Capítulo 28

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Deixei que a emoção e saudade levassem a melhor sobre meu autocontrole e explodi em lágrimas junto com meu sogro. Nós dois compartilhávamos a mesma dor, assim como eu Hugo era viúvo e perder a filha e o neto tinham sido um baque e tanto para ele, mas diferente de mim ele não se fechava para todos.

Seu braço me apertou contra ele e a dor nem me importei com a dor no corpo, estra com ele era como estar nos braços de um pai. Na verdade ele era a única figura paterna que eu conhecia.

Mas estar com ele significava reviver as lembranças com Isabella e isso era doloroso de mais, eu entendia que eles me quisessem fazendo parte da família como era antes, mas sem ela nada poderia ser como antes. Nem mesmo eu era como antes, tinha me tornado um poço de tristeza e remorso.

— Você perdeu o aniversário do seu sobrinho. — Hugo falou se afastando e eu engoli em seco. — Você prometeu, John sente sua falta.

Sim eu sabia que ele sentia minha falta, assim como eu sentia dele, mas eu não conseguia encarar os pais dele, muito menos o garoto depois de tudo o que fiz.

Olhei em volta a procura de Alicia, mas ela tinha saído do quarto sem que qualquer um de nós notássemos.

— Eu fui vê-la depois da ligação. — murmurei baixando minha cabeça e encarando minhas mãos. — Fiquei lá até a noite cair e quando sai foi que o acidente aconteceu, por isso não consegui ir.

Hugo bufou e passou a mão em meu rosto, dando tapinhas amigáveis porem pesados.

— Como se isso fosse o que te mantém longe, poderia ter ido nos visitar quando quisesse e sabe disso, todos sentimos a falta dela e isso não é motivo para perdermos outro filho.

As palavras dele deveriam me trazer conforto, por saber que ainda sou bem vindo na família, deveriam encher meu coração de felicidade porque eles ainda se importavam comigo e ele ainda me via como um filho apesar de tudo.

Mas na verdade só ajudavam a me machucar ainda mais, me lembrando de tudo o que eu tinha e perdi, de como eu não era merecedor deles e que nem se eu vivesse mil anos conseguiria compensar.

— Você sabe, estou tentando ficar longe da bebida, longe de problemas, mas não tem sido fácil, não queria voltar até lá e me lembrar de tudo.

— É, eu sei. — Hugo deu tapinhas na minha mão e me fez olhá-lo nos olhos. — Mas não nos impeça de participar da sua vida. Sabe que se não fosse por Sean eu nem saberia o que tinha acontecido com você.

Sacudi a cabeça descrente, tinha que ser o filho da mãe bocudo!

— Eu vou aprender a excluir ele da minha vida, Sean não sabe ficar de boca fechada! — nós dois sorrimos sabendo que isso era verdade, ele não conseguia manter segredos por muito tempo.

— Achamos que fosse mais uma mentira, mas sua vizinha me contou tudo. — Hugo olhou procurando ela pelo quarto, só notando agora que ela tinha saído. — Porque não foi pra casa? Poderíamos cuidar de você lá, sabe que eu tenho tempo de sobra e John iria adorar desenhar no seu gesso.

Sorri pensando que pudesse ser uma boa ideia em outros tempos, no momento o melhor era que eu ficasse sozinho.

— Não, é melhor eu ficar por aqui, assim que estiver melhor vou fazer uma visita e levar um presente para o pequeno.

O olhar dele dizia que não confiava em minhas palavras, e eu nem podia culpá-lo depois de todos os sumiços que dei, jantares, aniversários, natais, eu evitava qualquer reunião com a família dela sabendo que seria doloroso de mais, se ficar em casa já era um suplicio, ver sua irmã e cunhado, o sobrinho e o pai eram mais do que eu podia aguentar sem ter uma recaída.

— Sim, vou esperar por isso. E leve sua vizinha, tenho certeza que a pobre ficou com uma impressão bem errada depois que repeti que vocês estavam transando na cama da Isabella.

Porra! Era isso o que estávamos prestes a fazer e meu estômago se embrulhou, aquela não era a cama que comprei e dormi durante anos com minha esposa, essa cama era nova, mas a casa ainda era a mesma e ele a verdade que ele disse me acertou como um soco.

— Alicia não sabe da Isabella, não sabe nem que eu fui casado. — Hugo semicerrou os olhos, provavelmente irritado por eu querer manter sua filha em segredo, mas era da minha vida que estávamos falando. — Somos apenas conhecidos, ela se mudou há pouco tempo e me ofereceu ajuda quando soube do acidente, como pode ver não estou podendo negar ajuda.

Eu torcia para que ela não estivesse ouvindo essa conversa ou iria me odiar depois de ouvir isso.

— Ainda sim negou ajuda da sua família.

— Sabe como é, alguém que não significa nada pra mim é bem mais fácil de deixar perto, do que vocês que são a lembrança viva de Isabella.

Um silêncio incomodo se instalou no quarto, eu sabia que tinha mentido, Alicia significava muita coisa, do contrário eu não teria ido atrás dela no hospital, nem inventaria aquela história ridícula de amizade colorida e relacionamento secreto.

— Ela me parece uma boa pessoa. Venha nos ver, ou vou voltar aqui e trazer a todos. — ele falou e apesar de estar sorrindo eu sabia que falava sério. — Agora vou deixar você descansar, acho que esta precisando de um descanso.

— Obrigado por ter... invadido. — falei arrancando uma gargalhada do velho. — Mas de verdade, foi bom receber sua visita.

Mesmo que aquela situação não fizesse bem para o meu estado de reclusão, mas ser empurrado para fora da minha zona de conforto poderia me fazer bem.

Hugo saiu do quarto sorrindo e ouvi a voz dele e de Alicia no fim do corredor.

— Ai está você, ficou de guarda na escada? — o ouvi questionar a ela e então rapidamente a voz dos dois foram sumindo.

Esperei ansioso que Alicia voltasse, queria saber o que ela tinha pensado sobre Hugo ou o que havia escutado da nossa conversa, esperava que ela não soubesse que ele era meu sogro, ou as perguntas jorrariam.

Mas quando ela entrou em meu quarto seu semblante estava neutro, não havia sorriso ou questionamentos em seus olhos, ela estava séria e eu estranhei, achei que ao menos iria querer saber quem era Hugo ou o que ele queria aqui.

— Vou preparar um almoço, quer alguma coisa especial? — foi o que ela me perguntou.

— Não, qualquer coisa que queira fazer pra mim está ótimo. Não me lembro direito o que tenho na geladeira, mas fica a vontade, a cozinha é sua.

— Certo. — ela murmurou erguendo as sobrancelhas e então se virou para sair. — Qualquer coisa pode me chamar.

Tão rápido quanto entrou no quarto Alicia saiu, me deixando ainda mais confuso. Queria poder me levantar e ir atrás dela, estava na cara que ela tinha escutado algo da nossa conversa. Mas o que? O que será que ela tinha escutado? Só podia ter ouvido a parte em que falei que ela não significava nada.

Porra, tinha acabado de ganhar um pouco dela e já tinha perdido tudo por falar de mais.

Segunda Chance - ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora