Uma prisão.
Entram os Chefes da Guarda, Corniso e Vinagrão, e o Sacristão, paramentado como Escrivão, mais Borracho, Conrado e o Sentinela.
Corniso – Apareceram todos os de nossa dissembleia?
Vinagrão – Ei, um banquinho e almofada para o sacristão!
Sacristão – Quem são os contraventores?
Corniso – Deveras, isso sou eu e meu colega.
Vinagrão – Sim, isso é certo; nós temos a desautorização para examinar.
Sacristão – Mas quem são os malfeitores que devem ser examinados? Que compareçam diante do Mestre da Guarda.
Corniso – Sim, deveras, que compareçam diante de mim. Qual o seu nome, amigo?
Borracho – Borracho.
Corniso – Eu lhe peço, escreva aqui: "Borracho". E você, meu camaradinha?
Conrado – Eu sou um fidalgo, senhor, e meu nome é Conrado.
Corniso – Escreva "Mestre Fidalgo Conrado". Mestres, os senhores são servos de Deus?
Conrado e Borracho – Sim, senhor, esperamos que sim.
Corniso – Escreva aqui que eles esperam ser servos de Deus; e escreva "Deus" em primeiro lugar, pois, Deus o livre, mas Deus tem que vir antes de tais vilões! Mestres, já está provado que os senhores são pouca coisa melhor que falsos vagabundos, e daqui a pouco já vamos chegar perto de todos pensarem assim. O que têm a dizer os senhores em sua defesa?
Conrado – Realmente, senhor, dizemos que não somos nada disso.
Corniso – Um camarada muito, mas muito espertinho, isso eu lhe seguro, mas deixe comigo, que eu sei lidar com esse tipo. Venha cá, camaradinha, que quero lhe falar ao pé do ouvido, senhor: eu lhe digo que se pensa que os senhores são dois falsos vagabundos.
Borracho – Senhor, eu posso lhe afirmar que não somos nada disso.
Corniso – Bem, afaste-se. Por Deus, os dois combinaram a mesma história. O senhor escreveu que eles não são nada disso?
Sacristão – Mestre da Guarda, o senhor não está seguindo o modo de examinar. O senhor precisa chamar os sentinelas que são os acusadores dos dois.
Corniso – Sim, deveras, esse é o modo mais recompetente. Que os sentinelas se apresentem. Mestres, eu ordeno, em nome do Príncipe, que os senhores acusem esses dois.
Primeiro sentinela – Este homem disse, senhor, que Dom John, o irmão do Príncipe, era um cafajeste.
Corniso – Escreva aí: "Príncipe John, um cafajeste". Ora, mas isso é a mais pura calúnia, chamar o irmão de um príncipe de cafajeste.
Borracho – Mestre da Guarda...
Corniso – Eu lhe peço, camarada, fique quieto. Eu não gosto da sua cara, já vou lhe prevenindo.
Sacristão – O que mais o senhor ouviu ele falar?
Segundo sentinela – De fato, ouvi que ele tinha recebido mil ducados de Dom John para acusar Lady Hero falsamente.
Corniso – O mais puro arrombamento já cometido.
Vinagrão – É mesmo. Pela Santa Igreja, é isso mesmo.
Sacristão – O que mais, meu amigo?
Primeiro sentinela – Que o Conde Cláudio pretendia, por meio de suas palavras, desgraçar Hero diante de toda a congregação, em vez de se casar com ela.
Corniso – Ah, canalha! Por isso tu serás condenado à redenção eterna.
Sacristão – O que mais?
Sentinela – Isso é tudo.
Sacristão – E isto é mais, caros mestres, do que os senhores podem negar: esta manhã, o Príncipe John partiu sem avisar a ninguém. Hero foi acusada dessa maneira; nessa mesma maneira, foi rejeitada e, de tanto sofrimento, teve morte súbita. Mestre da Guarda, permita que esses homens sejam amarrados e levados até Leonato. Eu irei na frente, e ao Signior Leonato mostrarei o resultado do interrogatório.
[Sai.]
Corniso – Vamos, enferrolhando os dois.
Vinagrão – Vamos tratar de lhes amarrar as mãos...
Conrado – Passa fora, toleirão!
Corniso – Que Deus me guarde, onde está o sacristão? Que ele escreva aí: "Toleirão o oficial do Príncipe". Vamos, amarrem os dois juntos. Lacaio sujo! Seu podre!
Conrado – Afastem-se! Você é um burro, um burro!
Corniso – E o senhor, não desconfia quem sou eu, e quantos anos atrás de mim tenho eu? Eu escuto; não vê minhas orelhas? Ah, precisava o sacristão estar aqui, para registrar um burro. Mas, mestres, lembrem-se: sou um burro; apesar de não estar registrado. Não se esqueçam disso não, sou um burro. Não, seu canalha, tu estás cheio de repentimento, como ficará provado contra ti, com boas testemunhas. Eu sou um camarada inteligente e, o que é mais, um oficial e, o que é mais, um chefe de família e, o que é mais, um belo filho de Adão e Eva como qualquer outro em Messina, e conheço a lei, e o senhor ponha-se no seu lugar; e sou um cidadão de posses, e o senhor ponha-se no seu lugar; e sou um camarada que tive perdas, e tenho dois trajos completos e tudo do que há de mais elegante. Tirem esse sujeito daqui! Ah, se tivesse ficado registrado eu um burro!
[Saem.]