africano, por seu
relacionamento incestuoso com Yemanjá, a paternidade dos demais
orixás e não ao seu pai Aganju. Também, Orungan tenta manter e
continuar esse romance, criando, assim, o primeiro triângulo
amoroso da história africana: deuses com paixões humanas.
Essas primeiras observações têm o intuito de mostrar que
não existe um culto generalizado aos Orixás, não apenas entre o
povo yorùbá, mas na África toda; na verdade, trata-se de um culto
local com características bem definidas, em função de fatores
sociais e familiares.
A história religiosa da etnia negra no Brasil teve início com a
perda dos valores adquiridos em solo africano, em função da
impossibilidade de culto aos Orixás na senzala.
Os negros que vieram para o Brasil pertenciam a civilizações
diferentes e eram oriundos das mais diversas regiões do continente
africano. No entanto, suas religiões, quaisquer que fossem, estavam
ligadas a certas formas familiares ou de organização de clãs, a
meios biogeográficos especiais, como a floresta tropical ou a savana
e a estruturas aldeãs e comunitárias. O tráfico negreiro violou tudo isso e os escravos foram obrigados a adaptar-se a uma sociedade
fundamentada no patriarcalismo, no latifúndio e no regime de castas
étnicas.
Os compradores de escravos, movidos por interesses
mesquinhos e mercantilistas, procuravam comprar aqueles que não
pertenciam à mesma nação, separando, muitas vezes, as mães de
seus filhos e marido. Era comum um fazendeiro comprar um lote de
escravos minas, juntamente com congos, guinés ou angolas. Essa
estratégia tinha por objetivo diminuir o risco de haver uma rebelião
ou trama de fugas. Surgiu então a primeira dificuldade da prática de
um culto, em função das várias línguas faladas pelos negros de uma
mesma senzala.
Roger Bastide cita que não era possível aos yorùbá nem aos
daomedanos conservar sua religião familiar, nem aos bantos
continuar o culto de seus ancestrais. Então, a solidariedade deixou
de acontecer no plano doméstico para tornar-se uma solidariedade
puramente étnica. Contudo, os valores religiosos não foram tocados
por isso, apenas restringiram seu domínio de aplicação.
A manutenção de parte dos valores religiosos negros,
durante o período escravagista, ocorreu em razão da chegada, nos
vários lotes de escravos, de adivinhos, médicos-feiticeiros e
sacerdotes. Estes, mais ligados aos ritos africanos, souberam, ao
longo do tempo, unir de maneira adequada os negros de várias
nações e línguas diferentes naquilo que tinham em comum: a
crença nos orixás, inkices ou voduns.
Esse foi, sem dúvida, o primeiro sincretismo religioso da etnia
negra no Brasil, pois, como já escrito, em sua pátria e
especificamente em determinadas regiões, havia um culto particular
a determinado orixá, e essa especificidade era impossível de ser
revivida em solo brasileiro, pois, na senzala, era necessário cultuar
um grupo de orixás. Esse culto comum, além de ser o primeiro
esboço de síntese, era um elo de resistência e solidariedade entre
os cativos.
Na África, as divindades eram cultuadas em benefício de toda
a comunidade, de criadores ou de camponeses; a elas era pedida a
fecundidade dos rebanhos, das mulheres e das colheitas. Comopedir isso no Brasil? Seria melhor implorar pela esterilidade e a
seca, pois boas colheitas implicariam mais trabalho estafante.
As próprias condições impostas pelo branco levavam a outra
face do sincretismo com o Orixá, à primeira seleção dos deuses.
Enquanto, na África, Ogum era o patrono dos ferreiros ou o protetor
das ferramentas agrícolas de ferro, aqui essa função perdia seu
sentido, pois eram desses instrumentos que os escravos se
utilizavam Sol a sol, no trabalho cruel e desumano, além de ser o
ferro o material usado nas correntes que os mantinham presos.
Assim, Ogum assumiu a função de deus da guerra e da vingança,
que os libertaria.
A sobrevivência dos cultos africanos tornou-se possível no
sincretismo orixá-santo católico, que inicialmente tinha a intenção de
fazer desaparecer as tradições religiosas africanas. Esse intento foi
se frustrando, com o passar dos anos. A Igreja católica aceitava a
escravidão em determinadas condições de barganha: tomava-se o
corpo do escravo e, em troca, recebia ele uma alma. Ele seria
obrigatoriamente evangelizado, em sua chegada ao Brasil.
Simultaneamente, deveria aprender as rezas latinas, receber o
batismo, assistir às missas e tomar os demais sacramentos.
Quando a Igreja percebeu que seria impossível eliminar essa
profunda religiosidade, passou a estimular o sincretismo com o
catolicismo, pois muitos dos costumes negros podiam ser adaptados
aos católicos.
Roger Bastide[3] diz:
Para poder subsistir durante todo o período escravagista,
os deuses negros foram obrigados a dissimular-se por trás
da figura de um santo ou de uma virgem católica. Esse foi
o ponto de partida do casamento entre o cristianismo e a
religião africana em que, como acontece em todas as
uniões, ambas as partes deviam igualmente mudar de
forma profunda, para adaptar-se uma à outra.
A Igreja interferiu diretamente nesse processo. Os senhores da
fazenda, percebendo que o negro apresentava um rendimento maior
quando tinha lazer, passaram a incentivar a organização de festasque, obrigatoriamente, coincidiam com os dias consagrados aos
santos padroeiros das famílias dos fazendeiros ou dos santos
patronos dos escravos, como São Benedito e Santa Ifigênia, santos
negros. Esse sincretismo ocorreu com mais facilidade onde os
santos católicos apresentavam correspondência muito próxima com
as características dos orixás, tais como São Jorge viril, a Virgem
maternal etc.
Muitas vezes, os senhores da fazenda, por acatarem
cegamente as orientações da Igreja, não percebiam que, diante do
humilde altar católico no muro da senzala, onde os negros podiam
dançar ritualisticamente sem castigos, cultuavam, na verdade, nos
passos de dança, os mitos dos orixás, voduns ou inkices, e não a
Virgem ou os santos.
Segundo as palavras de Edison Carneiro:[4]
Entre todos os povos negros chegados ao Brasil, talvez
com a simples exceção dos malês, eram, sem dúvida, os
portadores de uma religião mais elaborada, mais coerente,
mais estabilizada. A sua concentração na cidade de
Salvador, em grandes números, durante a primeira metade
do século passado, deu-lhes a possibilidade de conservar,
quase intactas, as suas tradições religiosas. Dessas
tradições decorrem os candomblés, atualmente já em
franco processo de nacionalização, de adaptação à
sociedade brasileira, uma ameaça, por isso mesmo, à
pureza africana de culto.
Com o passar do tempo, o culto de nação africana sofreu
forte adaptação, até perder suas características para a quase
totalidade dos adeptos do Candomblé.
O termo candomblé significa barracão e não é encontrado na
África como culto religioso. Segundo Edison Carneiro, é o lugar em
que os negros da Bahia realizam suas festas públicas anuais das
seitas africanas. O autor cita ainda que, em menor escala, são
utilizados os nomes terreiro, roça e aldeia.
O Candomblé tornou-se, então, o substituto da aldeia
africana e, nesses locais, os negros de diferentes nações e regiões
pedir isso no Brasil? Seria melhor implorar pela esterilidade e a
seca, pois boas colheitas implicariam mais trabalho estafante.
As próprias condições impostas pelo branco levavam a outra
face do sincretismo com o Orixá, à primeira seleção dos deuses.
Enquanto, na África, Ogum era o patrono dos ferreiros ou o protetor
das ferramentas agrícolas de ferro, aqui essa função perdia seu
sentido, pois eram desses instrumentos que os escravos se
utilizavam Sol a sol, no trabalho cruel e desumano, além de ser o
ferro o material usado nas correntes que os mantinham presos.
Assim, Ogum assumiu a função de deus da guerra e da vingança,
que os libertaria.
A sobrevivência dos cultos africanos tornou-se possível no
sincretismo orixá-santo católico, que inicialmente tinha a intenção de
fazer desaparecer as tradições religiosas africanas. Esse intento foi
se frustrando, com o passar dos anos. A Igreja católica aceitava a
escravidão em determinadas condições de barganha: tomava-se o
corpo do escravo e, em troca, recebia ele uma alma. Ele seria
obrigatoriamente evangelizado, em sua chegada ao Brasil.
Simultaneamente, deveria aprender as rezas latinas, receber o
batismo, assistir às missas e tomar os demais sacramentos.
Quando a Igreja percebeu que seria impossível eliminar essa
profunda religiosidade, passou a estimular o sincretismo com o
catolicismo, pois muitos dos costumes negros podiam ser adaptados
aos católicos.
Roger Bastide[3] diz:
Para poder subsistir durante todo o período escravagista,
os deuses negros foram obrigados a dissimular-se por trás
da figura de um santo ou de uma virgem católica. Esse foi
o ponto de partida do casamento entre o cristianismo e a
religião africana em que, como acontece em todas as
uniões, ambas as partes deviam igualmente mudar de
forma profunda, para adaptar-se uma à outra.
A Igreja interferiu diretamente nesse processo. Os senhores da
fazenda, percebendo que o negro apresentava um rendimento maior
quando tinha lazer, passaram a incentivar a organização de festasque, obrigatoriamente, coincidiam com os dias consagrados aos
santos padroeiros das famílias dos fazendeiros ou dos santos
patronos dos escravos, como São Benedito e Santa Ifigênia, santos
negros. Esse sincretismo ocorreu com mais facilidade onde os
santos católicos apresentavam correspondência muito próxima com
as características dos orixás, tais como São Jorge viril, a Virgem
maternal etc.
Muitas vezes, os senhores da fazenda, por acatarem
cegamente as orientações da Igreja, não percebiam que, diante do
humilde altar católico no muro da senzala, onde os negros podiam
dançar ritualisticamente sem castigos, cultuavam, na verdade, nos
passos de dança, os mitos dos orixás, voduns ou inkices, e não a
Virgem ou os santos.
Segundo as palavras de Edison Carneiro:[4]
Entre todos os povos negros chegados ao Brasil, talvez
com a simples exceção dos malês, eram, sem dúvida, os
portadores de uma religião mais elaborada, mais coerente,
mais estabilizada. A sua concentração na cidade de
Salvador, em grandes números, durante a primeira metade
do século passado, deu-lhes a possibilidade de conservar,
quase intactas, as suas tradições religiosas. Dessas
tradições decorrem os candomblés, atualmente já em
franco processo de nacionalização, de adaptação à
sociedade brasileira, uma ameaça, por isso mesmo, à
pureza africana de culto.
Com o passar do tempo, o culto de nação africana sofreu
forte adaptação, até perder suas características para a quase
totalidade dos adeptos do Candomblé.
O termo candomblé significa barracão e não é encontrado na
África como culto religioso. Segundo Edison Carneiro, é o lugar em
que os negros da Bahia realizam suas festas públicas anuais das
seitas africanas. O autor cita ainda que, em menor escala, são
utilizados os nomes terreiro, roça e aldeia.
O Candomblé tornou-se, então, o substituto da aldeia
africana e, nesses locais, os negros de diferentes nações e regiõesreuniam-se para cultuar vários Orixás, em um mesmo barracão.
Foram efetuadas engenhosas adaptações sincréticas pelos
negros africanos em solo brasileiro, a fim de preservar suas
tradições.
LENDAS YORÙBÁ SOBRE OS ORIXÁS
As diversas lendas sobre os Orixás são muitas vezes
conflitantes, em função da transmissão oral de fatos reais, porém
acontecidos em tempos muito distantes, ou fatos permeados de
fantasia. Assim, torna-se necessário, ao analisar esses fatos,
lembrar a mitologia greco-romana, com a qual as lendas
estabelecem, algumas vezes, similaridade, pois os seres divinos
demonstram atitudes e necessidades humanas.
Será feita, neste capítulo, uma abordagem sobre as lendas
yorùbá dos orixás mais cultuados na Umbanda. Para isso, recorreu-
se a Pierre Catumbi Verger, que viveu durante dezessete anos em
sucessivas viagens, desde 1948, pelos lados ocidentais da África,
em terras yorùbá, onde tornou-se babalawô, por volta de 1950,
quando recebeu de seu mestre Oluwo o nome Fatumbi.
Yemanjá
Sobre Yemanjá já foi escrito anteriormente, citando a lenda
da criação, relatada por Nina Rodrigues. Verger[5] cita, em seu livro
Orixás:
Yemanjá (Yemoja), cujo nome deriva de Yéyé omo ejá
(mãe cujos filhos são peixes) é o orixá da nação Egbá;
Yemanjá seria filha de Olóòkum, deus (em Benin) ou deusa
(em Ifé) do mar.
Em uma história de Ifé, ela aparece casada pela primeira
vez com Orunmilá, senhor das adivinhações, depois com
Olofin, rei de Ifé, com o qual teve dez filhos, cujos nomes
parecem corresponder a tantos outros orixás.
Segundo Verger, Yemanjá no novo mundo subdivide-se em
sete:Yemawô, que na África é mulher de Oxalá;
Yamassê, mãe de Xangô;
Ewa (Yewa), rio que na África corre paralelo ao rio Ògùn e
que frequentemente é confundido com Yemanjá;
Olossá, a lagoa africana na qual deságuam os rios;
Yemanjá Ogunté, casada com Ogum Alabedé;
Yemanjá Assabá, que manca e fia algodão;
Yemanjá Assessu, muito voluntariosa e respeitada.
Ogum
Adékòyà explica que Ogum é considerado pelos yorùbá sob
dois aspectos: como divindade e como herói civilizador, e estes
aspectos estão integrados na cultura desse povo, bem como em sua
visão de mundo.
Ogum possui privilegiado poder de transformação, que se
manifesta em seu trabalho com o ferro e o fogo, bem como detém o
poder de articular, em seu panteão, o sistema de crenças, códigos
gestuais, práticas e celebrações rituais.
De acordo com Verger, Ogum, como personagem histórico,
teria sido o filho mais velho de Odudua, o fundador de Ifé. Era um
temível guerreiro que brigava sem cessar contra os reinos vizinhos.
Dessas expedições ele trazia sempre um rico espólio e numerosos
escravos. Guerreou contra a cidade de Ará e a destruiu. Saqueou e
devastou muitos outros estados e apossou-se da cidade de Irê,
matando o rei e lá instalando seu próprio filho no trono, regressando
glorioso, usando ele mesmo o título de Oníìré. Por razões
ignoradas, Ogum nunca teve direito a usar uma coroa (adé), feita
com pequenas contas de vidro e ornada por franjas de miçangas,
dissimulando o rosto, emblema de realeza para os yorùbá. Foi-lhe
autorizado usar apenas um simples diadema, chamado àkòró e isso
lhe valeu ser saudado, até hoje, pelos nomes Ogún Oníìré e Ògún
Aláàkòró, inclusive no Novo Mundo, tanto no Brasil como em Cuba,pelos descendentes dos yorùbá trazidos para o continente
americano.
Ogum teria sido o mais enérgico dos filhos de Odudua e foi
ele quem se tornou o regente do reino de Ifé, quando Odudua, já
bastante idoso, ficou temporariamente cego.
Ogum decidiu, depois de numerosos anos longe de Irê, voltar
para visitar seu filho. Infelizmente, as pessoas da cidade
celebravam, no dia de sua chegada, uma cerimônia em que os
participantes não podiam falar, sob nenhum pretexto. Ogum tinha
fome e sede; viu vários potes de vinho de palma, mas ignorava que
estivessem vazios. Ninguém o havia saudado ou respondido às
suas perguntas. Ele não era reconhecido no local por ter ficado
ausente durante muito tempo. Ogum, cuja paciência era pequena,
enfureceu-se com o silêncio geral, considerado por ele ofensivo.
