Estava trabalhando nos berços dia e noite, enquanto Alicia estava ocupada com suas redes sociais eu me mantinha focado ali. A curiosidade dela me consumia é verdade, eu adorava ver que ela estava cada dia mais desesperada para descobrir o que eu estava aprontando na garagem. Eu poderia ter ido trabalhar na oficina, mas eu não conseguia passar o dia fora e longe dela, sabendo que ela estaria bem aqui na minha casa me esperando.
A cada dia que passava eu tinha ainda mais certeza dos meus sentimentos por ela. Alicia tinha chegado como quem não quer nada, buscando um lugar onde fazer de lar para ela e para seus filhos, um abrigo no meio da tempestade que havia se tornado sua vida.
Mas ela nem tinha ideia que mesmo sem abrigo pra si e sua família ela me deu um lugar de paz, luz e calor, onde eu podia me sentir novamente aconchegado e seguro. Em paz longe dos meus fantasmas, longe de toda a dor que senti, um lugar onde eu podia ter novamente uma vida.
Porém era nesses momentos que eu me questionava se tinha esse direito. Eu era digno de me sentir tão bem assim depois de toda a dor que causei? Porque eu reconstruir minha vida enquanto outras pessoas não tiveram essa chance, porque eu a tirei deles?
E a pior pergunta de todas, a que mais pesava em minha mente e em meu coração: se eu estava assumindo que amava Alicia, onde ficava Isabela?
Eu estava confuso de mais e não sabia como resolver essa questão. Não tinha tido nem mesmo coragem para dizer a Alicia sobre ela, já havia aberto meu coração e contado as merdas que fiz, mas não contei a razão de eu estar no fundo do poço, ela não sabia nada sobre Isabella.
E eu não sabia por quanto tempo mais conseguiria protelar contar a verdade, amanhã era o almoço na casa de Hugo e não tinha garantias que o assunto sobre minha esposa surgiria.
— Você não vai acreditar no que acabou de acontecer! — ela gritou na porta da garagem interrompendo meus pensamentos.
Claro que eu trancava sempre que estava ali e quando saia também, era terminantemente proibido a entrada dela ali até que os berços estivessem acabados.
— Se for mais uma tentativa sua de entrar aqui eu vou ter que puni-la. — falei largando as ferramentas no chão e cobrindo a pilha de madeiras com a lona preta. Abri o portão automático e seus olhos voaram ávidos pelo lugar. — Sabe, te amarrar na cama e dar umas boas palmadas nesse seu rabão.
— Sabe que estou carregando dois bebês aqui, não sabe? — ela fez cara de inocente, batendo os cílios longos e não me enganando nenhum pouco.
— Uma mamãe bem safada que eu sei e que adora quando a pego de jeito. — segurei sua nuca e enrolei meus dedos no coque que ela usava. — Ama umas palavras sujas contra o ouvido, enquanto eu estoco com força na bocetinha gulosa que tem. — sussurrei ao pé do ouvido e vi seu corpo corresponder se arrepiando e ficando mais mole contra meus braços.
— Você não presta! — ela rosnou e então abraçou minha cintura. — Bem que eu ia adorar se fosse apenas mais uma tentativa de tentar descobrir o que está aprontando aí dentro. Mas a verdade é que fui chamada pra participar da abertura de uma loja!
Eu ergui minhas sobrancelhas em surpresa, apesar de não entender nada daquele mundo, a empolgação dela era suficiente para me fazer entender que aquilo era algo muito bom.
— Que maravilha! Estou muito feliz por você, amor! — plantei um beijo em sua testa e ela semicerrou os olhos quando se afastou. — Ok, não sei o que isso quer dizer, mas você fez parecer algo muito bom.
— Isso mesmo, é muito bom! Eu estou sendo reconhecida como uma influencer, eles vão me pagar para estar lá, tirar fotos no lugar, gravar em volta e postar tudo! E não é qualquer loja, eles tem filial em outros estados! — Alicia explicou ainda mais animada e eu só sabia sorrir como um bobo.
— Estou muito orgulhoso de você e sei que vai longe com isso, porque você é dedicada, verdadeira, original e espalha luz e boas energias pela internet. E Deus sabe o quanto essa gente precisa disso!
Ela segurou meu rosto com força e ficou na ponta dos pés, plantando um beijo rápido em meus lábios.
— Obrigada! É tudo tão surreal que eu nem sei o que pensar e é muito bom saber que posso contar com você, que me apoia nessa loucura. — ela agarrou meu pescoço com um braço, me puxando ainda mais para perto. — Que tal de mostrar todo seu orgulho me deixando ver o que está fazendo lá?
A safada teve coragem de tentar pegar o controle da minha mão, aproveitando minha distração.
— Vou te apoiar no que quiser, sempre que precisar! — ergui as chaves onde ela não podia alcançar. — Agora se não tiver nada mais importante pra fazer aqui, sugiro que suma daqui, antes que eu deixe de ser o cavalheiro orgulhoso e volte para o safado punitivo.
— Tenho um pedido pra fazer. — a olhei desconfiado, ela estava decidida a descobrir o que tinha ali. — Você vai comigo?
Sua pergunta me pegou desprevenido, era a última coisa que esperava que ela fosse dizer, mas estava feliz por saber que ela me queria lá como seu acompanhante.
Guardei o controle no bolso e segurei seu rosto acariciando as maçãs coradas, provavelmente pelo sol que fazia e dei um beijo na ponta do seu nariz.
— É claro que vou! Não perderia por nada.
Alicia abriu um sorriso largo e mordeu o cantinho da boca tentando controlar sua empolgação, mas falhando totalmente e me enlouquecendo com toda sua doçura e leveza.
Era tão simples fazer aquela mulher feliz e eu era o bastardo mais sortudo do mundo por poder fazê-la sorrir.
— Vou avisar ao pessoal! — ela correu em direção a casa.
— Sem correr mocinha! — gritei temendo que ela tropeçasse ou acabasse caindo.
— Eu te amo sabia!? — Alicia gritou em resposta quando estava nos últimos degraus e entrou em casa, como se não tivesse dito nada.
A mulher podia até não saber, mas tinha sacudido meu mundo inteiro com aquelas palavras. Eu fiquei ali na entrada da garagem, paralisado sem conseguir pensar direito quanto mais de agir.
Só conseguia olhar para o caminho que ela tinha acabado de fazer enquanto o eu te amo ecoava em minha mente, se espalhando por meu corpo, sacudindo minha estrutura e fazendo meu coração bater ainda mais descontrolado.
Não sei quanto tempo se passou até que eu voltasse para a proteção da garagem e me colocasse a trabalhar para não pensar em besteiras. Meu coração não conseguia me deixar parar de pensar que aquilo estava errado. Isabela e eu nos amávamos, ela era minha alma gêmea, o amor da minha vida.
Não tinha essa de outro amor. Então como eu poderia corresponder Alicia se nunca pudesse retribuir aquelas palavras? Como eu nomearia a forma que me sinto com ela?
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Segunda Chance - Concluído
RomanceAlicia sempre teve que lutar muito por tudo o que quis na vida, começando com seus estudos e um lugar de destaque no trabalho. Na vida amorosa não era diferente, depois de um divórcio conturbado com um marido abusivo, ela finalmente achou que tinha...