Fragmentos de Nós

Capítulo 13 - O dilema do coração cansado

"As marcas do passado podem ser escondidas, mas sua influência persiste."

O despertador tocou implacavelmente, quebrando o silêncio do quarto ainda mergulhado na penumbra. Hannah acordou sonolenta, lutando contra a vontade de ficar na cama. A noite anterior fora longa e turbulenta, assombrada pelo pesadelo que a atormentou sem piedade. Suas pálpebras pesavam, e o cansaço era visível em seu rosto.

Com um longo suspiro, Hannah levantou-se, sentindo os músculos doloridos e a mente ainda embotada pelo sono. Ela sabia que não poderia se dar ao luxo de ficar na cama por mais tempo. O trabalho na cafeteria a esperava, e ela tinha um compromisso consigo mesma de não deixar seus problemas pessoais afetarem sua profissão.

Enquanto caminhava em direção ao banheiro, ela ligou o chuveiro e deixou a água quente cair sobre seu corpo exausto, buscando algum alívio para o cansaço e a tensão acumulados. O vapor envolveu o ambiente, trazendo uma sensação reconfortante, como se pudesse lavar os vestígios da noite anterior. Hannah permitiu-se alguns minutos preciosos debaixo do chuveiro, deixando a água lavar as preocupações e os medos que a assombravam.

Após sair do banho, Hannah se deparou com seu reflexo no espelho. Olheiras escuras marcavam sua pele pálida, evidenciando a falta de sono. Com um suspiro resignado, ela começou a aplicar maquiagem cuidadosamente, tentando disfarçar o cansaço em seu rosto. Ela escondeu as olheiras com corretivo, como uma artista tentando apagar as marcas do passado, e iluminou seus olhos com sombras claras, tentando trazer um pouco de vida ao seu semblante abatido. Cada pincelada era um esforço para se reencontrar com a confiança que parecia ter se dissipado durante a noite.

Quando finalmente se olhou no espelho, Hannah notou que parecia um pouco mais desperta, embora ainda pudesse sentir o peso do sono em seus ombros, ela deixou o cabelo solto desta vez. A moça sabia que seria um desafio enfrentar o dia sem ter descansado adequadamente, mas estava determinada a seguir em frente, mesmo que seu coração estivesse repleto de incertezas.

Ao sair de casa, a escuridão ainda reinava lá fora. O sol ainda não havia se levantado, pois o outono trazia consigo dias mais curtos. Hannah caminhava pelas ruas vazias, sentindo uma brisa fria acariciar seu rosto. A tranquilidade da manhã contrastava com a turbulência de seus pensamentos. Cada passo era uma batalha interna entre a esperança e o medo.

Enquanto se aproximava da cafeteria, os pensamentos sobre o pesadelo voltaram à tona, como fantasmas que insistiam em assombrá-la. Ethan, pairava em sua mente como uma sombra ameaçadora. As palavras duras e os gestos agressivos ecoavam em seus ouvidos, trazendo à tona o medo de que Alex se tornasse como ele. Hannah não queria reviver o passado, não queria sentir-se presa em um relacionamento tóxico novamente.

Decidida a proteger-se, Hannah resolveu manter uma distância segura de Alex. Ela pensou que talvez, se afastando dele, o tempo poderia trazer clareza e revelar as verdadeiras intenções dele. Era uma estratégia arriscada, mas ela preferia errar pelo excesso de cautela do que se entregar novamente a um relacionamento que poderia trazer-lhe mais dor do que felicidade. Seu coração se debatia em seu peito, lutando contra o desejo de se aproximar de Alex e a necessidade de se preservar.

Enquanto abria a porta da cafeteria, Hannah respirou fundo, preparando-se para enfrentar o dia à sua frente. Ela sabia que teria que sorrir e atender os clientes com amabilidade, escondendo suas preocupações e inseguranças por trás de um sorriso cuidadosamente construído. No entanto, uma pequena parte dela ainda nutria a esperança de que talvez, algum dia, ela encontrasse a paz que tanto almejava e que Alex fosse a pessoa certa para caminhar ao seu lado. Era uma esperança frágil, mas persistente, que a impelia a seguir adiante, mesmo quando as sombras do passado pareciam envolvê-la.

