seus abraços, suas ameaças

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A tomboy encarava a xícara de café localizada à sua frente, qual era colorida por tons azuis diversos e continha uma frase clichê melosa, que a intitulava como a melhor namorada do mundo. Este último fato observado a fizera emitir uma risada amarga, afinal, hoje fazia exatos trezentos e sessenta e cinco dias que Victoria havia a deixado. A Josephine a agradecia por isso, por ter se "mandado", entretanto, nunca tivera a oportunidade de verbalizar um Obrigada, pessoalmente. E mesmo se tivesse, não queria.

Era grata pela chinesa não ter voltado para buscar o seu casaco de lã favorito, por ela não ter tentado contornar a situação e terminado em sua cama, como tantas outras vezes acontecera. A chinesa havia levado a ingratidão consigo, assim como, provavelmente, as boas memórias também, uma vez que, Josephine recordava-se somente das vezes em que chorara sem vontade a fim de impressionar a outra, com o intuito de causar-lhe piedade.

Fora condenada à uma eterna liberdade e, sim, era igualmente grata à isso. Das vezes que as discussões com a Song lhes serviram de inspirações para seu caderno de rascunhos, ou até mesmo quando entendia que a única solução era forjar lágrimas forçadas, sentia-se até mesmo pronta para atuar em uma novela de horário nobre, de tantas vezes que fizera aquilo. Chegava a ser engraçado o fato de que ela buscava tirar boas lições de um relacionamento ruim.

A agradecia também por ter sido despertada para a realidade, fora em uma dessas chantagens que percebeu que, apesar do rosto com traços tão impecáveis que se assemelhavam à um desenho, Song Qian estava longe de ser uma princesa encantada. E diferente do que achava no início do término, não estava em um filme animado onde Victoria era o vilão capaz de se transformar em qualquer pessoa por aí; enxergá-la nos outros como tantas vezes ocorrera, era indícios de traumas.

E após um seriado de devaneios nostálgicos, mas não no bom sentido, Amber suspirou. Também à sua frente estava a gaveta que tantas vezes lhe servira como uma espécie de baú do tesouro, uma vez que, nela continha todas as cartas de despedidas que nunca entregara. E para ser sincera, nem sequer sabia o motivo daquilo não ter ocorrido, talvez fosse pelo fato de que sempre se resolviam após as discussões, Amber era caridosa até demais por perdoá-la sempre. Ou apenas não tivesse coragem para dar um fim naquilo, de fato, odiava admitir, mas por muito tempo fora dependente de Song, dependia até mesmo da falta de afeto que ela lhe oferecia.

Um miado a fizera saltar-se em susto e, instintivamente, virar-se em direção ao som. O gatinho preto, agora, a encarava de maneira recíproca, o que soava fofo. Parando para pensar, talvez nem todos os rastros deixados por Song a atormentavam tanto assim, o Xiaoba era um exemplo disso.

— As vezes você me assusta igual a sua outra mãe, sabia? Não gosto disso, rapaz.

Seu tom carregava humor, não sentira incômodo algum ao verbalizar aquilo em alto e bom som, afinal, ele era tanto de Qian quanto dela. Adotaram-no juntas no quinto mês de relacionamento, e como esperado, após uma discussão. Situação cômica, para não dizer trágica.

Agora, com o animalzinho em seu colo, sorria tranquila. E de verdade, esperava que seus próximos trezentos e sessenta e cinco dias fossem assim, condenada à uma eterna liberdade com o coração cicatrizado e grato por Song Qian, finalmente, ter se "mandado".

inspirado em uma musica do cazuza ;)

cartas de despedidas que nunca foram entregues.Onde histórias criam vida. Descubra agora