Capítulo 4, o Cervo de Morozova.

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Breve glossário: Drüsje - bruxa em fjerdano




Alina já havia se arrependido há muito tempo. Ela se encolhia de frio ao andar sofregamente pela neve mais densa, o ar pesado a castigando a muito tempo. Às vezes se obrigava a parar para conjurar sua luz e se manter aquecida — era isso ou congelar.

No início imaginou ser uma boa ideia, simplesmente ignorou todas as complicações e tomou uma decisão baseada em seu desespero e medo de ser pega.

— Eu correria para os braços de Ivan se pudesse voltar ao passado... — murmurou, encostando-se em um tronco, deixou-se escorregar para o chão, abraçando os próprios joelhos e escondendo um pouco o rosto — Em que eu estava pensando? — choramingou, erguendo o rosto para olhar em volta — "Vamos lá, Alina! Morrer na droga da fronteira de Fjerda!" e... E eu nem sei onde procurar o Cervo... Pelos Santos...

Ergueu um pouco as mãos em um leve esforço para conjurar; a bola de luz quente era a única coisa reconfortante que poderia oferecer a si mesma diante as condições em que se encontrava — não tinha comida, não tinha água, estava perdida e acima de tudo: era um alvo facílimo para qualquer, absolutamente qualquer coisa. Ela acima de tudo queria ser encontrada, porém, preferia morrer ante a sensação de ser uma cativa novamente.

— Eu não quero uma gaiola dourada, Baghra, mas... — sussurrou, obrigando-se a levantar e continuar em frente — Também não quero morrer aqui... Ao menos eu tenho que fazer valer a pena...

Ela não queria que escurecesse, esquecendo-se da parte mais importante nas lendas e contos infantis sobre o Cervo: ele só apareceria à noite. Continuou andando por mais alguns metros até finalmente decidir parar.

Alina não sabia o que havia acontecido com Mal dias antes. Ela não sabia que Fjerda sabia; tampouco imaginava que a poucos quilômetros dali uma patrulha de homens fjerdanos montava sua vigília; mais alguns passos e seria o fim. Kirigan só teria o sangue na neve ou o rastro da conjuradora sendo levada para a Corte de Gelo — seria morta de ambas as formas e estaria longe demais para conseguir ajudar.

Em sua cabeça, ela estava sozinha, sendo caçada por toda a Ravka Leste — o Darkling desesperado para trazê-la de volta ao Pequeno Palácio, mandando sua própria guarda em seu encalço —, mas ali estava sozinha. Acreditava nisso tolamente.

Perdida e com fome, deu mais alguns passos e finalmente cedeu no chão gelado; os olhos semicerrados e a boca entreaberta. Ela mal grunhiu ao atingir o solo em um baque. Só conseguiu engatinhar para perto de um pinheiro e se encolher; tentava deixar os pés aquecidos embaixo da barra do vestido, ao mesmo tempo em que se agarrava ao casaco — invocar a luz exigia energia e Alina não tinha mais de onde tirar; exausta, faminta e apavorada.

Ficou algum tempo naquela posição, lutando contra o cansaço, sabendo do risco que corria se por azar adormecesse — mas que força tinha para lutar contra aquilo?

Seu sono mais parecia uma série de flashes, horas parecia estar acordada e então de repente se via sonhando com o Cervo mais uma vez. Movia-se pouco e, embora seu sono fosse agitado, a garota parecia completamente apagada, encostada e encolhida próxima a árvore.

Horas se passaram, a noite já havia caído quando uma sensação estranha despertou a Conjuradora. Estava mais frio que na noite anterior e, embora a lua iluminasse o véu branco do chão, o horizonte entre as árvores era puro breu. Ela enxergava com dificuldade, sentia-se fora do próprio corpo mesmo com as juntas doloridas, completamente consciente de que não seria capaz de sobreviver ao frio se não fosse encontrada.

Darkness Encounters Sunshine || DarklinaOnde histórias criam vida. Descubra agora