Começou, então, a quebrar, com golpes de sabre, os potes e, logo
depois, sem poder se conter, passou a cortar a cabeça das pessoas
mais próximas, até que seu filho apareceu, oferecendo-lhe suas
comidas prediletas, como cães, caramujos, feijão regado com azeite
de dendê e vinho de palma. Enquanto ele se alimentava, os
habitantes de Irê cantavam louvores e não faltava a menção a
Ògúnjajá, derivado da frase Ògun je ajá (Ogum come cão), o que
lhe valeu o nome de Ogúnjá. Satisfeito e mais calmo, Ogum
lamentou seus atos de violência e disse que já vivera o suficiente.
Baixou a ponta de sua espada em direção ao chão e desapareceu
pela terra adentro com um barulho assustador.
Ogum é único, mas, em Irê, diz-se que ele é composto de
sete partes. “Ogún méjeje lóòde Iré” é uma frase que faz alusão às
sete aldeias hoje desaparecidas, que existiriam em volta de Irê. O
número sete é, pois, associado a Ogum e ele é representado, nos
lugares que lhe são consagrados, por instrumentos de ferro, em
número de sete, catorze ou vinte e um, pendurados em uma haste
horizontal, também de ferro: lança, espada, enxada, facão, ponta de
flecha e enxó, símbolos de suas atividades.
A vida amorosa de Ogum foi muito agitada. Ele foi o primeiro
marido de Oyá, aquela que se tornaria mais tarde esposa de Xangô.
Teve, também, relações amorosas com Oxum, antes que ela fosse
viver com Oxóssi e com Xangô; com Obá, a terceira mulher deXangô; e Eléfunlósunlóri, aquela que pinta sua cabeça com pós
branco e vermelho, a mulher de Órisà Oko. Teve diversas aventuras
galantes durante suas guerras, tornando-se, assim, pai de diversos
orixás, como Oxóssi Oranian.
A importância de Ogum vem do fato de ser ele um dos mais
antigos dos deuses yorùbá e também em virtude de sua ligação com
os metais e aqueles que os utilizam. Sem sua permissão e sua
proteção, nenhum dos trabalhos e nenhuma das atividades úteis e
proveitosas seriam possíveis. Ele é, então e sempre, o primeiro e
abre o caminho para os outros orixás.
Entretanto, certos deuses mais antigos que Ogum, ou
originários de países vizinhos aos yorùbá, não aceitaram de bom
grado essa primazia assumida por ele, o que deu origem a conflitos
entre ele, Obaluaiê e Nanã Buruku.
Xangô
Historicamente, Xangô teria sido o terceiro rei de Oyó, filho
de Oraniam e Torosi, filha de Elemjê, rei dos Tapás. A figura do rei
guerreiro confunde-se com a da divindade africana, existindo
mesmo quem acredite que Xangô seria a divinização de um grande
rei. Xangô foi o grande soberano dos reinos yorùbá.
Para nós, ocidentais, ainda choca a ideia de um homem ter
várias esposas. O que poderíamos dizer, então, de um deus que as
tivesse? Todavia, a sociedade africana aceita esses fatos com a
maior naturalidade. Xangô, orixá viril, era esposo de três iabás: Oyá
(Inhaçã), Oxum e Obá que, por ciúmes, viviam a infernizá-lo. Ele
tinha especial predileção por Oxum, por ser ela pouco mais que uma
menina. Todavia, Oyá, mais temperamental e feminina, era quem
mais exigia do rei, tentando monopolizar suas atenções. Dividindo
seus cuidados entre a doce e meiga Oxum e a temperamental e
voluptuosa Oyá, pouca atenção dedicava a Obá, mulher de agir
primeiro e pensar depois, impetuosa, guerreira, mas também tola e
ingênua. Cheia de ciúmes, ela procurou saber, justo de Oyá, como
fazer para merecer mais atenção e intimidade de Xangô. Este a
respeitava e até a louvava como guerreira, mas esquecia-se delacomo mulher, o que muito a magoava. A esperta Oyá disse-lhe
então que, se quisesse realmente ganhar seu amor, ela deveria
cortar uma de suas próprias orelhas e servi-la junto com a refeição a
Xangô.
Enquanto Obá preparava o encantamento receitado por Oyá,
esta, intrigante, avisava Xangô de que Obá lhe preparara uma cilada
para que Xangô só tivesse olhos para Obá, depois que provasse da
comida encantada. Naturalmente, essa situação tornava a
permanência de Xangô no lar um verdadeiro inferno. Por outro lado,
ele era intempestivo em suas ações, o que fazia com que o povo
mais o temesse do que estimasse. Aborrecido por essas
desavenças, Xangô desapareceu no mato e foi dado como morto.
Entretanto, sua liderança era inquestionável e seu povo, depois de
procurá-lo por toda a parte, aos gritos e desesperados, solicitava
sua presença. Foi quando ele apareceu e disse que, como rei e
como deus, os governaria do Céu. Perceberam, então, que ele
havia partido para o Fórum e havia se transformado em orixá.
O raio fulminante é o castigo de Xangô. Entre os yorùbá, a
morte por raio é considerada infame. Assim, a casa que é atingida
por um raio é considerada marcada pela cólera de Xangô e o
proprietário deve pagar pesadas multas aos sacerdotes desse orixá.
Xangô é um orixá muito popular no Brasil e também nas
Antilhas. Em algumas regiões do Nordeste brasileiro, seu nome
designa um conjunto de cultos denominados xangôs.
Conforme afirma Pierre Verger, na Bahia, é comum ouvir que
existem doze xangôs: Obá Afonjá, Obalubé, Ogodô, Oba Kossô,
Jakutá, Baru, Airá Intilé, Airá Igbonam, Airá Adjaosi, Dada, Aganju e
Oranian. Trata-se de uma lista um pouco confusa, pois Dada é o
irmão de Xangô; Oranian é seu pai; e Aganju é um de seus
sucessores.
Oyá (Inhaçã)Obá Afonjá, Obalubé, Ogodô, Oba Kossô Um dia, Obatalá, pai de Xangô, forneceu-lhe um encanto
poderoso capaz de torná-lo vitorioso diante de qualquer inimigo.
Xangô comeu a maior parte do encanto e o restante deu a Oyá para
guardá-lo. Na ausência de Xangô, Oyá comeu parte do que lhe fora
confiado. No dia seguinte, ocasião em que estava reunido o
conselho de ministros, Xangô tomou a palavra que lhe fora
concedida e de sua boca saíam jatos de fogo, o que apavorou os
presentes, que, por consequência, dispersaram-se logo após. O
mesmo aconteceu a Oyá, palestrando com as damas ou mulheres
ali reunidas. Xangô, enfurecido, bateu com o pé sobre o solo, que se
abriu, dando passagem a ele e às suas mulheres.
Oyá, a quem estava confiada a guarda do encanto, roubara-
lhe uma parte, comendo-a, o que fez Xangô se desesperar,
decidindo infligir um castigo à esposa.
Ela refugiou-se no palácio de seu irmão Olokun,
acompanhando, às ocultas, o declínio do sol. Perseguida pelo deus
do trovão, Olokun lhe tomou a defesa e travou intensa luta com o
orixá do raio. Nesse passo, em meio à luta, Oyá refugiou-se na casa
de sua irmã Oloxá e, logo depois, vendo que ali não podia ser
protegida contra a ira de Xangô, fugiu para a casa do pescador
Huissi.
Depois de relatar o ocorrido, pediu a proteção e defesa do
pescador, que, por sua vez, expôs-lhe que não possuía meios para
defendê-la contra tão poderoso orixá.
Oyá resolveu, então, dar de comer a Huissi o restante do
encanto e, por essa razão, o pescador transformou-se em orixá e
rapidamente saiu ao encontro do lançador de pedras, com quem
travou uma luta sem proporções, levando como arma uma única
árvore que existia no local e que arrancara pelas raízes.
Xangô usou como arma a canoa de Huissi e, quebradas as
armas, terminaram no corpo a corpo. Receoso de ser vencido e não
podendo vencer Huissi, porque já sentia fadiga, Xangô bateu o pé
no solo, o qual, abrindo-se, ofereceu-lhe abrigo, recebendo-o.
Terminada a luta, Oyá retirou-se para Lacôrô, onde o povo ergueu
um templo que foi oferecido ao orixá dos ventos e onde passou a
ser cultuada.
Verger cita o seguinte:Oyá Yánsàn é a divindade dos ventos, das tempestades e
do rio Níger que, em yorùbá, chama-se Odò Oyá. Foi a
primeira mulher de Xangô e tinha um temperamento
ardente e impetuoso. Conta uma lenda que Xangô enviou-
a em missão à terra dos baribas, a fim de buscar um
preparado que, uma vez ingerido, lhe permitiria lançar fogo
e chamas pela boca e pelo nariz. Oyá, desobedecendo às
instruções do esposo, experimentou esses preparados,
tornando-se também capaz de cuspir fogo, para grande
desgosto de Xangô, que desejava guardar só para si esse
terrível poder.
Antes de se tornar mulher de Xangô, Oyá vivera com Ogum.
A aparência do deus do ferro e dos ferreiros causou-lhe menos
efeito que a elegância, o garbo e o brilho do deus do trovão. Ela
fugiu com Xangô e Ogum, enfurecido, resolveu enfrentar seu rival;
mas este último foi à procura de Olódùmarè, o Deus Supremo, para
lhe confessar que havia ofendido Ogum. Olúdùmarè interveio junto
ao amante traído e recomendou-lhe que perdoasse a afronta, mas
Ogum não foi sensível a esse apelo. Não se resignou tão
calmamente assim, lançou-se à perseguição dos fugitivos e trocou
golpes de varas mágicas com a mulher, que foi então dividida em
nove partes.
Verger conta mais uma lenda relativa ao ritual do culto de
Oyá Inhaçã, em que se utilizam chifres de búfalo.
Ogum foi caçar na floresta. Colocando-se à espreita,
percebeu um búfalo que vinha em sua direção. Preparava-se para
matá-lo, quando o animal, parando subitamente, retirou a própria
pele. Uma linda mulher apareceu diante de seus olhos. Era Oyá-
Inhaçã. Ela escondeu a pele em um formigueiro e dirigiu-se ao
mercado da cidade vizinha. Ogum apossou-se do despojo,
escondendo-o no fundo de um depósito de milho, ao lado de sua
casa, indo, em seguida, ao mercado fazer a corte à mulher-búfalo.
Ele chegou a pedi-la em casamento, mas Oyá recusou, inicialmente.
Entretanto, ela acabou aceitando, quando, de volta à floresta, não
mais achou sua pele. Oyá recomendou ao caçador não contar aninguém que, na realidade, ela era um animal. Viveram bem durante
alguns anos. Ela teve nove crianças, o que provocou o ciúme das
outras esposas de Ogum. Estas, porém, conseguiram descobrir o
segredo da aparição da nova mulher. Logo que o marido se
ausentou, elas começaram a cantar: “Máa je, mau mu, àwò re nbe
ninú àká”; “Você pode beber e comer (e exibir sua beleza), mas sua
pele está no depósito (você é um animal)”.
Oyá compreendeu a alusão. Encontrando sua pele, vestiu-se
e, voltando à forma de búfalo, matou as mulheres ciumentas. Em
seguida, deixou seus chifres com os filhos, dizendo-lhes: “Em caso
de necessidade, batam um contra o outro e eu virei imediatamente
em vosso socorro”.
É por essa razão que chifres de búfalos são sempre
colocados nos locais consagrados a Oyá-Inhaçã.
Oxóssi
Oxóssi era irmão de Ogum e de Exu; todos os três eram
filhos de Yemanjá. Exu era indisciplinado e insolente com sua mãe,
por isso ela o mandou embora. Os outros dois filhos conduziam-se
melhor. Ogum trabalhava no campo e Oxóssi caçava na floresta das
vizinhanças, de modo que a casa estava sempre abastecida de
produtos agrícolas e de caça. Yemanjá, no entanto, andava inquieta
e resolveu consultar um babalawô. Este a aconselhou a proibir que
Oxóssi saísse à caça, pois arriscava-se a encontrar Ossain, aquele
que detinha o poder das plantas e que vivia nas profundezas da
floresta. Oxóssi ficaria exposto a um feitiço de Ossain para obrigá-lo
a permanecer em sua companhia. Yemanjá exigiu então que Oxóssi
renunciasse às suas atividades de caçador. Ele, porém, de
personalidade forte e independente, continuou suas incursões à
floresta. Partia com outros caçadores e, como sempre faziam, uma
vez chegados junto a uma grande árvore (irókò), separavam-se,
prosseguindo isoladamente, voltando a encontrar-se no fim do dia,
no mesmo lugar. Certa tarde, Oxóssi não voltou para o reencontro,
nem respondeu aos apelos dos outros caçadores. Ele havia encontrado Ossain e este lhe dera para beber uma poção em que
foram maceradas certas folhas, como o amúnimúyè, que significa
“apossar-se de uma pessoa e de sua inteligência”, provocando em
Oxóssi amnésia. Ele não sabia mais quem era, nem onde morava.
Ficou então vivendo na mata com Ossain, como predissera o
babalawô.
Ogum, inquieto com a ausência do irmão, partiu à sua
procura, encontrando-o nas profundezas da floresta. Ele o trouxe de
volta, mas Yemanjá não quis mais receber o filho desobediente.
Ogum, revoltado pela intransigência materna, recusou-se a
continuar em casa. Oxóssi voltou para a companhia de Ossain;
Yemanjá, desesperada por ter perdido seus filhos, transformou-se
em um rio, chamado Ògún (não confundir com Ogum, o orixá).
Oxum
Oxum é a divindade do rio Oxum, que corre na Nigéria, em
Ijexá e Ijebu. Segundo a lenda, Oxum era a segunda mulher de
Xangô, tendo vivido antes com Ogum, Orunmilá e Oxóssi.
As mulheres que desejam engravidar dirigem-se a Oxum,
pois ela controla a fecundidade, graças aos laços mantidos com
Iyámi-Àjé. Sobre esse assunto Verger cita a seguinte lenda:
Quando todos os orixás chegaram à Terra, organizaram
reuniões onde as mulheres não eram admitidas. Oxum
ficou aborrecida por ser posta de lado e não poder
participar de todas as deliberações. Para vingar-se, tornou
as mulheres estéreis e impediu que as atividades
desenvolvidas pelos deuses chegassem a resultados
favoráveis. Desesperados, os orixás dirigiram-se a
Olúdùmarè e explicaram-lhe que as coisas iam mal sobre a
Terra, apesar das decisões que tomavam em suas
assembleias. Olúdùmarè perguntou se Oxum participava
das reuniões e os orixás responderam que não. Olúdùmarèexplicou-lhes então que, sem a presença de Oxum e de
seu poder sobre a fecundidade, nenhum de seus
empreendimentos poderia dar certo. De volta à Terra, os
orixás convidaram Oxum para participar de seus trabalhos,
o que ela acabou por aceitar depois de muito lhe rogarem.
Em seguida, as mulheres tornaram-se fecundas e todos os
projetos obtiveram felizes resultados.
Oxum é chamada Ìyálóòde (Ialodê), título conferido à pessoa
que ocupa o lugar mais importante entre todas as mulheres da
cidade. Além disso, ela é a rainha de todos os rios e exerce seu
poder sobre a água doce, sem a qual a vida na Terra seria
impossível.
Nanã Buruquê
Segundo Verger, Nanã é uma divindade muito antiga e é
cultuada em uma vasta área africana. Também é conhecida pelos
seguintes nomes: Nanã Buruku, Nanã Bukuu, Nanã Brukung ou,
ainda, Brukung. Em uma região chamada Ashanti, o termo “nanã” é
utilizado para as pessoas idosas e respeitáveis e significa mãe.
O autor cita ainda a existência de diversas divindades com o
nome inicial Nanã ou Nenê. Tais divindades recebem o nome Inie e
desempenham o papel de Deus Supremo. Em todos seus templos,
há um assento sagrado salpicado de vermelho, em forma de Trono
Ashanti, reservado à sacerdotisa de Inie, no qual só ela pode tocar.
Todos os iniciados ligados ao templo têm grandes bengalas
salpicadas de pó vermelho e, em torno do pescoço, usam trancinhas
(cordinhas trançadas) sustentando uma conta verde e achatada.
