"Você pode viajar no tempo através das lembranças. Você não sai de um espaço físico, mas sua mente viaja através da lembrança, daquele exato momento, como se você estivesse realmente lá. É assim quando nos lembramos de algum evento que marcou nossa vida..."
Lizzy desistiu de ler mais uma página de site que falava sobre o assunto "viagem no tempo".
"A possibilidade real de uma viagem no tempo é, hoje em dia, praticamente nula do ponto de vista prático..."
Não, não aquilo definitivamente não estava ajudando. Ela quase socou o mouse ao fechar a aba do navegador. Fechou o notebook, sentindo a frustração crescer. Ela tinha uma carta de Darcy, que guardou em um pacote plástico de fichário, apenas para não vê-la se desintegrar. Afinal, com a ação do tempo, o papel já estava frágil. Ela deveria tomar cuidado com aquilo, como se fosse algo sagrado. Por isso, guardou na gaveta da mesinha de cabeceira ao lado da cama. E não mexeu mais. Até mesmo imprimiu cópias, para ter guardada, para o caso de querer ler mais uma vez.
O tour em Pemberley não fora satisfatório. Não havia mais nada que mostrasse indícios do que aconteceu com Darcy. Apenas que ele teve uma vida plena e longa, morrendo sozinho em Pemberley, sem gerar qualquer herdeiro. Ele nunca parou de trabalhar, nunca teve sequer um escândalo, uma amante, um filho ilegítimo, nem ao menos tentou se matar. Morreu de um problema cardíaco. Apoplexia. Foi encontrado em seu escritório, na idade de 45 anos, com algumas anotações sobre viagem no tempo. E isso dilacerou o coração de Lizzy. Ele ainda estava tentando busca-la. Ela preferia muito mais que ele tivesse se casado, ou tido um caso amoroso, do que ficar procurando por ela. Bom, ela estava mentindo. Ela sofreria de um ciúme corrosivo se soubesse que ele foi feliz, mas ao menos, ele merecia ser. Não merecia sofrer e não encontrar a felicidade. Mas, o que se aplicava a ele, não se aplicava a ela.
Já fazia quase três meses que ela estava de volta. E tudo que ela fazia era trabalhar, voltar para casa, cuidar de Boris, comer sorvete, chorar, ler todas as versões de Orgulho e Preconceito, até mesmo fanfics. Ela não fazia tudo na mesma ordem.
Para piorar sua situação, mesmo que ela mergulhasse sua atenção no trabalho, acabava errando nas traduções. Meredith a cobria, mas nem sempre isso era possível. Às vezes alguns erros eram vistos por Brian, que apontava tudo isso em caixa alta, ao enviar mensagens grosseiras por e-mail. Ao menos, pessoalmente nas reuniões, ele não gritava, mas era condescendente com ela. O que a fez tomar uma decisão. Ela estava cansada de trabalhar para aquela editora. Não havia mais sentido em continuar naquele lugar. Nada lhe trazia prazer, nem mesmo o trabalho. Era como se Lizzy fosse apenas uma máquina sem emoções, fazendo o trabalho repetitivo de cada dia. Mas, ela encontrou um modo de sair da sua apatia. E já havia recebido a ligação que precisava. Ela iria tomar uma decisão em breve quanto ao seu trabalho e sair de lá.
"ELIZABETH, VENHA A MINHA MESA AGORA!"
O e-mail de Brian estava claro. Ele devia ter encontrado mais um erro dela nas traduções. Ela não poderia julga-lo por estar bravo. Mas, ele poderia ser um pouco mais educado.
Lizzy levantou da cadeira, com as pernas bambas, mas estava decidida. Puxou um envelope dentro da gaveta dela e rumou para sala do editor chefe. Ele estava sentado de costas para ela, olhando para os janelões. Dali era possível ver o trafego de carros.
Ela esperou que ele se virasse. Sentia seu coração opresso, a garganta seca. Não gostava de como as coisas estavam. Sabia que estava sendo negligente em seu trabalho, mas como poderia lidar com tudo aquilo? Com toda a bagunça que se tornou sua vida, no quesito emocional? Ela precisava ser sincera e abrir o jogo com Brian.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Perdida no século XVIII - Orgulho e Preconceito
Fiksi PenggemarLizzy Bennet sempre foi uma mulher decidida, contudo, solitária. Ela não tem um namorado e está sempre trabalhando. Sua única família é sua irmã Jane. E seus dois amigos, Meredith e Joshua. Toda sua vida muda, quando conhece um homem estranho no ba...