Ela adentrou a cafeteria com passos suaves, tentando manter a serenidade em seu rosto. O aroma acolhedor do café recém-preparado se mesclava com a música suave que ecoava pelo ambiente. Michael, estava já atrás do balcão como de costume.

Ao vê-la, ele ergueu as sobrancelhas em uma expressão de curiosidade e preocupação.

- Bom dia, Hannah. Como você está hoje? Dormiu bem? - perguntou Michael, sua voz denotando genuíno interesse.

Hannah sorriu, mas seus olhos não enganavam. Ela sabia que Michael conhecia seus segredos mais profundos, e ela não queria preocupá-lo com seus medos.

- Sim, dormi bem, obrigada. - respondeu ela com uma voz suave, evitando olhar diretamente nos olhos dele.

Michael franziu o cenho levemente, percebendo que havia algo mais por trás da resposta dela. Ele conhecida Hannah desde a infância e sabia que ela não estava sendo completamente honesta. Mas ele decidiu não pressioná-la naquele momento.

Enquanto se preparava para iniciar o trabalho, Hannah sentia o peso da ansiedade aumentar. Ela sabia que Alex viria à cafeteria naquele dia, mas ainda estava com medo de se aproximar de alguém novamente. Em um momento de coragem misturado com vulnerabilidade, ela decidiu se abrir com Michael. Ele era alguém em quem confiava plenamente e sabia que ele a compreenderia.

A jovem soltou um suspiro silencioso e olhou para o balcão.

- Mike, lembra daquele garoto de olhos azuis com quem eu estava conversando outro dia? - ela perguntou, quase num sussurro.

Michael arqueou uma sobrancelha, recordando o encontro. Como poderia esquecer aqueles olhos que pareciam esconder um mundo de mistério? Michael também sentia uma pontada de desconfiança em relação a esse novo rapaz. Ele conhecia Hannah desde que eram crianças e sempre esteve lá para protegê-la.

- Claro que lembro. O que tem ele?

Hannah abaixou a cabeça, brincando com os dedos nervosamente. Era difícil para ela articular seus medos, mas Michael sempre parecia entender sem que ela precisasse dizer uma palavra.

- Eu... estou com medo, Mike. Medo de me aproximar dele, de me entregar novamente. Eu não quero reviver os mesmos erros, os mesmos traumas.

Os olhos de Michael se suavizaram ao ouvir suas palavras. Ele conhecia as cicatrizes que o passado deixara em Hannah, as lutas internas que ela enfrentara para se reconstruir. Ele se aproximou dela, envolvendo-a em um abraço caloroso e protetor.

- Hannah, eu estou aqui por você. Sempre estive e sempre estarei. Se você precisar de ajuda para evitar o garoto de olhos azuis hoje, eu farei o que puder. Você merece ser feliz e não vamos permitir que alguém te machuque novamente.

Hannah sentiu um alívio momentâneo em seus ombros, as palavras de Michael ecoando em seu coração. Ela não estava sozinha nessa jornada incerta. Ela tinha um amigo fiel ao seu lado, disposto a protegê-la de novas feridas.

Enquanto se afastavam do abraço, Hannah olhou para Michael com gratidão.

- Obrigada, Mike. Eu não sei o que faria sem você.

Ele sorriu gentilmente, seus olhos expressando um misto de confiança e determinação.

- Não precisa agradecer, Hannah. Estamos juntos nessa. Agora, vamos enfrentar o dia e proteger seu coração. – O rapaz disse ainda sorrindo.

Com essas palavras de encorajamento, os dois amigos se prepararam para mais um dia na cafeteria, prontos para enfrentar o que viesse pela frente. O futuro era incerto, mas Hannah sabia que, com Michael ao seu lado, ela teria a força necessária para superar seus medos e encontrar a felicidade que tanto merecia.