"Deixar Nova Iorque e retornar para Seul após se formar na faculdade não estava nos planos de Hyeon, mas uma comemoração familiar a levou de volta para sua cidade natal. A tão esperava volta para casa acabou se tornando uma tragédia quando ela sofre...
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— Por que essa cara logo pela manhã? — Otto, meu irmão, perguntou assim que me viu entrar pelo hall principal da empresa.
— Vá se ferrar, Otto.
— Credo, que bicho te mordeu?
— Minhas férias acabaram e ainda tenho uma secretária nova para começo de conversa — resmunguei, caminhando em direção ao elevador. — E é segunda-feira. Quem tem bom humor logo segunda de manhã?
— A Sunnie! — ele não precisou pensar em uma resposta. — E quem é a nova secretária? — Otto tinha uma excelente habilidade de mudar de assunto tão facilmente quanto respirar.
Infelizmente, o assunto que ele havia tocado ainda me irritava.
— Não sei. Andrea ficou responsável pelas entrevistas e treinamento. Sai de férias e não queria saber de nada.
— Você não a viu ainda? — O interesse era nítido em sua voz.
Olhei para ele com raiva, já sabendo o que se passava naquela mente pervertida de Otto.
— Você não vai dar em cima dela! Já foi difícil com Andrea no começo — lembrei. — Eu preciso dessa secretária, então vê se não estraga as coisas.
— Eu não posso fazer nada se ela se apaixonar por mim — ele disse, sorrindo de lado e ajeitando os óculos de grau no rosto.
Franzi o cenho, pensando em maneiras de fazer Otto ficar longe da minha secretária nova, ou isso seria problemático como da última vez.
Encarei meu irmão sério, tentando intimidá-lo e fazê-lo dizer em voz alta que aquilo era brincadeira. Otto sabia o quanto eu odiava misturar trabalho com assuntos pessoais, e ele o fazia quase constantemente.
— Fique longe... — eu disse, ou comecei, mas algo chamou a minha atenção.
Uma mulher, na verdade.
Ela corria, acenando para alguém, dizendo algo em voz alta. Mas não foi a sua pressa que chamou a minha atenção. Longe disso. Foi sua aparência. Seu rosto. O mesmo delicado rosto que eu me lembrava.
Cinco anos! Não poderia ser ela!
— Ficar longe do que? Adam? O que você está olhando? — Otto disse, mas ele parecia longe de mim, como um eco desaparecendo em um lugar vazio.
Eu pisquei, paralisado pelo choque de vê-la. Cocei os olhos, tentando ignorar a voz interior que gritava que era ela e foquei novamente a atenção nas pessoas que entravam no elevador, mas ela parecia ter desaparecido quando olhei novamente.
— Acho que preciso voltar para as minhas férias — Apoiei minha mão no ombro do meu irmão buscando ajuda para recuperar o equilíbrio que estava perdendo. — Estou vendo coisas que não existem.
— Férias? Se está vendo coisas, deveria procurar um psiquiatra... ou um padre! — Dito isso, Otto começou a rir, como o idiota que era.
Recuperei a compostura e o ignorei, entrando no elevador emburrado, sob as piadas de Otto que não pararam, por sinal. Ele estava mais animado naquela manhã do que qualquer outra, e isso era irritante.
Irmãos mais velhos sempre sofriam com a sina de ter irmãos mais novos imbecis? Eu não entendia qual era o castigo, ou dívida que não paguei em uma vida passada, para ter irmãos como Otto e Samantha. Com certeza, eu devo ter feito algo muito ruim.
O elevador parou no nosso andar, e ao invés de seguir direto para a minha sala, Otto resolveu parar e conversar com alguns funcionários. Infelizmente, ele fez questão de me parar junto a ele e me colocar na conversa, algo que eu gostaria de fazer, mas não naquele momento.
Inventando uma desculpa qualquer, algo que eu não precisava fazer, mas meus pais me deram educação e eu não queria bancar o chefe grosseiro, sai em direção a minha sala. Eu ouvia os cochichos sobre a minha nova secretária, e eu sequer imaginava que aquilo chamaria atenção. Ingenuidade minha, talvez, mas pensei que Andrea tinha cuidado de tudo ao ponto de apresentar sua substituta aos demais funcionários.
Quando me aproximei da minha sala, a mesa vazia da nova secretária chamou a minha atenção. Uma bolsa preta estava sobre a mesa, mas quem deveria ocupá-la não estava em lugar algum que eu pudesse ver.
Suspirei alto, olhando para os lados atento, mas ninguém apareceu. Andei em direção a porta e a abri, ainda olhando para fora. Eu tinha certeza que ninguém estava ali. Andrea deve ter deixado as instruções para a nova secretária. Eu não deveria me importar tanto assim com aquilo.
Entrei na minha sala, já sentindo o maldito cansaço me abater. Seria um dia cheio, eu sabia, ainda com o adendo de uma secretária que eu ainda não conhecia. Eu queria não ficar tão ansioso por aquilo, mas sentia meu coração acelerar toda vez que pensava em começar tudo de novo, uma vez que eu já estava acostumado com Andrea há três anos.
Quando fechei a porta, ouvi o barulho da cadeira se mover. Me virei para ver quem estava ali, já que a porta estava fechada.
Ela se virou rápido, olhando para baixo e alisando a saia preta comprida e justa em suas pernas um pouco longas. Eu paralisei, reconhecendo o rosto, que pouco se escondia atrás dos cabelos longos e escuros. Meu coração ansioso bateu forte, me dando a sensação de que estava tendo um infarto...
Se eu realmente, de fato, não estivesse tendo um.
— Você... — Eu me ouvi dizendo, apontando para ela.
Minha voz saiu baixa, trêmula e rouca. Eu mal conseguia acreditar no que estava vendo.
Quando ela levantou o rosto, sorrindo e me olhando com aqueles olhos redondos e brilhantes, pareceu me levar de volta há 8 anos atrás, quando me abordou em uma cafeteria próxima a faculdade, em um dia chuvoso como hoje.