Aquela era só mais uma das cenas horríveis que a polícia italiana presenciava todos os dias, então todos já tinha aprendido a lidar de maneira indiferente com a quantidade enorme de sangue que banhava o carpete e manchava as paredes daquele quarto de hotel barato —eu diria que o dono do lugar não deveria estar muito contente por ter que lidar com aquilo em seu estabelecimento, mas pelo que entendi, não era nem a primeira e nem a segunda vez que a Homicídios ia recolher um corpo ali. Acontece que aquela era a minha primeira vez e eu estava tentando disfarçar o fato de eu estar completamente impressionado por ver uma cabeça humana separada do resto do corpo.
Depois que você passa 5 anos como guarda de trânsito e cai de paraquedas como investigador no departamento da Homicídios, leva um tempo para se acostumar com o quão bizarro o ser-humano poderia ser ao matar alguém. Como se só o fato de matar não fosse doentio o suficiente.
Até então, eu havia visto cenários como aquele apenas nas fotos dos diversos arquivos que me foram mostrados, e olhe que já foram o suficiente para me aterrorizar durante a noite por alguns dias. Enforcamentos, esquartejamentos, sacrifícios, feminicídios horríveis, cadáveres infantis, morte por decapitação, membros decepados e todos os estados que um corpo pode passar. Havia de tudo nos arquivos de estudo da Homicídios.
Meu parceiro, Adrián, era um veterano. Seja de idade, com seus trinta e nove anos, como de experiência: ele é um Oficial há mais tempo do que eu sou maior de idade, já foi também do departamento da Narcóticos, se não estava enganado —ou desnorteado pelo cheiro terrível do sangue. Em outras palavras, o cara simplesmente era bom sem precisar de um mínimo esforço. Ele conseguia manter uma esposa em casa e conciliar aquilo com seu desempenho exemplar na profissão. Fiquei sabendo de alguma situação envolvendo o filho deles, algum acidente ou coisa parecida, mas não entendi direito e não parecia ser um assunto legal para ter com ele.
Como todo militar que um dia já conheci, ele tinha um jeito de ser bem peculiar. Era curto e grosso e parecia uma fortaleza, era como se não tivesse sentimentos, eu pelo menos nunca o vi passando nem perto desse assunto. Era um jeito muito característico e limitado àquele nicho social específico, mas ele não era o único e curiosamente me lembrava muito o meu pai, que serviu à marinha por muitos anos. Não que fosse algo que me incomodasse, mas me fazia pensar se aquele era mesmo o meu lugar. Enquanto eu não sabia qual era a resposta para essa pergunta, deixava Adrián me dar quantas dicas ele quisesse e tentava aprender alguma coisa na intenção de um dia ficar tão bom naquilo quanto ele.
-Pega, garoto. -Ele resmungou por baixo do bigode, entregando-me uma câmera fotográfica bem antiga e alguns sacos zip lock que guardei no bolso da jaqueta. Eram para as evidências.
A teoria de tudo aquilo é claro que eu sabia, mas nunca tinha feito aquilo com um corpo nu e sem cabeça no mesmo ambiente. Havia, é claro, o adendo de que a localização da cabeça daquele cidadão ainda era desconhecida. Alguns agentes estavam procurando por ela ao redor das dependências do hotel, mas até o momento, não havia nem sinal.
Trabalhando com Adrián aprendi que: por mais que hajam legistas para cumprirem o papel de fotografar as cenas e evidências, nas palavras dele, eu precisava confiar em como eles conseguiam fazer aquilo mal. Aquela era a única oportunidade de ver a cena exatamente como o assassino deixou —ou não—, então quando fosse necessário, precisaríamos ter tudo aquilo documentado e em mãos. Exatamente tudo ali poderia ser uma pista. Acontece que, algumas vezes que precisou, não encontrou certas fotos de evidências importantes. Por isso, decidiu comprar uma câmera de uso único para as missões. Os legistas não gostavam, mas Adrián não se importava porque também não gostava deles. A forma como ele falava me fazia crer que alguém estava sumindo com as fotos de propósito para ocultar evidências. Mas se aquela fosse mesmo a verdade, quem quer que fosse estava fazendo o trabalho sujo tão bem que nem o meu incrível parceiro Adrián Albanese tinha confiança em denunciar.
Mas ele não se deixava ser enganado, não mesmo, e a câmera lhe dava a garantia de estar um passo à frente. Porém, por ser ruim em pelo menos uma coisa, o investigador Albanese não era dos melhores com enquadramento de fotos, por isso, deixava essa função para os seus parceiros, que eram sempre novatos ou pelo menos bem mais jovens. Isso porque os superiores do governo gostavam de como ele os treinava, mas o que ninguém lhe dizia, era que trabalhava somente com novatos porque nenhum veterano aguentaria o ar arrogante que ele emanava e o seu individualismo no trabalho. Mas é que ele realmente era bom.
E agora chegou a minha vez. De brincar de fotógrafo de cadáveres, de aprender e de ser saco de pancadas para o ego enorme de um homem bem-sucedido. Era chegado a hora de agradecer por ser o caçula de três irmãos militares de egos gigantescos.— Fim do capítulo 1. | 4.5.23, 23:32. { LZ. }
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Espero que vocês gostem, estou me dedicando muito para essa história. Por favor, deixa um favorito, não leva 1 segundo pra vocês mas me ajuda muuuito 😁
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Crônicas de uma Morte Real
Mystery / ThrillerAcompanhe os relatos de um investigador novato no primeiro caso de sua vida: o assassinato do magnata Alfie-Jay Sterling.