Várias são as lendas sobre Nanã Buruquê. Pierre Verger faz
referência a uma pesquisa datada de 1934, redigida por J. C.
Guiness, feita na região do Adélé, por meio de um informante do
Kotokoli.
Na fronteira dos países Haussa e Zaberima (Djerma), há um
rio chamado Kwara (Níger), cujo nome foi emprestado a uma cidadesituada às suas margens. Em uma gruta, no fundo do rio, vivia
outrora um grande ídolo chamado Brukung e com ele viviam sua
mulher, seu filho e um homem chamado Langa, o qual era criado de
Brukung. Viviam todos juntos na gruta. Na cidade de Kwara havia
um homem chamado Kondo, um ser bom, que era conhecido,
mesmo nos locais mais distantes, pelo nome de Kondo Kwara.
Tinha o costume de todos os dias colocar oferendas de galos e pito
(beberagem) e, algumas vezes, um carneiro nas margens do rio em
que Langa ia pegá-los e os levava para a gruta debaixo d'água. Um
dia, porém, um grupo de pescadores haussa saiu da Nigéria para
pescar no rio Kwara. Eles roubaram as oferendas e Kondo ficou tão
contrariado que foi para Gbafolo, na região Kotokoli, instalando-se
com sua família em Dkipileu, a seis ou sete milhas dali. Brukung, por
sua vez, foi viver em uma gruta na floresta próxima de Dkipileu.
Kondo soube disso e recomeçou a colocar suas oferendas. Langa
reapareceu também, trazendo assentos que fizera na gruta de
Kwara. Mais tarde, Kondo reencontrou Brukung, porém, pouco
tempo depois, uma invasão ashanti obrigou Brukung e os seus a
refugiarem-se em Shiari.
Nanã Buruquê é conhecida no novo mundo, tanto no Brasil
como em Cuba, como a mãe de Obaluaiê e é considerada como a
mais antiga das divindades das águas. Sua atuação faz-se sentir
sobre as águas dos lagos e da lama dos pântanos.
Obaluaiê
Obaluaiê é também conhecido como Omulu. Obaluaiê
significa Rei Dono da Terra e Omulu filho do Senhor Obaluaiê.
Obaluaiê é considerado o deus da varíola e das doenças
contagiosas.
Obaluaiê e Nanã Buruquê são frequentemente confundidos,
em certos locais da África. Em algumas lendas, fala-se acerca da
disputa de Obaluaiê e Nanã Buruquê contra Ogum. Verger
considera essa disputa de divindades como o choque de religiões
pertencentes a civilizações diferentes, sucessivamente instaladasem um mesmo lugar e datando de períodos respectivamente
anteriores e posteriores à Idade do Ferro. Muitas são as lendas
sobre Obaluaiê. Transcrevemos duas delas narradas por Verger:
A primeira lenda diz o seguinte: Obaluaiê era originário de
Empé (Tapá) e havia levado seus guerreiros em expedição
aos quatro cantos da Terra. Uma ferida feita por suas
flechas tornava as pessoas cegas, surdas ou mancas.
Obaluaiê chegou assim ao território Mahi, no norte do
Daomé, batendo e dizimando seus inimigos, pondo-se a
massacrar e destruir tudo o que encontrava à sua frente.
Os mahis, porém, tendo consultado um babalawô,
aprenderam como acalmar Obaluaiê com oferendas de
pipocas. Assim, tranquilizado pelas atenções recebidas,
Obaluaiê mandou-os construir um palácio onde ele
passaria a morar, não mais voltando ao país Empê. O Mahi
prosperou e tudo se acalmou.
A segunda lenda é originária de Dassa Zumê e diz o
seguinte: um caçador Molusi (iniciado de Omulu) viu
passar no mato um antílope. Tentou matá-lo, mas o animal
levantou uma de suas patas dianteiras e anoiteceu em
pleno dia. Pouco depois, a claridade voltou e o caçador viu-
se na presença de um Aroni, que declarou ter intenção de
dar-lhe um talismã poderoso para que ele colocasse sob
um montículo de terra que deveria ser erguido defronte de
sua casa. Deu-lhe também um apito, com o qual poderia
chamá-lo em caso de necessidade. Sete dias depois, uma
epidemia de varíola começou a assolar a região. O Molusi
voltou à floresta e soprou o apito. Aroni apareceu e disse-
lhe que aquilo era o poder de Obaluaiê, que era preciso
construir para ele um templo e todo mundo deveria,
doravante, obedecer ao Molusi. Foi assim que Obaluaiê
(chamado Sapata pelos fon) instalou-se em Pingini Vedji.
OxaláDentre todos os deuses yorùbá, Oxalá é o que ocupa o lugar
de maior destaque, recebendo ainda os seguintes nomes: Obatalá,
o grande orixá, Orixalá, o rei do pano branco etc.
São inúmeras as lendas africanas sobre Oxalá. A seguir
relata-se uma das mais tradicionais contadas por Verger:
Segundo o autor, Oxalá recebeu de Olúdùmarè (o Deus
Supremo) a incumbência de criar o mundo, com o poder de sugerir
e realizar. O poder que lhe havia sido confiado não o dispensava, no
entanto, de passar por certas provações, submeter-se a
determinadas regras e respeitar diversas obrigações, como os
outros orixás.
Verger cita uma história de Ifá que conta como, em razão de
sua altivez, ele se recusou a fazer alguns sacrifícios e oferendas a
Exu, antes de iniciar sua viagem para criar o mundo.
Oxalá seguiu seu caminho apoiado em seu cajado de
estanho. Quando ia ultrapassar a porta do Além, encontrou Exu que
lhe deu, como uma de suas obrigações, fiscalizar as comunicações
entre os dois mundos. A recusa de Oxalá em realizar os sacrifícios e
oferendas causou grande descontentamento em Exu, que se
vingou, fazendo-o sentir uma sede intensa. Para saciar a sede,
Oxalá furou, com seu cajado, a casca do tronco de um dendezeiro.
O vinho de palma escorreu desse tronco e ele bebeu com grande
avidez, ficando bêbado e sem saber onde estava, adormecendo em
seguida. Após haver adormecido, Exu lhe roubou o saco da criação
e dirigiu-se a Olúdùmarè para mostrar-lhe o estado de Oxalá.
Olúdùmarè exclamou: “Se ele está nesse estado, vá você Odùduá!
Vá criar o mundo!” Odùduá saiu assim do Além e se encontrou
diante de uma extensão ilimitada de água. Deixou cair a substância
marrom contida no saco da criação, que era terra. Formou se,
então, um montículo que ultrapassou a superfície das águas. Ele
colocou uma galinha, cujos pés tinham cinco garras, que começou a
arranhar e a espalhar a terra sobre a superfície das águas. Onde
ciscava, cobria as águas e a terra ia se alargando cada vez mais.
Oduduá aí se estabeleceu, seguido pelos outros orixás e tornou-se
assim o rei da terra.Quando Oxalá acordou, não mais encontrou ao seu lado o
saco da criação. Nutrindo grande despeito, voltou-se a Olúdùmarè.
Como castigo pela bebedeira, Olúdùmarè proibiu-o, assim como aos
outros de sua família, os orixás funfun, de beber vinho de palma e
mesmo de usar azeite de dendê. Confiou-lhe, entretanto, como
consolo, a tarefa de modelar no barro o corpo dos seres humanos,
aos quais ele, Oludumaré, insuflaria a vida.
Oxalá aceitou essa incumbência, porém não levou a sério a
proibição de beber o vinho de palma e, nos dias em que se excedia
no vinho, os homens saíam de suas mãos com vários defeitos
físicos. Alguns eram retirados do forno antes da hora e suas cores
eram muito pálidas. Vem daí o fato de os albinos serem adoradores
de Oxalá.
Nos cultos de nação, Oxalá é representado de duas formas:
Oxaguian e Oxalufan. Oxaguian é o Oxalá menino, geralmente
sincretizado com o Menino Jesus de Praga. É um orixá funfun jovem
e guerreiro, relacionado com o sustento cotidiano, o qual gosta de
mesa farta. Seu sustento é proveniente do fundo da terra ou da
floresta. É o guerreiro da paz. Segundo algumas lendas, foi rei de
Ejigbo e gosta muito de inhame pilado. Seu nome significa orixá que
come inhame pilado. Oxalufan é o oxalá velho, sincretizado com
Jesus Cristo. Segundo algumas lendas, foi rei de Ifan. É um Oxalá
velho, curvado pelos anos, que anda com dificuldade, como se
estivesse acometido de reumatismo.
Conforme Pai Nenê d’Oxumaré e Pai Paulo de Oxalá, a
família de Orixás funfun é muito grande. Podem ser citados alguns
deles:
Òrísà Olufón Ajígúna;
Koari, "aquele que grita quando acorda";
Òrisà Ògiyán Ewúléèjigbò, "Senhor de Ejigbô";
Òrísà Obaníjita;
Òrísà Àkirè;
Òrísà Eteko Oba Dugbe;
Òrísà Alásè ou Olúorogbo;
Òrisà Olójo;
Òrisà Àrówú;Òrisà Oníki;
Òrisà Onínrinjà;
Òrisà Ajagemo;
Òrisà Jayé em Jayé;
Òrisà Ròwu em Owu;
Òrisà Olóbà em Iwofin;
Òrisàko em Oko.
Ibeji
O culto aos gêmeos é muito antigo. Na mitologia grega,
encontram-se os heróis gêmeos Castor e Pólux. Conta-se que as
famílias romanas os invocavam por ocasião de doenças,
principalmente em crianças.
Em quase todas as culturas, o nascimento de gêmeos
sempre era considerado prenúncio de coisas boas. Em Togo, no
Daomé, e na Nigéria ocidental, a ocorrência de dois ou três filhos no
mesmo parto era motivo de grande júbilo e a mãe recebia grandes
homenagens. Ibeji são Orixás nagôs que representam os gêmeos e
simbolizam também a fecundidade.
Câmara Cascudo[6] diz o seguinte:
Ibeji são Orixás jeje-nagôs, representados nos candomblés
pelos santos católicos gêmeos Cosme e Damião. Não há
fetiche dos Ibeji, que em Cuba são os Jimaguas, estes sem
qualquer semelhança com as imagens católicas. Os
africanos católicos da Costa de Escravos costumavam
batizar seus filhos gêmeos com os nomes de Cosme e
Damião. O culto dos Ibeji nos nagôs é uma homenagem à
fecundidade. Nina Rodrigues identificou os Ibeji nas formas
bonitas dos dois santos mártires, ligando-os à religião
negra. Inexplicável é o desaparecimento dos ídolos Ibeji e
a sobrevivência cristã de Cosme e Damião. Dos Ibeji
caracterizadamente nada se conhece no Brasil.Fernando Ortiz diz que os orixás Ibeji são as divindades
tutelares dos gêmeos, idênticos ao deus Hoho das tribos ewe
(jejes). Aos Ibeji está consagrado um pequeno mono chamado Edon
Dudu ou Edun Oriokun e geralmente um dos meninos gêmeos se
chama também Edon ou Edun. Os bruxos cubanos dizem a
Fernando Ortiz ser Jimagua a representação de Dadá e Ogum,
irmãos de Xangô, tanto assim que a faixa que os envolve é
vermelha.
Na África, em geral, as crianças representam a certeza da
continuidade, por isso, os pais consideram os filhos como a maior
riqueza. A palavra Igbeji significa gêmeos e o Orixá Ibeji é o único
permanentemente duplo. Forma-se a partir de duas entidades
distintas que coexistem, respeitando o princípio básico da dualidade.
Ibeji são os opostos que caminham juntos, ou seja, a dualidade de
todo ser humano.
Existe uma confusão corrente em determinados terreiros de
Umbanda, onde se confundem os orixás Ibeji com os erês. O erê
não é uma entidade e nem um orixá, é um estado intermediário, de
transe infantil, pelo qual o iniciado do candomblé passa na
regressão da manifestação do Orixá para a personalidade do
indivíduo. O erê é o intermediário entre a pessoa e seu Orixá. É o
desabrochar da criança que cada um traz dentro de si.SINCRETISMO RELIGIOSO
O início do sincretismo religioso no Brasil surgiu com a
escravatura do índio, pelos primeiros colonizadores. Nosso índio,
em função de sua liberdade natural e de seu espírito guerreiro, não
podia aceitar a escravidão. Ele tinha uma religião, que se
fundamentava na crença do espírito e que possuía seus rituais. O
índio não se adaptou ao cativeiro e o colonizador trouxe da África o
elemento negro, que oferecia melhores condições para a lavoura.
Formou-se, assim, um ciclo branco-índio-negro, que
contribuiu para o complexo da formação brasileira, sobressaindo-se
uma constante religiosidade, em vários aspectos.
Os escravos nada traziam na viagem, sendo necessário,
aqui, improvisar os objetos de culto com os utensílios utilizados nas
cozinhas ou senzalas.
Os negros escravos haviam desenvolvido e sedimentado o
fundamento religioso de divindades, rituais, liturgia e lendas. Dentre
eles, muitos iniciados cuidavam com fidelidade dos conhecimentos
recebidos, sob sigilo, constituindo segredo que não podia ser
revelado.
Os negros apresentavam grau de cultura mais elevado que o
índio e, em alguns casos, eram mais intelectualizados que alguns
senhores brancos que lhe impunham uma religião, por meio de
imagens e algumas rezas, as quais eles não entendiam, sem um
fundamento, à custa de castigos, privações e sofrimentos.
O negro não entendia a religião católica e havia má
assimilação. No entanto, quanto ao que havia de semelhante na
correlação com suas divindades tradicionais, ocorria uma fusão das
divindades para que pudessem praticar seus rituais e cultuar os
orixás que lhe eram próprios. Quando eram questionados pelos
brancos, preferiam dizer que estavam homenageando "os santos",
resultando, assim, em uma fusão de crenças e divindades de vários
aspectos. O colonizador permitiu, desse modo, que cultuassem a
religião à sua maneira, modificando a tradição dos cultos primitivos, Fernando Ortiz diz que os orixás Ibeji são as divindades
tutelares dos gêmeos, idênticos ao deus Hoho das tribos ewe
(jejes). Aos Ibeji está consagrado um pequeno mono chamado Edon
Dudu ou Edun Oriokun e geralmente um dos meninos gêmeos se
chama também Edon ou Edun. Os bruxos cubanos dizem a
Fernando Ortiz ser Jimagua a representação de Dadá e Ogum,
irmãos de Xangô, tanto assim que a faixa que os envolve é
vermelha.
Na África, em geral, as crianças representam a certeza da
continuidade, por isso, os pais consideram os filhos como a maior
riqueza. A palavra Igbeji significa gêmeos e o Orixá Ibeji é o único
permanentemente duplo. Forma-se a partir de duas entidades
distintas que coexistem, respeitando o princípio básico da dualidade.
Ibeji são os opostos que caminham juntos, ou seja, a dualidade de
todo ser humano.
Existe uma confusão corrente em determinados terreiros de
Umbanda, onde se confundem os orixás Ibeji com os erês. O erê
não é uma entidade e nem um orixá, é um estado intermediário, de
transe infantil, pelo qual o iniciado do candomblé passa na
regressão da manifestação do Orixá para a personalidade do
indivíduo. O erê é o intermediário entre a pessoa e seu Orixá. É o
desabrochar da criança que cada um traz dentro de si.SINCRETISMO RELIGIOSO
O início do sincretismo religioso no Brasil surgiu com a
escravatura do índio, pelos primeiros colonizadores. Nosso índio,
em função de sua liberdade natural e de seu espírito guerreiro, não
podia aceitar a escravidão. Ele tinha uma religião, que se
fundamentava na crença do espírito e que possuía seus rituais. O
índio não se adaptou ao cativeiro e o colonizador trouxe da África o
elemento negro, que oferecia melhores condições para a lavoura.
Formou-se, assim, um ciclo branco-índio-negro, que
contribuiu para o complexo da formação brasileira, sobressaindo-se
uma constante religiosidade, em vários aspectos.
Os escravos nada traziam na viagem, sendo necessário,
aqui, improvisar os objetos de culto com os utensílios utilizados nas
cozinhas ou senzalas.
Os negros escravos haviam desenvolvido e sedimentado o
fundamento religioso de divindades, rituais, liturgia e lendas. Dentre
eles, muitos iniciados cuidavam com fidelidade dos conhecimentos
recebidos, sob sigilo, constituindo segredo que não podia ser
revelado.
Os negros apresentavam grau de cultura mais elevado que o
índio e, em alguns casos, eram mais intelectualizados que alguns
senhores brancos que lhe impunham uma religião, por meio de
imagens e algumas rezas, as quais eles não entendiam, sem um
fundamento, à custa de castigos, privações e sofrimentos.
O negro não entendia a religião católica e havia má
assimilação. No entanto, quanto ao que havia de semelhante na
correlação com suas divindades tradicionais, ocorria uma fusão das
divindades para que pudessem praticar seus rituais e cultuar os
orixás que lhe eram próprios. Quando eram questionados pelos
brancos, preferiam dizer que estavam homenageando "os santos",
resultando, assim, em uma fusão de crenças e divindades de vários
aspectos. O colonizador permitiu, desse modo, que cultuassem a
religião à sua maneira, modificando a tradição dos cultos primitivos,porque a ruidosidade e complexidade do ritual eram para o negro
um lenitivo, de forma a amenizar a saudade da família ou da terra
natal.
O sincretismo com o catolicismo atingiu tal ponto que é
comum cultuar-se uma mesma entidade, de modo indiferente, com
nome de santo ou orixá africano, não se podendo, muitas vezes,
diferenciar onde termina um e começa o outro.
Existe uma convergência de rituais e liturgia, que tende a
acentuar-se com o sentido ecumenista, pela grande disseminação
da Umbanda no Brasil e seu grande relacionamento com o altar e as
práticas católicas. A primeira religião de caráter sincrético no Brasil
pós-descobrimento ficou conhecida como santidade, termo criado
pelo padre Manoel da Nóbrega, em 1549, quando observou um pajé
em transe pregando a outros índios. Segundo Dias, os primeiros
registros dessa religião datam de 1551, em São Vicente, tendo
ganhado força e se tornado mais expressiva ao final do século XVI,
no sul da Bahia e na área do recôncavo baiano.
Na santidade, os rituais podiam durar vários dias e os
adeptos usavam penas, arco, flechas, colares e máscaras. O ritmo
era marcado pelo uso de maracás. Fumavam tabaco e ingeriam
bebidas fermentadas que induziam a estados alterados da
consciência, denominados estado de santidade. O sincretismo era
caracterizado pelas rezas com uso de cruzes, terços e rosários.
Cultuavam alguns santos católicos e faziam rituais semelhantes ao
batismo e às procissões. De alguma forma, esse tipo de culto
influenciou o sincretismo religioso dos escravos africanos no Brasil.
Entre as muitas formas de resistência ao cativeiro,
observadas desde o início do regime escravagista no Brasil, uma
das mais notáveis foi a que ocorreu por meio da religião. Enquanto o
regime procurava desorganizar a identidade cultural dos africanos,
eles contra-atacavam no mesmo nível, por meio de um engenhoso e
funcional sistema de sincretismo religioso.
Como visto anteriormente, quando um senhor de engenho
necessitava aumentar seu número de escravos, procurava sempre
comprar um negro que não pertencesse à mesma nação ou, pelo
menos, à mesma tribo ou família dos escravos que já possuía. O
ideal era que os escravos fossem de grupos mais heterogêneospossíveis, pois isso diminuía a possibilidade de que eles se unissem
e causassem uma rebelião.
Quando ocorria o aumento de uma família de negros, os
filhos eram vendidos para senzalas mais distantes e, muitas vezes,
os casais eram separados após a geração de dois ou mais filhos.
Isso fazia com que os laços familiares não se estreitassem.
Muito cedo, os negros entenderam que só tinham em comum,
com demais membros da senzala, a cor da pele e o fato de serem
escravos. Sentiram que o branco explorava suas rivalidades
naturais e suas línguas diferentes. Suas lideranças passaram,
então, a buscar o único meio de fazer com que houvesse uma
ligação mais intensa entre eles. Perceberam que, com exceção dos
negros mandingas, que eram muçulmanos, a maioria trazia a crença
nos orixás.
A crença em Zambi (Deus) e nos orixás, mais do que uma
religião, era também um meio de garantir a solidariedade de todos.
Sabiam que não haveria liberdade sem luta e para isso era
necessário unirem-se em torno dos mesmos objetivos.
Quando, à noite, a maioria dos negros e senhores brancos
dormiam, alguns negros procuravam encontrar aqueles capazes de
aprender o culto aos orixás e, muitas vezes, guiados pelos índios
amigos que os conduziam aos diferentes reinos da natureza, os
“iniciados” davam suas obrigações aos orixás.
No dia seguinte à iniciação, para que não houvesse suspeita
do ocorrido, o iniciado deveria mostrar-se na igreja. Essa prática
ficou muito famosa nos candomblés de Salvador, na Bahia, onde o
iniciado era obrigado a assistir a uma missa na Igreja do Senhor do
Bonfim, prática que ainda hoje é usada.
Nasciam, desse modo, as raízes de um culto que não seria
exatamente aquele que eles praticavam na terra distante, mas que
reunia elementos das várias nações africanas, somados aos hábitos
cristãos que lhes eram impostos pelos senhores brancos. Essa
primeira ligação cultural religiosa recebeu o nome de candomblé,
que passou a ser o sucedâneo da aldeia africana ou dos burgos
rurais.
O negro africano, quando cumpria sua obrigação, retirava
uma pedra do lugar sagrado, denominada otá. Essa pedra eracultuada como objeto sagrado pelo resto de seus dias. As imagens
de santos católicos, muito populares no período colonial, eram, em
sua maioria, esculpidas em madeira. Para não trair seus deuses de
origem, o negro habitualmente escavava a imagem do santo e
introduzia nessa escavação o otá correspondente ao orixá. Dessa
forma, ele poderia voltar-se para uma imagem do santo católico e
reverenciar seu orixá.
O branco acabou por descobrir que os negros escavavam as
imagens e o negro justificava o fato dizendo que a imagem oca não
trincava e que a pedra na base servia para dar maior estabilidade à
peça. O branco, esperto, passou a utilizar essas imagens para
ocultar, em seu interior, fumo, ouro e pedras preciosas. As imagens
eram vedadas com uma massa preparada com cera de abelhas e
serragem e eram enviadas à Europa sem pagar os direitos do rei,
surgindo, dessa forma de contrabando, a expressão “santo do pau
oco”, como sinônimo de coisa maldosa.
E o negro passou, assim, a homenagear seu orixá diante de
uma imagem de santo católico, resultando daí o início do
sincretismo de crenças e divindades de vários aspectos.
Às vezes, o dono da fazenda, o senhor das terras, tinha um
santo de devoção pessoal e obrigava o negro a cultuá-lo. Isso
justifica o fato de, em Salvador, Ogum ser sincretizado com Santo
Antônio e não com São Jorge, assim acontecendo também com
outros santos e orixás.
Silva[7] faz o seguinte comentário:
Os santos guerreiros, como Santo Antônio, São Sebastião,
São Jorge, São Miguel e outros, que de alguma forma
aludiam à condição de conquistadores dos portugueses em
sua luta contra índios, invasores e contra as duras
condições de povoamento da terra, eram muito solicitados.
São Roque, São Lázaro, São Braz e Nossa Senhora das
Cabeças – e outros santos que curavam doenças da pele,
respiratórias, hidrocefalia e tantas outras, facilmente
contraíveis nos trópicos – também eram constantemente
invocados nas promessas e ladainhas. Em seus sonhos de liberdade, o negro africano via em Ogum,
o Orixá da guerra, a força de que necessitava para conseguir sua
liberdade. Um dia, o negro empunharia a lança e a espada de
Ogum, mataria os brancos, vingando amigos e parentes mortos por
estes, tomaria uma de suas embarcações e voltaria à sua terra
natal. Seria Ogum que os ajudaria na batalha e lhes daria a força e
a coragem de que tanto necessitavam.
A figura de São Jorge mostra um homem todo coberto com
uma armadura de aço, ferindo, com uma lança, o dragão, símbolo
do mal. O Ogum que o negro conhecia e que era o Orixá do ferro,
era um Orixá guerreiro. O branco lhe impunha a imagem de São
Jorge e o negro cultuava Ogum, disfarçado na imagem do santo
guerreiro.
Impedido de cultuar Yemanjá, a mãe dos deuses, o negro
cultuava Maria, a mãe de Deus, como lhe ensinavam os brancos.
Externamente e diante dos brancos, ele era um cristão que adorava
Maria, mas, em seu íntimo, era Yemanjá a quem ele se referia.
O sincretismo processou-se nas diferentes regiões do país,
segundo a crença ou devoção das figuras mais importantes e
representativas das várias localidades. Daí, para o negro ou
mestiço, a Yemanjá africana passou a se confundir com Nossa
Senhora dos Navegantes, na Bahia; Nossa Senhora da Glória, no
Rio Grande do Sul; e Nossa Senhora da Conceição, no Rio de
Janeiro e no Vale do Paraíba. Em consequência do sincretismo com
Nossa Senhora da Conceição, posteriormente, passou a confundir-
se também com Nossa Senhora da Conceição Aparecida.
Os negros consideravam Xangô como um rei, um sábio e
isso os levou a homenageá-lo na presença das imagens de Moisés
e São Jerônimo, homens maduros e sábios, transmissores orais e
gráficos dos ensinamentos divinos.
O Orixá Inhaçã é sincretizado com Santa Bárbara, pela
transferência do poder do orixá sobre o fogo, referência ao raio que
teria, de maneira justiceira, punido Dióscoro, o pai da santa, quando
se preparava para decapitá-la com a espada.
Os princípios cristãos passaram a admitir a ideia da Maria
virgem, daí dar-lhe, posteriormente, o nome de Nossa Senhora da
Conceição. Ora, por uma questão de lógica, os africanos, reduzidosà condição de escravos em terra cristã, só poderiam encontrar
similitude, para efeito de sincretismo, entre a mãe de Jesus e a doce
menina Oxum, um orixá jovem e de rara beleza.
Para esconder o otá consagrado a Oxóssi, o negro africano
encontrou imagem ideal em São Sebastião, pois esse santo
apresenta-se seminu, amarrado a uma árvore (mata) e crivado de
flechas. Oxóssi é o Orixá que conhece cada animal da mata e os
caça com auxílio do arco e da flecha. Esse fato provocou um rápido
sincretismo entre São Sebastião e o orixá da mata e da caça,
Oxóssi.
Assim, sendo considerado o mais velho Orixá feminino do
panteão africano, Nanã Buruquê facilmente encontrou similitude em
Sant’Ana. Como o negro africano era obrigado a aceitar a cultura e
a religião impostas pelo branco, a avó de Jesus poderia ser
comparada à velha Nanã. Afinal, cabe a ela a função de zelar pelo
final de suas vidas.
Já para Obaluaiê coube o sincretismo com São Lázaro, pois
esse santo é representado com o corpo cheio de feridas, enquanto o
Orixá Obaluaiê é o deus da varíola e das doenças. Encontra
similitude, também, em São Roque.
Dentre todos os deuses yorùbá, Oxalá é o que ocupa o lugar
de maior destaque, recebendo ainda os nomes de Obatalá e
Orixalá. Segundo o candomblé, Oxalá é o orixá supremo, o criador
do mundo. O negro ouvia constantemente, nas igrejas, o nome de
Jesus e passou a ver em sua imagem a figura de Oxalá, o criador
dos seres humanos.
Várias foram as formas de resistência dos negros africanos
às forças de alienação e extermínio que enfrentavam, porém o
sincretismo religioso, além de uma forma de resistência, constituiu-
se também como um modo precioso de preservar a cultura religiosa
dos negros. Apesar disso, das quatrocentas divindades cultuadas
pelos africanos de então, apenas dezesseis conseguiram
“sobreviver” às perseguições e ao aniquilamento dos patrimônios
culturais e religiosos africanos.ORIGENS DA PALAVRA “UMBANDA”
Sempre que é necessário demonstrar o pouco conhecimento
dos umbandistas sobre a própria Umbanda, pergunta-se,
inicialmente, se os participantes da reunião são médiuns e, depois,
se todos trabalham pela causa umbandista. Quando se recebe a
resposta afirmativa, pergunta-se: o que é Umbanda? E, geralmente,
a resposta é um ar ou uma aparência de dúvida ou insegurança ou,
ainda, uma frase sem muita convicção, como, por exemplo:
“Umbanda é paz e amor”. Umbanda é caridade (e as outras religiões
não praticam a caridade?). Umbanda é humildade. Umbanda é
saber transmitir calor humano. Trata-se, então, de uma série de
frases que podem definir algumas virtudes umbandistas, mas estão
longe de fornecer ao leigo uma explicação satisfatória e lógica do
que seja realmente a Umbanda. Por isso, é importante aqui explicar
a origem e o significado da palavra Umbanda.
Segundo Cavalcanti Bandeira,[8] ela é originária da língua
Kimbundo, encontrada em muitos dialetos bantos, falados na
Angola, no Congo e em Guiné e não é segredo algum, pois, em
virtude dos interesses comerciais e do período em que Portugal
manteve suas colônias na África, foi devidamente estudada,
existindo várias gramáticas de autores insuspeitos, em que são
citadas as palavras “Umbanda” e “quimbanda”, nome comum na
África. Às vezes, é citada como nação poderosa; outras vezes,
como o espírito dessa mesma nação.
No livro Império ultramarino português, editado em 1941, é
citada a localidade de Mucajé ia Quimbanda, sob jurisdição da
Arquidiocese de Luanda. Bandeira explica:
Poderemos, assim, no Brasil, tentar uma definição: a
Umbanda é um novo culto brasileiro do século XX,
provindo do sincretismo religioso de práticas e
fundamentos católico-banto-sudaneses, apresentandoalgumas fusões ameríndias e orientais, com observância
do Evangelho segundo o Espiritismo, constituído de planos
espirituais evolutivos pela reencarnação.
Outra possibilidade confere a origem dessa palavra ao
orientalismo iniciático, no qual o mantra AUMBHANDA representa
um alto significado esotérico, como foi discutido no Primeiro
Congresso Brasileiro do Espiritismo de Umbanda, realizado em
1941, no Rio de Janeiro. Nesse congresso, Diamantino Coelho
Fernandes, da Tenda Mirim, apresentou uma tese intitulada
“Fundamentos históricos e filosóficos”, que discorreu sobre o tema.
Em um dos trechos da tese encontra-se:
Umbanda não é um conjunto de fetiches, seitas ou
crenças, originárias de povos incultos, ou aparentemente
ignorantes; Umbanda é, demonstradamente, uma das
maiores correntes do pensamento humano existentes na
Terra há mais de cem séculos, cuja raiz se perde na
profundidade insondável das mais antigas filosofias.
AUM – BANDHÃ (OM – BANDÁ);
AUM (OM);
BANDHÃ (BANDÁ);
OMBANDÁ (UMBANDA).
O vocábulo “Umbanda” é oriundo do Sânscrito, a mais antiga
e polida de todas as línguas da Terra, a raiz mestra, por assim dizer,
das demais línguas existentes no mundo.
Sua etimologia provém de AUM-BANDHA (Om-Banda) em
Sânscrito, ou seja, o limite do ilimitado.
Na gramática de Kimbundo, do professor L. Quintão,
encontra-se: Umbanda – arte de curar (de kimbanda: curandeiro).
Algumas deformações linguísticas atuais no Brasil atribuem ao
feiticeiro o título de quimbandeiro, que, na África, é denominado
Mulogi.
Resumidamente, tem-se: Umbanda – arte de curar, oficio de
ocultista, ciência médica, magia de curar. Em sua origem, participam
valores de três culturas principais: a branca europeia (catolicismo eEspiritismo), negra africana (elemento escravo) e a vermelha
ameríndia (índios nativos que o branco tentou escravizar).
Matta e Silva[9] faz um apanhado sobre a origem da palavra
Umbanda:
Em 1894, Heli Chatelain escreveu um livro, intitulado Folk
tales of Angola (Narrativas do povo de Angola), onde na
página 268 consta a palavra “Umbanda” como força,
expressão e regra de altos valores. E notem: até esse
citado ano foi o único que conseguiu descobrir esse termo
e o fez assim: Umbanda deriva-se de kimbanda pela
aposição do prefixo “u”, como u-ngana vem de ngana. (I)
Umbanda é a faculdade, ciência, arte, profissão, oficio de:
a) curar por meio de medicina natural (plantas, raízes,
folhas, frutos) ou da medicina sobrenatural (sortilégios,
encantamentos); b) adivinhando o desconhecido, pela
consulta à alma dos mortos ou aos gênios ou demônios,
que são espíritos, nem humanos nem divinos; c) induzindo
esses espíritos, humanos ou não, a influir sobre os homens
e sobre a natureza, de maneira benéfica ou maléfica. (II)
As forças, agindo na cura, adivinhação e na influência dos
espíritos. (III) Finalmente, Umbanda é o conjunto de
sortilégios que estabelecem e determinam ligação entre
espíritos e o mundo físico.
No entanto, não se deve esquecer a verdadeira essência da
palavra, trazida pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas: “A Umbanda
é a manifestação do espírito para a caridade”. seriam uma espécie de núcleos centrais, a fim de propagar a
Umbanda.
Em uma sessão de desenvolvimento e estudos, o Caboclo
das Sete Encruzilhadas determinou a fundação gradativa das sete
tendas mestras que deveriam ser os pólos irradiadores da Umbanda
no Brasil:
Tenda Nossa Senhora da Conceição;
Tenda São Pedro;
Tenda Nossa Senhora da Guia;
Tenda Santa Bárbara;
Tenda Oxalá;
Tenda São Jorge;
Tenda São Jerônimo.
Seguindo o planejamento do Astral superior, houve, na
década de 1950, o importante advento do Pai Guiné, preparado pelo
Caboclo das Sete Encruzilhadas. Pai Guiné, sapientíssimo e
poderoso mago da luz, juntamente com seu médium W. W. da Matta
e Silva, trouxe os conceitos esotéricos e iniciáticos da Umbanda.
Mais detalhes sobre a história da Umbanda podem ser
encontrados nas obras de Diamantino Fernandes Trindade.
ORIGENS DO RITUAL UMBANDISTA
Zélio de Moraes explica como teve início o primeiro ritual
umbandista: “O rito nasceu naturalmente como consequência,
principalmente, da presença do índio e do negro, não tanto pela
presença física, mas sim pela presença do preto velho incorporado”.
No dia da primeira sessão da Tenda Nossa Senhora da Piedade, em
16 de novembro de 1908, Zélio incorporou pela primeira vez o Pai
Antônio. O Caboclo das Sete Encruzilhadas havia alertado que iria
desincorporar para dar passagem à outra entidade espiritual que
desejava se manifestar.
Zélio incorporou o Pai Antônio, espírito de um velho escravo
que parecia não se sentir à vontade diante de tanta gente e que,recusando-se a permanecer na mesa onde ocorrera a manifestação,
procurava não chamar a atenção, apresentando-se humilde e
curvado, o que conferia ao jovem Zélio um aspecto quase irreal.
Essa entidade parecia tão pouco à vontade que logo despertou um
sentimento de compaixão e de solidariedade entre os presentes.
Perguntado, então, por que não se sentava à mesa, com os demais
irmãos encarnados, respondeu: “Nego num senta, não, meu sinhô,
nego fica aqui mesmo. Isso é coisa de sinhô branco i nego deve
arrespeitá...”.
Era a primeira incorporação dessa portentosa entidade,
porém a morte, que não retoca seu escolhido, mudando-o para o
bem ou para o mal, não havia afastado dele o medo que ele tantas
vezes havia sentido ante a prepotência do senhor branco
escravagista e, diante da insistência de algumas pessoas presentes
à sessão, disse: “Num carece preocupá, não, nego fica no toco que
é lugá di nego...”. Demonstrava, assim, que preferia ocupar um lugar
mais singelo, para não constranger nenhum dos presentes.
Perguntado sobre seu nome, disse que era Tonho e que era
um preto escravo que na senzala era chamado de Pai Antônio.
Surgiu, assim, essa forma de chamar os pretos velhos de pai.
Indagado sobre como havia sido sua morte, falou que havia
ido à mata apanhar lenha, sentiu-se mal, sentou-se e nada mais
lembrava.
Sensibilizados com tanta humildade, perguntaram-lhe,
respeitosamente: “O senhor tem saudade de alguma coisa que
deixou ficar na terra?”. Ao que ele respondeu, então: “Minha
cachimba. Nego qué o pito que deixou no toco... Manda muréque
busca”. As pessoas foram apanhadas de surpresa, pois era a
primeira vez que alguma entidade pedia algo material e a surpresa
foi logo substituída pelo desejo de atender ao pedido do espírito.
Mas ninguém tinha um cachimbo para oferecer ao Pai Antônio.
Muitos pensaram no pedido e muitos cachimbos apareceram
nas mãos dos frequentadores da tenda, incluindo alguns médiuns
que haviam sido afastados de centros kardecistas porque haviam
permitido a incorporação de índios, pobres ou pretos como aquele e
que, solidários, buscavam na nova casa, a Tenda Nossa Senhora da
Piedade, a oportunidade que lhes fora negada em seus centros deorigem. O ato de pitar o cachimbo logo seria repetido, quando os
outros médiuns já mencionados também passaram livremente a
permitir a incorporação dos caboclos, pretos velhos e demais
entidades consideradas não evoluídas pelos kardecistas de então,
que confundiam cultura com bondade.
Surgiu, então, o primeiro ponto de Umbanda, muito cantado
nos terreiros:
Minha cachimba tá no toco.
Manda muréque buscá.
Minha cachimba tá no toco.
Manda muréque buscá.
No alto da derrubada.
Minha cachimba ficou lá.
No alto da derrubada.
Minha cachimba ficou lá.
Assim, foi introduzido na Umbanda o primeiro rito. Outros lhe
seguiram, por exemplo, quando houve a informação de que os
índios tinham o hábito de fumar e que foram eles que descobriram
as propriedades dessa planta, a qual eles enrolavam na forma de
um grande charuto, usado coletivamente por todos os participantes
de seus cultos religiosos, sendo considerada uma planta sagrada.
O uso do fumo pelas entidades incorporadas tem o efeito
purificador, quando elas atendem algum consulente com problemas
espirituais. A fumaça age como um desagregador de maus fluidos,
atingindo o corpo astral dos espíritos obsessores. Além disso, a
fumaça produzida pelos charutos e pelo fumo dos cachimbos cria
um escudo de proteção para a aura do médium.[10] Por extensão
desses hábitos incorporados ao terreiro, passou-se a oferecer doces
às crianças espirituais incorporadas.
Com a liberdade trazida pelo Caboclo das Sete
Encruzilhadas, os médiuns considerados inconvenientes pela
elitizada mesa kardecista da época passaram a frequentar a
Umbanda, a religião emergente. Uma parcela considerável dessas
pessoas era de etnia negra. Com isso, a Umbanda passou a contar
com uma boa parte de médiuns dessa etnia, que se sentiam muito àvontade pela ausência de preconceitos. Esses médiuns começaram
a enriquecer o ritual com práticas dos cultos africanos,
principalmente do candomblé, conhecidas por eles.
Foram introduzidos, assim, comidas de santo, atabaques e
outros instrumentos musicais. Esses fatos ocorreram com as tendas
nascidas da Tenda Nossa Senhora da Piedade, pois nesta nunca
foram utilizados instrumentos musicais e palmas.
Outra prática trazida pelos médiuns de etnia negra foram as
oferendas.[11] Os africanos tinham o hábito de oferecer a seus
Orixás, por exemplo, o vinho de palma. Na condição de escravos,
não tinham permissão para cultuar seus orixás e tampouco para
fazer tais oferendas.
Alguns escravos, que apresentavam faculdades mediúnicas,
eram escolhidos pelo grupo para serem iniciados nos mistérios de
sua religião. Esses escravos eram retirados, à noite, das senzalas
para serem iniciados no interior da mata. O escravo iniciado deveria
fazer uma oferenda a seu Orixá. Na ausência do vinho de palma, o
escravo era obrigado a tirar algo de valor do senhor branco (como
vinho, aguardente etc.) para ofertar ao Orixá. A bebida subtraída do
senhor branco constituía uma forma de cumplicidade e garantia de
que o escravo não trairia seus irmãos, denunciando-os, pois poderia
ser acusado de furto.
Justificam-se, assim, as obrigações dadas pelos médiuns a
seus orixás, dadas junto à natureza[12]
, geralmente à noite, em
função da tradição dos escravos africanos.CORRELAÇÃO ENTRE OS ORIXÁS
O povo de etnia negra aportado no Brasil, ao longo de três
séculos, era proveniente de vários locais da África, como Dahomey,
[13] Uganda, Nigéria, Angola, Moçambique, Costa da Guiné etc.
Segundo as pesquisas de Nina Rodrigues, médico e etnólogo, os
maiores contingentes saíram de três grandes áreas: Congo, Golfo
da Guiné e Sudão Oriental. Dessas áreas, dois grandes grupos
prevaleceram no Brasil, em cultura e em quantidade, que, para um
entendimento direto sobre sua vivência místico-religiosa, podem ser
localizados no Brasil e classificados da seguinte maneira.
Sudaneses
Provenientes da zona do Niger, na África Ocidental, foram
introduzidos na Bahia, de onde se espalharam pelo Recôncavo.
Uma quantidade menor foi para o Rio de Janeiro, Minas e
Maranhão.
Haussás – Bahia;
Tapas ou Nifés – Bahia;
Mandingas ou Mandés – Bahia;
Fulás ou Filanins ou Fulanis – Bahia;
Yorubanos ou Nagôs – Bahia;
Aschantis ou Minas – Maranhão, Bahia e Rio de Janeiro;
Ewês ou Jejes ou Fons – Bahia;
Bantos
Provenientes do Sul da África, foram levados para o Rio de
Janeiro e Pernambuco e, a partir de migrações menores, vontade pela ausência de preconceitos. Esses médiuns começaram
a enriquecer o ritual com práticas dos cultos africanos,
principalmente do candomblé, conhecidas por eles.
Foram introduzidos, assim, comidas de santo, atabaques e
outros instrumentos musicais. Esses fatos ocorreram com as tendas
nascidas da Tenda Nossa Senhora da Piedade, pois nesta nunca
foram utilizados instrumentos musicais e palmas.
Outra prática trazida pelos médiuns de etnia negra foram as
oferendas.[11] Os africanos tinham o hábito de oferecer a seus
Orixás, por exemplo, o vinho de palma. Na condição de escravos,
não tinham permissão para cultuar seus orixás e tampouco para
fazer tais oferendas.
Alguns escravos, que apresentavam faculdades mediúnicas,
eram escolhidos pelo grupo para serem iniciados nos mistérios de
sua religião. Esses escravos eram retirados, à noite, das senzalas
para serem iniciados no interior da mata. O escravo iniciado deveria
fazer uma oferenda a seu Orixá. Na ausência do vinho de palma, o
escravo era obrigado a tirar algo de valor do senhor branco (como
vinho, aguardente etc.) para ofertar ao Orixá. A bebida subtraída do
senhor branco constituía uma forma de cumplicidade e garantia de
que o escravo não trairia seus irmãos, denunciando-os, pois poderia
ser acusado de furto.
Justificam-se, assim, as obrigações dadas pelos médiuns a
seus orixás, dadas junto à natureza[12]
, geralmente à noite, em
função da tradição dos escravos africanos.CORRELAÇÃO ENTRE OS ORIXÁS
O povo de etnia negra aportado no Brasil, ao longo de três
séculos, era proveniente de vários locais da África, como Dahomey,
[13] Uganda, Nigéria, Angola, Moçambique, Costa da Guiné etc.
Segundo as pesquisas de Nina Rodrigues, médico e etnólogo, os
maiores contingentes saíram de três grandes áreas: Congo, Golfo
da Guiné e Sudão Oriental. Dessas áreas, dois grandes grupos
prevaleceram no Brasil, em cultura e em quantidade, que, para um
entendimento direto sobre sua vivência místico-religiosa, podem ser
localizados no Brasil e classificados da seguinte maneira.
Sudaneses
Provenientes da zona do Niger, na África Ocidental, foram
introduzidos na Bahia, de onde se espalharam pelo Recôncavo.
Uma quantidade menor foi para o Rio de Janeiro, Minas e
Maranhão.
Haussás – Bahia;
Tapas ou Nifés – Bahia;
Mandingas ou Mandés – Bahia;
Fulás ou Filanins ou Fulanis – Bahia;
Yorubanos ou Nagôs – Bahia;
Aschantis ou Minas – Maranhão, Bahia e Rio de Janeiro;
Ewês ou Jejes ou Fons – Bahia;
Bantos
Provenientes do Sul da África, foram levados para o Rio de
Janeiro e Pernambuco e, a partir de migrações menores,estenderam-se a Alagoas, ao Pará, a Minas Gerais e a São Paulo.
Congos ou Cambindas – Rio de Janeiro, Pará, Ceará, São
Paulo e Pernambuco;
Angolas ou Aumbundas – Rio de Janeiro;
Benguelas, Cassandes, Moçambiques, Fernando-Pó – Rio
de Janeiro.
Esses grupos de nações africanas daquela época chegaram
falando diversas línguas, porém duas delas se generalizaram e
predominaram no Brasil: uma delas foi adotada, de modo geral, em
toda a Bahia, a Nagô ou Yorùbá, derivada do grupo sudanês; a
outra, do grupo banto, foi a Kibundo ou Conguesa, a que mais se
distinguiu do Norte ao Sul do Brasil. Apenas os bantos guardaram o
termo “Umbanda”. Quando chegaram ao Brasil, tal termo, registrado
no idioma Kibundo, significava arte ou oficio de curar, evocar
espíritos etc.
No tocante aos aspectos religiosos, os nagôs ou yorubanos,
por meio de seus cultos, dominaram os demais, em razão de sua
organização hierárquica trazida da África, em que a Sociedade
Secreta Ogboni assumia a direção suprema do culto, que era
formado por lojas ou confrarias filiais em todas as cidades ou vilas.
Possuíam sinais, passes e senhas próprias e exerciam grande
influência na direção ou no governo dos nagôs.
Em relação aos nagôs, os bantos possuíam cultura e
mitologia muito pobres. Assim, gradativamente, foram assimilando
sua língua, cultura e mitologia. É comum, ainda hoje, em terreiros de
Angola, cultuarem-se orixás em lugar dos inkices. A seguir,
apresenta-se uma tabela com algumas correlações entre Orixás,
Voduns e Inkices.
ORIXÁS
DOS
VODUNS
DOS
INKICES
DOS
INKICES DOS
CONGOSNAGÔS JEJES ANGOLAS
Olódùmarè
ou Olorun
Mawu Nzambi ou
Zambi
Nzambi Mpungo
ou Zambiapongo
Oxalá ou
Obatalá
Olissará ou
Lissá
Lombarengenga
ou Cassumbeca
Lomba ou Lembá
Dilê
Exu ou
Elégbará
Elegba ou
Legbá
Aluvaiá Bombongira ou
Pambu Njila
Ogum Gun Rocha Mucumbe Nkoce Mucumbe
Oxóssi Odé ou Aguê Mutalombo Mutacalombo
Obaluaiê ou
Omolu ou
Xapanã
Azoani ou
Sakpatá
Caviungo ou
Cajanja
Kincongo
Xangô Sogbo ou
Badê ou
Khebiosô
Zaze ou Kibuco Kambaranguajê
Inhaçã ou
Oyá
Matamba Nunvurucemavula
ou Kaiangô
Yemanjá Dandalunda Pandá ou Kailá ou
Aziri Kaiá
Oxum Aziri Tobossi Kisimbi Kiximbi
Ossaim Mene Panzu Katendê
Nanã
Burukê
Nanã Nzumbarandá Karamoxe
Ibeji Hoho Wunje WunjeAS SETE LINHAS DA UMBANDA
De todos os assuntos discutidos na Umbanda, um dos que
mais provoca controvérsias é o das inúmeras linhas ou, mais
propriamente, “pseudolinhas” de Umbanda, que, via de regra,
encontram-se nos mais diferentes terreiros ou federações, que
procuram “criar” seus próprios conceitos sobre as sete linhas.
Erroneamente, costuma-se chamar Linha de Umbanda toda e
qualquer manifestação espiritual. Determinadas pessoas costumam
enquadrar espíritos que em vida pertenceram a determinadas
categorias profissionais como pertencentes a certa linha de
Umbanda. Um exemplo disso é a “linha” de baianos.
Existem, ainda, os que consideram as mil e uma subdivisões
existentes em uma mesma linha como sendo também uma linha de
Umbanda. Como exemplos podem ser citadas a linha de Oxóssi e
as “pseudolinhas” correspondentes, tais como: linha das Matas,
linha de Pena Branca, linha de Jurema etc.
Sobre o assunto W. W. da Matta e Silva escreveu o seguinte,
em 1957: “Reconheço que a Umbanda está “grávida” há 53 anos de
sete filhas gêmeas. Numa gestação aflitiva... Um parto que os
‘doutores do Santé ainda não conseguiram fazer’”.
Leal de Souza classificou as Sete linhas da seguinte maneira:
LINHA DE OXALÁ (Nosso Senhor do Bonfim);
LINHA DE OGUM (São Jorge);
LINHA DE EUXOCE (São Sebastião);
LINHA DE SHANGÔ (São Jerônimo);
LINHA DE NHAN-SAN (Santa Bárbara);
LINHA DE AMANJAR (Nossa Senhora da Conceição);
LINHA DAS ALMAS ou LINHA DE SANTO.Pelos conhecimentos da época, é uma interessante
classificação. Vejam o que ele escreveu no livro O Espiritismo, a
Magia e as Sete Linhas da Umbanda:
As sete linhas brancas
A linha branca de Umbanda e demanda compreende sete
linhas: a primeira, de Oxalá; a segunda, de Ogum; a
terceira, de Euxoce; a quarta, de Xangô; a quinta de Nhan-
San; a sexta, de Amanjar; a sétima é a linha de santo,
também chamada linha das almas.
Essas designações significam, na língua de Umbanda: a
primeira, Jesus, em sua invocação de Nosso Senhor do
Bonfim; a segunda, São Jorge; a terceira, São Sebastião; a
quarta, São Jerônimo; a quinta, Santa Bárbara e a sexta, a
Virgem Maria, em sua invocação de Nossa Senhora da
Conceição. A linha de santo é transversal e mantém a sua
unidade através das outras.
Cada linha tem o seu ponto emblemático e a sua cor
simbólica. A de Oxalá, a cor branca; a de Ogun, a
encarnada; a de Euxoce, verde; a de Xangô, roxa; a de
Nhan-San, amarela; a de Amanjar, azul.
Oxalá é a linha dos trabalhadores humílimos; tem a
devoção dos espíritos de pretos de todas as regiões,
qualquer que seja a linha de sua atividade e é nas suas
falanges, com Cosme e Damião, que em geral aparecem
as entidades que se apresentam como crianças.
A linha de Ogun, que se caracteriza pela energia fluídica
de seus componentes, caboclos e pretos da África, em sua
maioria, contém em seus quadros as falanges de
demanda.
A linha de Euxoce, também de notável potência fluídica,
com entidades frequentemente dotadas de brilhante saber,
é, por excelência, a dos indígenas brasileiros.
A linha de Xangô pratica a caridade sob um critério de
implacável justiça: “quem não merece, não tem; quem fazpaga”.
A linha de Nhan-San consta de desencarnados que na
existência terreal eram devotados a Santa Bárbara.
A linha de Amanjar é constituída dos trabalhadores do mar,
espíritos das tribos litorâneas, de marujos, de pessoas que
perecem afogadas no oceano.
Retomando as palavras de Leal de Souza temos:
Na falange geral de cada linha figuram falanges especiais,
como na de Euxoce, a de Urubatan; e na de Ogun, a de
Tranca Ruas, que são comparáveis às brigadas dentro das
divisões de um exército.
Todas as falanges têm características próprias para que se
reconheçam os seus trabalhadores quando incorporados.
Não se confunde um caboclo da falange de Urubatan com
outro da de Araribóia, ou de qualquer legião.
As falanges dos nossos indígenas, com os seus
agregados, formam o “povo das matas”; as dos marujos e
mais os espíritos da linha de Amanjar, o “povo do mar”; os
pretos africanos, o “povo da costa”; os baianos e mais
negros do Brasil, o “povo da Bahia”.
As diversas falanges e linhas agem em harmonia,
combinando os seus recursos para eficácia da ação
coletiva.
A organização de linhas e falanges obedecia a uma
necessidade dos adeptos da Umbanda, que sincretizaram os orixás
com os santos católicos, no início da religião. Não se deve esquecer
que, no final do século XIX e início do século XX, era comum
classificar, racionalizar e organizar. Também é bom ressalvar que,
nos cultos de nação, não existem as sete linhas. Linhas e falanges
constituem divisões que agrupam as entidades em função de suas
afinidades intelectuais e morais, sua origem étnica e,
principalmente, segundo o estágio de evolução espiritual em que se
encontram, no plano espiritual.O terreiro é um órgão adaptador de consciências. Assim,
quando perguntam a um filho de fé quais são as linhas da
Umbanda, a grande maioria não saberá responder. O que sabem é
que vão às sessões e recebem o Caboclo, o Preto Velho, a Criança,
o Exu. Essa é a vivência popular do movimento umbandista.
Falam na linha dos Caboclos, dos Pretos Velhos, das
Crianças, de Xangô, de Oxum, na linha do mar, da mata, das
pedreiras, na linha dos baianos, dos marinheiros, dos boiadeiros,
dos ciganos, dos esquimós etc.
Nesses terreiros, as entidades do Astral Superior utilizam
alimentos psíquicos, por meio de analogias simples, para que, no
futuro, esses filhos de fé estejam já fortalecidos em seus conceitos
mais puros e sutis. Essas adaptações visam interpenetrar o mental
e o coração de todos, de forma serena e suave, de modo a não
agredir o grau de consciência de cada um.
O quadro a seguir mostra cada uma das sete linhas, no
aspecto tradicional, com as respectivas cores e entidades que se
manifestam:
LINHA COR SINCRETISM
O
ENTIDADE
S
OXALÁ Branco Jesus Santos e santas
em geral
YEMANJÁ Azul Nossa Senhora da
Conceição
Entidades do
mar, Caboclos,
Marinheiros etc.
OGUM Vermelho São Jorge ou
Santo Antônio
Caboclos,
guerreiros em
geral
OXÓSSI Verde São Sebastião Caboclos
XANGÔ Marrom São Jerônimo Caboclos
IBEJI Azul ou
rosa
São Cosme e São
Damião
Crianças
AFRICANOS Preto e São Lázaro e Pretos Velhos e(OMULU ou
OBALUAIÊ)
branco São Roque Pretas Velhas
Analisando as Sete Linhas da Umbanda, sob a ótica dos
aspectos esotéricos, tem-se:
ORIXÁ PAR
VIBRATÓRIO
COR
ORIXALÁ ODUDUA Branco ou amarelo-
ouro
OGUM OBÁ Alaranjado
OXÓSSI OSSAIM Azul
XANGÔ INHAÇÃ (OYÁ) Verde
YORIMÁ NANÃ BURUQUÊ Violeta
YORI OXUM Vermelho
YEMANJÁ OXUMARÉ Amarelo
A Umbanda é um grande cadinho, em que se amalgamam
muitas consciências. Com certeza, há um conceito de sete linhas
para cada grupo, sem que isso afronte seu grau de entendimento.
Por vezes, perguntam se os umbandistas cultuam santos ou
Orixás. Não se trata de ser aqui dono da verdade, mas a vivência
permite responder que cultuam santos e Orixás. Por exemplo:
cultuam São Jorge e Ogum, achando que é a mesma entidade.
Projetam mentalmente o Orixá Ogum na imagem de São Jorge, mas
São Jorge não é Ogum e este não é São Jorge.
Matta e Silva explica que alguns santos católicos,
principalmente alguns mártires do cristianismo, possuem importante
função na grande lei da Umbanda; não na qualidade de santo, mas
como orixá intermediário (senhor da luz), que está situado na função
de chefia inerente a três planos: o de chefe de legião, chefe de
falange e chefe de subfalange:
O autor diz ainda:No entanto, os únicos que sabemos, por já termos
comprovado na identificação dos verdadeiros sinais
riscados da Lei de Pemba (a grafia celeste ou dos Orixás),
através dos seus enviados incorporantes, são as entidades
que se chamaram (quando no mundo da forma tiveram sua
fase de sofrimento, martírio ou elevação espiritual e
religiosa) Jorge, Sebastião, Jerônimo, Miriam ou Maria de
Nazaré, Cosme e Damião e principalmente Jesus, que
consideramos como Orixalá (Senhor da Luz de Deus),
porque reflete diretamente a vibração original de Orixalá, o
supremo “Khristos” e supervisiona essa linha, bem como
as demais, em sua fase de ação no planeta Terra.
Com exceção de Jesus, os demais são Orixás não
incorporantes que dirigem, cada um, uma legião, entre as sete que
compõem uma linha. Assim, a entidade de Jorge é a que projeta sua
identificação como Ogum de Lei (a justiça executante).
A entidade de Sebastião é a que projeta sua identificação
como Caboclo Arranca Toco (em analogia com a árvore em que
amarraram esse mártir). Jerônimo se identifica como Xango Kaô
(Kaô quer dizer o éter do Céu, a pedra do Céu e ainda o senhor que
julga). Maria de Nazaré (aquela que teve a graça) se identifica como
a Cabocla Yara ou a Mãe das Águas. Cosme e Damião (os puros,
os iluminados pela bondade) se identificam como os próprios
Cosme e Damião.
Essas identificações se processam por intermédio de
enviados denominados orixás intermediários, com a mesma
vibração e o mesmo nome de quando são incorporantes.
Para maiores detalhes sobre o tema, encaminha-se o
prezado leitor para a obra Umbanda de todos nós, de W. W. da
Matta e Silva. AS ENTIDADES ESPIRITUAS NA UMBANDA
Sob o aspecto das entidades espirituais, a Umbanda
sustenta-se em três pilares: os pretos velhos, os caboclos e as
crianças.
Alguns pretos velhos são espíritos de negros que viveram
como escravos no Brasil. Essas entidades caracterizam-se pela
humildade, pelo modo carinhoso com que tratam os consulentes,
transmitindo calma e conforto. Gostam muito de conversar e
esclarecer as dúvidas dos filhos de fé. Costumam fazer seus
trabalhos magísticos para auxiliar os que necessitam de uma cura
ou de um emprego. Durante as consultas, costumam fumar
cachimbo, utilizando sua fumaça para a limpeza de vibrações
negativas. Representam a força, a resignação, a sabedoria, o amor
e a caridade. Os pretos velhos cativam pela humildade, pela
paciência e pelo amor, como de um avô para com os filhos de
Umbanda que encontram nesses espíritos evoluídos o bálsamo
necessário para continuarem sua luta diária.
Os Caboclos manifestam-se nas linhas de Oxóssi, Ogum,
Xangô, Oxalá e Yemanjá. Alguns desses espíritos foram índios ou
mestiços, quando encarnados. Essas entidades caracterizam-se
pelo altruísmo e pela decisão. Em geral, dominam a arte das ervas,
receitando banhos e defumações para a limpeza de seus filhos de fé
e de suas casas. Utilizam, quando incorporados, os charutos, que
possuem função semelhante à dos cachimbos dos pretos velhos.
Essas entidades gostam de trabalhar junto à natureza, pois ali
encontram as energias e os elementos necessários para suas curas
espirituais e materiais. Alguns espíritos, embora em suas
encarnações tenham vivido em outros países, manifestam-se na
vibração dos Caboclos, como, por exemplo, os índios americanos,
os astecas, os maias e os incas.
As Crianças são espíritos puros que se manifestam na linha
de Ibeji, transmitindo alegria e harmonia aos consulentes. Quando
se manifestam, gostam de ser recebidos com doces, refrigerantes ebrinquedos. Manifestam-se sob a roupagem de um espírito infantil,
são muito amigas e têm grande poder espiritual. São conselheiros e
curadores, por isso foram associados a Cosme e Damião, curadores
que trabalhavam com a magia dos elementos. Em suas consultas,
modificam e equilibram a vibração dos consulentes, regenerando os
pontos de entrada de energia do corpo humano. Trazem mensagens
de incentivo, leveza e muita sabedoria.
Além dessas entidades que constituem a sustentação
magística da Umbanda, manifestam-se, ainda, os Baianos, os
Boiadeiros, os Marinheiros, os Oguns, os Exus e os Ciganos.
Os Baianos são entidades em evolução e prestam um auxílio
importante aos terreiros e aos seus frequentadores.
Gradativamente, eles foram chegando e tomando conta do espaço
que lhes foi dado pelo Astral, o qual aproveitaram de forma digna.
Os conselhos dados aos consulentes e médiuns demonstram uma
firmeza de caráter de quem soube aproveitar as lições recebidas.
Esses espíritos são bastante decididos e alegres e costumam
resolver com eficiência os casos de brigas, problemas entre casais
etc. Estão sempre prontos para ajudar os consulentes com seus
conselhos e sua proteção. Fumam charutos e cigarros de palha.
André Ricardo de Sousa cita: “A Umbanda segue em sua
vocação aproveitando elementos culturalmente diversos e
adaptando-se a realidades sociais diferentes. Nesse caráter
camaleônico da religião, o culto aos baianos vem crescendo
bastante nos últimos trinta anos”.
Os Boiadeiros têm um modo de trabalhar peculiar, manejando
o laço e chamando o gado, coisa que eles faziam com grande
destreza na Terra. Representam a força de vontade, a liberdade e a
determinação que existe no homem, além de sua necessidade de
conviver com a natureza e os animais, sempre de maneira simples,
mas com força e fé muito grandes. Trazem a descontração e fazem
importantes descarregos, enquanto dançam. Costumam, com seus
laços, criar verdadeiras espiras, nas quais “laçam” quiumbas que
perturbam a paz dos encarnados. São os vaqueiros, boiadeiros,
laçadores, peões e mestiços brasileiros e representam a própria
essência da miscigenação do povo brasileiro. Utilizam cigarro de
palha e charutos.Os Marinheiros, que em terra ou no mar sempre se
caracterizaram por gostar de bebidas alcoólicas, manifestam-se
cambaleando de forma ondulada, balanceando, liberando seu poder
energético por meio de ondas eletromagnéticas. São também muito
alegres e, em alguns terreiros, praticam curas espirituais. Trabalham
em descarregos, consultas, passes, no desenvolvimento dos
médiuns e em outros trabalhos que envolvem demandas.
Geralmente, quando se invocam os marinheiros, invocam-se
também as entidades do Povo da Água. Essas entidades não
costumam falar e apenas emitem sons suaves e melodiosos.
Os Oguns ou Caboclos de Ogum são espíritos guerreiros que
se manifestam na Linha de Ogum. Atuam na defesa dos filhos de fé,
quebrando demandas e vínculos de trabalhos de magia negra. São
os espíritos que ajudam a preservar a lei espiritual.
Os Ciganos são entidades que recentemente ganharam força
nos terreiros de Umbanda. Seus fundamentos são simples, não
possuindo assentamentos ou ferramentas para centralização da
força espiritual. São valiosas suas contribuições para o bem-estar
pessoal, social e sentimental, para a saúde e os equilíbrios mentais,
físicos e espirituais. Manifestam-se para resolver os problemas dos
consulentes, utilizando-se da magia de cristais, baralhos, moedas
etc. Cultuam a natureza, os astros e os ancestrais. A protetora do
povo cigano é Santa Sara Kali.
Além dessas entidades, manifestam-se também nos terreiros
os guias orientais, que geralmente comandam trabalhos de cura. A
falange do oriente tem como patrono São João Batista e é formada
por diversas entidades de origem oriental. Apesar disso, muitos
espíritos dessa falange podem apresentar-se como Caboclos ou
Pretos Velhos. Contudo, nem todos os espíritos são orientais no
sentido comum da palavra. Essa falange procurou abrigar as mais
diversas entidades, que, a princípio, não se encaixavam na matriz
formadora do povo brasileiro. A falange do oriente tornou-se popular
nas décadas de 1950 e 1960, quando as tradições budistas e hindus
se firmaram entre o povo brasileiro. Os imigrantes chineses e
japoneses, sobretudo, passaram a frequentar os terreiros de
Umbanda e trouxeram seus ancestrais e costumes mágicos.Como visto anteriormente, os Orixás constituem as
chamadas Sete Linhas da Umbanda. As entidades espirituais
agrupam-se em falanges ou correntes, como, por exemplo, a
falange de Ogum Beira Mar, a falange de Pena Branca, a falange de
Pai Benedito etc.
É comum observar que diversos médiuns incorporam
entidades com o mesmo nome. Isso ocorre porque muitas entidades
costumam adotar o nome do chefe da falange. Por exemplo, as
várias entidades que se apresentam com o nome de Caboclo Pena
Branca, na realidade, não têm esse nome e utilizam o do chefe da
falange, que é o Caboclo Pena Branca.
EXU E A KIMBANDA
Exu é aquele que faz o mal e o
bem, sem nenhum constrangimento.
Este é, sem dúvida, o assunto mais polêmico e confuso na
Umbanda e no candomblé, sendo raro encontrar opiniões iguais,
pela variação de entendimento e de correntes de seguidores dentro
dos cultos.
O termo Kimbanda[14] significa a polaridade executora da lei –
a paralela passiva da Umbanda e não sinônimo de magia negra,
como querem alguns. Tais ritos praticados com o nome de
Kimbanda deveriam, na verdade, ser chamados de kiumbanda.[15]
Matta e Silva[16] explica que a Kimbanda é composta de
legiões de espíritos, na fase de elementares, ou seja, dos espíritos
em evolução, dentro de certas funções kármicas e das condições
que lhes são próprias.
A Kimbanda é comandada pelos exus guardiões, espécie de
polícia de choque para o baixo Astral, que combatem as legiões de entre os diferentes domínios do Universo. O universo africano é
concebido como energia expressa no conceito de força vital, que é
única e várias são suas manifestações, sendo transmitidas por
intermédio de Exu aos seres e domínios do Universo. Roger
Bastide[21] diz que Exu é a divindade dos caminhos horizontalmente
ordenados no Universo, mensageiro nas relações entre os deuses e
dos caminhos verticais, estabelecendo as relações entre as
diferentes categorias ordenadas.
Mestre Itaoman[22] explica que os mitos da criação dos yorùbá
dizem que, no princípio, nada mais existia que Olorum no Aiyé.[23]
Olorum era uma massa infinita de ar, terra e água. Movendo-se
lentamente, uma parte dessa massa formou a lama, da qual se
originou um rochedo avermelhado sobre o qual soprou Olorum,
insuflando-lhe o hálito da vida. Assim, surgiu a primeira forma
dotada de existência individual: Exu Yangi, o símbolo por excelência
do elemento procriado. E, por relacionar-se com o infinito, ele é o
mensageiro divino, o Exu Ójisé.
A ação magística de Exu tem forte implicação na superação
de conflitos individuais, sendo a forma encontrada pelos seres
humanos para contornar seus obstáculos. Por meio de categorias
de pensamento mágico, Exu explica as contradições sociais e
individuais, racionalizando, no nível do imaginário, as
irracionalidades das estruturas sociais.
São comuns as oferendas a Exu. João de Freitas[24] cita que o
pahande[25] de Exu é algo transcendente, que não está ao alcance
de qualquer um. Ele simboliza a concentração de bilhões de
moléculas desses fluidos da natureza, que se transformam em
agentes astrais denominados Exus pela terminologia umbandista. O
autor comenta, ainda, que colocar em um alguidar farofa de milho
com azeite de dendê, em volta de um corpo inanimado de um
animal e juntar-lhe charutos, caixas de fósforos e cachaça não é
nada. Qualquer pessoa pode fazê-lo. Já pedir licença, fazer a
saudação e entregar o pahande, satisfazendo os preceitos
ritualísticos, é uma missão que só o ogã de entrega é capaz de
cumprir. Enquanto o ogã executa sua tarefa, a curimba vibra com os
pontos cantados e os Exus atuam sobre as faculdades sensoriais
dos médiuns.O pahande de Exu, tal como descrito, que traduz o
sentimento de gratidão das criaturas que foram beneficiadas por sua
poderosa vibratória, é feitiçaria no conceito dos descrentes e é
magia negra no conceito dos ignorantes. É necessário conhecer o
objetivo para o qual se concentram aqueles sentimentos, de todos
os matizes, em busca de paz, justiça e amor. É necessário conhecer
os sofrimentos humanos em toda a sua extensão para compreender
a finalidade de um pahande de Exu.
Muitas vezes, associa-se equivocadamente Exu ao diabo.
Mas quem são os exus?
Roger Bastide[26] comenta: ouvi os negros da Bahia
protestarem contra o nome do diabo dado às vezes a Exu, porque
percebem o que separa a figura do Exu da do demônio: ‘Não, Exu
não é o diabo, ele não é mau’”.
No entanto, as constantes fragmentações ocorridas nas
gerações subsequentes contribuíram para uma interpretação errada
sobre Exu. Edison Carneiro diz: “Exu ou Elegara tem sido
largamente mal interpretado. Tendo como reino todas as
encruzilhadas, todos os lugares esconsos e perigosos deste mundo,
não foi difícil encontrar-lhe símile no diabo cristão”.
O autor escreve ainda:
Exu não é um Orixá – é um criado dos Orixás e um
intermediário entre os homens e os orixás, é exatamente
por causa dessa sua qualidade que os candomblés
começam por festejá-lo. Toda festa começa com o
despacho de Exu (padê). Quando os negros dizem
despachar Exu, empregam esse verbo no sentido de
enviar, mandar. Exu é como o embaixador dos mortais.
Tem por objetivo realizar os desejos dos homens – sejam
bons ou maus – e cumpre a sua missão com uma precisão
matemática, com uma eficácia e uma pontualidade jamais
desmentidas. O despacho de Exu é uma garantia prévia de
que o favor a pedir será certamente obtido.
Assim, sendo Exu o intermediário entre os seres humanos e
os orixás, não é difícil compreender por que, em todos os trabalhosde magia, a primeira oferenda lhe é dedicada, pois quem movimenta
a magia nada pode fazer ou realizar sem recorrer a esse agente.
Mas não é só com o diabo que Exu é sincretizado. Às vezes,
encontra sincretismo em Santo Antônio, porque induz à tentação,
incita maus pensamentos e perturba as cerimônias[27]
. Também é
sincretizado com São Bartolomeu, porque, no dia 24 de agosto, dia
desse Santo, costuma-se dizer que todos os demônios estão soltos.
Um sincretismo pouco usual é encontrado no Rio Grande do
Sul, onde seu símile é São Pedro, pois esse santo é o porteiro do
paraíso, responsável pelo tráfego das almas, assim, é ele quem
abre e fecha os caminhos.
O termo “Exu” pode sofrer variações em função da nação
africana que influenciou determinado candomblé. Assim, tem-se:
Keto: Exu;
Jeje: Elegbará;
Angola: Aluvaiá;
Congo: Bombongira.
Cavalcanti Bandeira faz a seguinte abordagem sobre os
Exus:
O Candomblé, com sua base africanista, considera o Exu
como orixá desobediente, capaz de perturbar as
cerimônias, por isso devendo ser afastado, não só dos
trabalhos, como da localização dos “quartos de santos”.
O Exu tem então a sua casa trancada a chave e com
cadeado, num simbolismo dessa prisão, a qual fica
próxima à entrada, por fora do prédio onde se realizam os
rituais e sem estar sob o mesmo teto dos orixás, razão
ainda por que lhes são ofertados os primeiros sacrifícios
para evitar quaisquer interferências ou perturbações nos
trabalhos a desenvolver.
Surge, assim, um fundamento por todos aceito, permitindo
ordenar alguns conceitos primários de que, aceitando
ofertas e executando trabalhos, são dotados de algum
conhecimento pelas suas manifestações, não sendo tãosomente forças da natureza, mas não necessariamente
almas humanas, num sentido reencarnacionista, sem levar
em conta, ainda, a explicação do fundamento africano em
sua irmandade com outros Orixás.
O Exu é considerado então, pelos africanistas, como um
mensageiro dos orixás, ou uma força a ser mobilizada, sem
a qual não se iniciam os trabalhos, pois lhe cabe dar a
segurança nas tarefas, limpar o ambiente ou abrir os
caminhos, o que não se consegue sem a sua permissão. É
um guardião, uma sentinela pela qual se tem de passar,
cumprimentar e agradecer.
Nos terreiros de Umbanda, ocorrem concepções diferentes
havendo, no entanto, algumas ligações com a cultuação
africanista que vão se diluindo com o passar do tempo.
Existem na Umbanda conceitos que requerem maiores
esclarecimentos, como Exu pagão e o Exu batizado.
É necessário ingressar num campo de vidas anteriores,
esboçando etapas da evolução em função do passado, que
marcam as atuações no presente, num entrosamento
seletivo com a intenção dos trabalhos, com sensibilidade
mais nítida ante as pessoas que procuram a ajuda
espiritual, indo numa escala desde a magia negra, da
Quimbanda, aos trabalhos para o bem.
Este tipo de trabalho exige uma força semimaterial para
poder penetrar nessas áreas poderosas, onde se localizam
potências maléficas, necessitando, para combatê-las, de
guardiões que possuem afinidade com esses meios
através de suas vibrações.
Muitas entidades trabalham sob a denominação de Exu.
Cada um, cada lugar tem o seu guardião, o seu Exu, que
deve ser convocado para agir naquele campo de vibrações
densas, pois tudo existe e age conforme a afinidade de
cada meio em função da mente dos participantes, seja
para o bem, seja para o mal.
Com exceção de alguns meios umbandistas, onde
encontrarmos por vezes para Exu o fundamento africanista
nítido, na maioria há uma função em torno do conceito deExu-alma, daí a denominação de Exu pagão [28] e batizado
[29]
. São situações que os próprios nomes definem, pois o
Exu pagão é tido como o marginal da espiritualidade,
aquele sem luz, sem conhecimento da evolução,
trabalhando na magia do mal e para o mal, em pleno reino
da quimbanda sem que, necessariamente, não possa ser
despertado para evoluir de condição.
Já o Exu batizado, caracteristicamente definido como alma
humana, sensibilizada para o bem, trilhando um caminho
de evolução, trabalha, como se diz, para o bem, dentro do
reino da quimbanda, por ser força que ainda se ajusta ao
meio, nele podendo intervir, como um policial que penetra
nos antros de marginalidade.
Há, portanto, uma ligação muito acentuada de escalas de
evolução e situação espiritual, pois muitos revelam
conhecimentos em demonstrar poderes curativos,
distanciando-se do enquadramento de agentes do mal,
numa progressão dentro do terreiro, feita através da
mediunidade dos seus médiuns, que também evoluem
paralelamente.
Não se deve, entretanto, confundir Exu com espírito
zombeteiro, mistificador ou equivalentes, porque estes
pertencem a outra classificação, como espíritos legítimos
que o são, daí a denominação específica de quiumbas,
definindo de maneira precisa esses espíritos obsessores
ou perturbadores, passíveis de evolução quando
doutrinados ou esclarecidos da situação em que se
encontram.
O lado feminino de Exu manifesta-se através da Pombagira
(proveniente do termo Bombojira). A Pombagira é
explicada como sendo um espírito inferior, na maior parte
dos casos estacionários, com o mesmo cortejo fálico e de
vibrações densas, querendo ser comprada, por ser a
mulher mais perseverante no seu conservadorismo, mas
algumas aceitam o caminho evolutivo, dependendo do
médium em que incorporam.[30]Exu Marabô:
Exu Capa Preta;
Exu Lonan;
Exu Bauru;
Exu das Matas;
Exu Campina;
Exu Pemba.
Exu Giramundo:
Exu Meia-Noite;
Exu Quebra Pedra;
Exu Ventania;
Exu Mangueira;
Exu Corcunda;
Exu das Pedreiras.
Exu Pinga Fogo:
Exu do Lodo;
Exu Brasa;
Exu Come Fogo;
Exu Alebá;
Exu Bara;
Exu Caveira.
Exu Tiriri:
Exu Mirim;
Exu Toquinho;
Exu Ganga;
Exu Manguinho;
Exu Lalu;
Exu Veludinho.
Exu Pombagira:
Exu Carangola;
Exu Ma Cangira;
Exu Nanguê;
Exu Maré;Exu Gererê;
Exu do Mar.
Cada um destes quarenta e nove exus tem também seu
grupo de sete guardiões, que podem, ou não, utilizar os mesmos
nomes dos chefes de legião e assim por diante.
São muito importantes as funções do Exu Caveira e seu
comandado Exu Tranca Ruas das Almas, que faz a intermediação
da Kimbanda com a kiumbanda. Ele tem acesso a essas zonas
inferiores e é um ser de grande poder de irradiação mentalizadora e
de frenação. É o coordenador das energias livres, existentes nos
cemitérios, matadouros etc. Essas energias livres, quando bem
direcionadas, são de grande utilidade, inclusive para pessoas
desvitalizadas e evitam que seres de baixo nível[32] as utilizem para
fins deletérios.
O Exu Pombagira tem função importantíssima na
higienização sensual do Planeta. Dos sete exus, a Senhora
Pombagira é a única mulher, o que deu aos apressados pensarem
que ela é mulher de sete exus.
Em um terreiro de Umbanda bem dirigido moralmente, os
exus de lei executam as ordens de caboclos, pretos velhos e
crianças, ou seja, aplicam a lei, que para muitos pode ser
interpretada como um mal, dependendo de sua condição kármica.
Exu está acima do bem e do mal; não é bom nem mau, é justo. Exu
é o senhor da magia, o saneador planetário.
Para mais detalhes sobre o tema, remeta-se, leitor, para o
livro Você sabe o que é macumba? Você sabe o que é Exu? de
autoria de Diamantino Fernandes Trindade.
VIBRATÓRIAS ESPIRITUAIS DE ACORDO COM
OS CONCEITOS ESOTÉRICOS DA UMBANDADentro dos conceitos esotéricos da Umbanda, as sete
essências espirituais são expressas por meio de pares vibracionais.
A polaridade dos orixás é dual, mas assim só se expressam no
Universo Astral por meio da manifestação nos chamados eterno
masculino e eterno feminino.
ORIXÁ PAR
VIBRATÓRIO
ORIXALÁ ODUDUA
OGUM OBÁ
OXÓSSI OSSAIM
XANGÔ OYÁ ou INHAÇÃ
YORIMÁ NANÃ BURUQUÊ
YORI OXUM
YEMANJÁ OXUMARÉ
Cada uma dessas vibrações está associada a determinadas
relações vibratórias.VIBRATÓRIA DE ORIXALÁ
Esta vibratória é a detentora da luz espiritual que ilumina toda
a corrente astral de Umbanda.
Significado: a luz do Senhor Deus.
Cor vibratória: branco ou amarelo-ouro.
Geometria sagrada: ponto geométrico.
Número sagrado: 1.
Signo zodiacal: Leão.
Astro regente: sol.
Dia propício: domingo.
Elemento: fogo.
Pontos cardeais: sul e sudeste.
Metal: ouro.
Mineral: cristais brancos.
Horário vibratório: das 9 horas às 12 horas.
Essência volátil: sândalo
Flores sagradas: maracujá e girassol.
Erva sagrada: oliveira
Erva de Exu: guiné.VIBRATÓRIA DE OGUM
Esta vibratória é manipuladora dos elementos aquosos.
Ogum é o senhor primaz da água.
Significado: o fogo da glória ou da salvação.
Cor vibratória: alaranjado.
Geometria sagrada: heptágono.
Número sagrado: 7.
Signos zodiacais: Áries e Escorpião.
Astro regente: Marte.
Dia propício: terça-feira.
Elementos: fogo e água.
Pontos cardeais: sul e oeste.
Metal: ferro.
Minerais: rubi e água-marinha.
Horário vibratório: das 3 horas às 6 horas.
Essências voláteis: cravo e tuberosa.
Flor sagrada: cravo vermelho.
Erva sagrada: jurubeba.
Erva de Exu: espada de São Jorge. VIBRATÓRIA DE YORI
Yori é o senhor do princípio espiritual manifesto no princípio
natural, ou seja, o princípio manifestado na forma.
Significado: a potência em ação do verbo.
Cor vibratória: vermelho.
Geometria sagrada: triângulo.
Número sagrado: 3.
Signos zodiacais: Gêmeos e Virgem.
Astro regente: Mercúrio.
Dia propício: quarta-feira.
Elementos: ar e terra.
Pontos cardeais: leste, nordeste, noroeste e centro.
Metal: mercúrio.
Minerais: esmeralda e granada.
Horário vibratório: das 12 horas às 15 horas.
Essências voláteis: alfazema e benjoim.
Flor sagrada: crisântemo branco.
Erva sagrada: manjericão.
Erva de Exu: pitanga.VIBRATÓRIA DE YEMANJÁ
Yemanjá, a senhora da energia mental, é a potência geradora
das almas, a transformadora da substância etérica.
Significado: o princípio natural.
Cor vibratória: amarelo.
Geometria sagrada: reta.
Número sagrado: 2.
Signo zodiacal: Câncer.
Astro regente: lua.
Dia propício: segunda-feira.
Elementos: água.
Pontos cardeais: oeste e sudoeste.
Metal: prata.
Minerais: ágata e cristais leitosos.
Horário vibratório: das 18 às 21 horas.
Essência volátil: verbena.
Flor sagrada: rosas brancas.
Erva sagrada: panaceia.
Erva de Exu: bananeira.Figura 7: Ideograma de Yemanjá.
O horário vibratório de Exu é da meia-noite às 3 horas.
PONTOS CANTADOS
Os pontos cantados são formas de oração entoadas nos
rituais de Umbanda, com a finalidade de obter-se harmonia de
vibrações com as entidades que se manifestam nos terreiros e
também com os orixás. Existem, ainda, os pontos cantados para
trabalhos específicos, como pedidos de proteção, descarregos etc.
Os terreiros possuem um grupo de pessoas que formam a
chamada curimba, a qual entoa os pontos cantados. Muitas dessascurimbas possuem atabaques, agogôs e outros instrumentos
musicais, que, muito utilizados nas macumbas cariocas, foram
introduzidos nos rituais umbandistas na Tenda Espírita São Jorge,
na década de 1930.
Na Tenda Nossa Senhora da Piedade, os pontos sempre
foram cantados sem a utilização desses instrumentos, inclusive sem
a utilização das palmas, batendo-se os pés no assoalho de madeira.
João Severino Ramos, dirigente da Tenda São Jorge,
fundada por ordem do Caboclo das Sete Encruzilhadas, escreveu,
em 1953, o livro Umbanda e seus cânticos, em que fez um
levantamento sobre os pontos mais cantados na Tenda Nossa
Senhora da Piedade e suas afiliadas. A seguir, suas palavras:
Os pontos cantados da Umbanda são verdadeiras preces.
Provocam vibrações mentais homogêneas que se
aglutinam e formam uma corrente fluídico-magnética
propícia à eficiência maior dos trabalhos experimentais.
Como hino ou evocação, os pontos podem ser de atração
ou afastamento; de alegria ou de luta; de festa ou de
demanda etc. Sua finalidade é, porém, sempre, a de reunir,
homogeneizar pensamentos.
Apresentam-se, aqui, alguns pontos que são muito cantados
nos terreiros de Umbanda. Alguns deles sofrem algumas alterações
de terreiro para terreiro.Pontos de Ogum
Beira-mar, auê, beira-mar
Beira-mar, quem está de ronda é militar
Ogum já jurou bandeira
Na ponta de Humaitá
Ogum já venceu demanda
Vamos todos sarava!
Ogum Yara, Ogum Megê
Olha, Ogum Rompe Mato, auê
Ogum Yara, Ogum Megê
Oi, cangira de Umbanda, auê
Capitão do mato mandou me chamar
Tempo não tenho, caminhos há
Olha o militar, quem está de ronda é militar
Olha, Ogum está de ronda
Miguel está chamando
Eu não sei onde é é é
Oi, me diz onde é é é
Oi, pombinha de fé é é é
Oi, me diz onde é é é
Que cavaleiro é aquele
Que vem navegando sobre o mar azul?
É Seu Ogum Matinata
Que vem defender
O Cruzeiro do Sul
Ê ê ê
Ogum ê
Ê ê a
Ogum meu pai
Ê ê ê
Seu cangira
Pontos de Ogum
Beira-mar, auê, beira-mar
Beira-mar, quem está de ronda é militar
Ogum já jurou bandeira
Na ponta de Humaitá
Ogum já venceu demanda
Vamos todos sarava!
Ogum Yara, Ogum Megê
Olha, Ogum Rompe Mato, auê
Ogum Yara, Ogum Megê
Oi, cangira de Umbanda, auê
Capitão do mato mandou me chamar
Tempo não tenho, caminhos há
Olha o militar, quem está de ronda é militar
Olha, Ogum está de ronda
Miguel está chamando
Eu não sei onde é é é
Oi, me diz onde é é é
Oi, pombinha de fé é é é
Oi, me diz onde é é é
Que cavaleiro é aquele
Que vem navegando sobre o mar azul?
É Seu Ogum Matinata
Que vem defender
O Cruzeiro do Sul
Ê ê ê
Ogum ê
Ê ê a
Ogum meu pai
Ê ê ê
Seu cangiraPisa na Umbanda
Eu tenho sete espadas pra me defender
Eu tenho Ogum na minha companhia
(bis)
Ogum é meu pai
Ogum é meu guia
Ogum é meu pai
Vivo com Deus e a Virgem Maria
Ogum olha sua bandeira
É branca, é verde, é encarnada
Ogum, nos campos de batalha
Ele venceu a guerra
Sem perder soldados
Seu Ogum beira-mar
O que trouxe do mar?
Seu Ogum beira-mar
O que trouxe do mar?
Quando ele vem
Beirando areia
Traz na mão direita
O rosário de mamãe sereiaPontos de Yemanjá
Quem quer me ver sobre a terra?
Quem quer me ver sobre o mar?
Sou a cabocla Jandira
Sou a sereia do mar
Eruê ruê ruê
Eruá ruá rua
Eruê ruê, Jandira
Hoje é dia de Nossa Senhora
De nossa mãe Yemanjá
Olundaê, ê, ê
Olunda á, á, á
Brilham as estrelas do céu
Brilham os peixinhos do mar
Olundaê, ê, ê
Olunda á, á, á
Baixou, baixou
A Virgem da Conceição
Maria Imaculada
Para tirar a perturbação
Se tiveres praga de alguém
Desde já seja perdoado
Levando pro mar adentro
Pras ondas do mar sagrado
Eu vou jogar
Vou jogar flores no mar
Eu vou jogar
Uma promessa eu fiz
Para Deus me ajudarVou pedir, vou vencer
Vou vencer, vou pagar
Eu vou jogar
Vou jogar flores no mar
Eu vou jogar
Ê, ê, Yemanjá
Ê, ê, Yemanjá
Rainha das ondas, sereias do mar
Rainha das ondas, sereias do mar
Como é lindo o canto de Yemanjá
Faz até o pescador chorar
Quem ouvir a mãe d'água cantar
Vai com ela pro fundo do mar
Ê, ê, Yemanjá
Ê, ê, Yemanjá
Rainha das ondas, sereias do mar
Rainha das ondas, sereias do mar
Saia do mar
Minha sereia
Saia do mar
Venha brincar na areia
Saia do mar
Sereia bela
Saia do mar
E venha brincar com elaPontos de Oxóssi
Eu corri terra, eu corri mar
Até que cheguei aqui no meu congá
Ora viva Oxóssi na mata
Que a folha da mangueira
Ainda não caiu
A mata estava escura
E um anjo alumiou
No seio da mata virgem
Quando Oxóssi chegou
Ele é rei, ele é rei, ele é rei
Ele é rei, na Aruanda ele é rei
Com tanto pau na mata
Eu não tenho guia
Caboclo Araraguaia
Vai buscar a guia!
Mas ele é capitão da Marambaia
Mas ele é capitão da Marambaia
Mas ele é capitão da Marambaia
Mas ele é seu Oxóssi na Arucaia
Caboclo roxo da cor morena
O seu Oxóssi é caçador lá da Jurema
Ele jurou, e ele jurará
Pelos conselhos que a Jurema veio dar
A mata estava escura
Um anjo alumiou Oxalá é o rei do mundo
Oxalá é o meu senhor
Omolu, dono da peste
Obaluaiê, atotô
Um passarinho cantava longe
E, de repente, ele voou
Era um velho caminhando na estrada
Era o velho Omolu, atotôPontos do Povo do Mar
Hoje é dia de Nossa Senhora
Da nossa Mãe Yemanjá
Oh, luna hê-ê-ê
Oh, luna ah-á-á-á
Brilham as estrelas no céu
Brincam os peixinhos no mar
Oh, luna hê-ê-ê
Oh, luna ah-á-á-á
Quem quer me ver sobre a terra?
Quem quer me ver sobre o mar?
Sou a Cabocla Jandira
Sou a sereia do mar
Ei-uei-uei
Ei-uei-uei! ah!
Ei-uei-uei
Jandira
Caboclo, caboclo
Das ondas do mar
Quero ver esta demanda
Que caboclo vai ganhar!Pontos de Pretos Velhos
Pinto piou na calunga
Galo cantou lá na Angola
Olha congo que vem de Carangola
Trazendo miçangas em sua sacola
Olha congo que vem de Carangola
Botando os inimigos de porta pra fora
Pai Joaquim, êh! êh...
Pai Joaquim êh! ah!...
Pai Joaquim vem lá da Angola
Pai Joaquim é de Angola, Angola
Bate, bate na cumbuca
Repenica no congá
Chega minha povo
E vamos trabalhar
Dá licença, Pai Antônio
Que eu não vim lhe visitar
Eu estou muito doente
Vim pra você me curar
Se a doença for feitiço
Pula lá em seu congá
Se a doença for de Deus
Pai Antônio vai curar
Coitado de Pai Antônio
Preto velho curador
Foi parar na detenção
Por não ter um defensor
Pai Antônio é quimbanda
É curador
É pai de mesaÉ curador
É pai de mesa
É curador
Pai Antônio é quimbanda
É curador
Lá vem vovó descendo a serra
Com a sua sacola
Ela traz a pemba
Ela traz a toalha
Ela vem de Angola
Eu quero ver vovô
Eu quero ver vovó
Eu quero ver se filho de Umbanda
Tem querer
Vovó não quer
Casca de coco no terreiro
Vovó não quer
Casca de coco no terreiro
Traz lembrança com saudades
Dos tempos de cativeiroPonto das Almas
Eu andava perambulando
Sem ter nada para comer
Fui pedir às santas almas
Para vir me socorrer
Foi as almas que me ajudou
Foi as almas que me ajudou
Meu Divino Espírito Santo
Viva Deus Nosso Senhor!
Pontos de Boiadeiros
Me chamam boiadeiro
Boiadeiro eu não sou não
Eu sou laçador de gado
Boiadeiro é meu patrão
Getuê, getuá
Corda de laçar meu boi
Getuê, getuá
Corda de meu boi laçar
Boiadeiro, prenda seu gado
Não deixe beber dessa fonte
Eu venho de muito longe
Atravessei sete montes
Quando atravessei o rio
Eu vi meu gado na fonte
Sou laçador, senhor do sertão
No meu cavalo, trago laço na mão
Seu boiadeiro, por aqui choveu
Seu boiadeiro, por aqui choveu
Choveu, relampeou
Foi nessa água que meu boi nadou
Mas,
Seu boiadeiro, por aqui choveu
Seu boiadeiro, por aqui choveu
Choveu, relampeou
Foi nessa água que meu boi nadou
Seu boiadeiro, por aqui choveu
Choveu que água rolou
Foi nessa água que meu boi nadou
Foi nessa água que meu boi nadou
Seu boiadeiro, cadê sua boiada?Sua boiada ficou em Belém
Chapéu de couro ficou lá também
Chapéu de couro ficou lá tambémPontos de Marinheiros
Seu marinheiro
Que vida é a sua?
Tomando cachaça
Caindo na rua
Eu bebo, sim
Eu bebo muito bem
Bebo com meu dinheiro
Não devo nada a ninguém
O Cirandeiro
Cirandeiro ó
O Cirandeiro
Cirandeiro ó
A pedra do seu anel
Brilha mais que ouro em pó
A pedra do seu anel
Brilha mais que ouro em pó
Seu Martim Pescador
Que vida é a sua?
É bebendo cachaça
Caindo na rua
Eu também sei nadar
Eu também sei nadar no mar
Eu também sei nadar
Eu também sei nadar no mar
Eu também sei, também sei, também sei nadar
Eu também sei, também sei, também sei nadar
Na barra vi só dois navios
Perguntando se podia entrar
A barra já está tomada, seu marujoNessa barra aqui quem manda é Oxalá
A barra já está tomada, seu marujo
Nessa barra aqui quem manda é OxaláPontos de Exu
É Exu! Ora pisa no toco, ora piso no galho
Ora pisa no toco, ora pisa no galho
Segura a macumba, mas eu não caio, oh! Ganga
Eh! Eh! ô
Ele pisa no toco de um galho só
Eh! Eh! ô
Ele pisa no toco de um galho só
A bananeira que eu plantei à meia-noite
E que deu cacho à beira do terreiro
Eu quero ver esse cabra que é maluco
Que risca ponto contra feiticeiro
Exu! Exu!
Oh! Diz Exu da encruzilhada
Exu! Exu!
Sem Exu não se faz nada
Na porteira de Belém
Já bateu um sino só
Olha lá meu galo preto
Vai bater no carijó
Exu Tiriri de Umbanda
Mora na encruzilhada
Toma conta e presta conta
Ao romper da madrugada
O sino da igrejinha faz belém blem blom
O sino da igrejinha faz belém blem blom
Deu meia-noite e o galo já cantou
Exu (nome) que é o dono da giraNessa barra aqui quem manda é Oxalá
A barra já está tomada, seu marujo
Nessa barra aqui quem manda é OxaláPontos de Exu
É Exu! Ora pisa no toco, ora piso no galho
Ora pisa no toco, ora pisa no galho
Segura a macumba, mas eu não caio, oh! Ganga
Eh! Eh! ô
Ele pisa no toco de um galho só
Eh! Eh! ô
Ele pisa no toco de um galho só
A bananeira que eu plantei à meia-noite
E que deu cacho à beira do terreiro
Eu quero ver esse cabra que é maluco
Que risca ponto contra feiticeiro
Exu! Exu!
Oh! Diz Exu da encruzilhada
Exu! Exu!
Sem Exu não se faz nada
Na porteira de Belém
Já bateu um sino só
Olha lá meu galo preto
Vai bater no carijó
Exu Tiriri de Umbanda
Mora na encruzilhada
Toma conta e presta conta
Ao romper da madrugada
O sino da igrejinha faz belém blem blom
O sino da igrejinha faz belém blem blom
Deu meia-noite e o galo já cantou
Exu (nome) que é o dono da gira
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manual da umbanda para iniciantes
SpiritualUm manual para aprender sobre a religião de matriz africana se origem brasileira, umbanda.