César era um amante da arte. Não era um pintor, escritor ou sequer um escultor, mas adorava apreciar tudo aquilo que as mãos de outrem poderiam ser capazes de produzir, o que definitivamente era uma de suas coisas favoritas.
Passar as tardes nos museus da capital de São Paulo era uma tarefa recorrente para Cohen. Sozinho ou acompanhado, sempre aparecia por entre os corredores já vistos diversas vezes, nem sempre para olhar as obras de arte ou ler os textos minúsculos que apresentavam a obra para o público, mas sim para adicionar novos rabiscos em seu caderno de rascunhos, ou apenas para espairecer a mente no ar calmo do ambiente.
Porém, em um museu específico, uma das estátuas sempre o chamou a atenção, sendo carimbada nas folhas da caderneta com caneta tinteiro e tinta nanquim, quase todas as vezes que visitava a obra. Desenhava-o em diversas posições, imaginava expressões e poses diferentes para uma única estátua, séria e quase como se fosse superior a todas as outras representações que a cercava. Mesmo em bronze maciço, poderia sentir o calor que emanava daquela figura tão sublime e majestosa . Ao seu lado, era possivel notar um uniforme em um tom negro e detalhado com fitas em vermelho, uma mascara exagerada em tamanho e detalhes, junto de uma espada afiada e de gume brilhante, que tambem era representada na estatua.
César estava encantado com a imponência do samurai. Seu nome era desconhecido, sem registros tanto em fontes de pesquisa, internet ou, até mesmo, na descrição da obra.
Mas isso não era de grande importância. O apreciador apenas agradecia às mãos tão sérias e dedicadas do artista que havia ponderado dias e meses na escultura em sua frente.
Como de costume, essa era mais uma das sextas-feiras que visitava esse museu, e essa escultura. Mas não pelo mesmo motivo de sempre, havia uma apresentação nova de fósseis encontrados no Brasil, expostos para o público pela primeira vez neste dia. Ainda pela aversão a grandes multidões, resolveu fazer sua visitação semanal mais pela tarde, quase no horário de encerramento das atividades no museu.
Não era bem a área de seu grande interesse, mas gostava de imaginar a grandiosidade das ossadas nos expositores do local, e ainda mais, da impecável conservação das rochas ao redor de pequenos animais ou ossos de animais que viveram milhões de anos antes desse momento. Analisava uma a uma, fotografando algumas ou fazendo pequenas anotações sobre coisas para pesquisar quando retornasse para casa, desenhos de como imaginava as criaturas que não conhecia também eram bem vindos no caderno do cohen. A nova exposição ficava no andar subterrâneo do local, o que facilitou ao homem a perder o horário e noção de tempo, principalmente pela falta de janelas ou luzes que o mostrasse a noite chegando, e a ausência de pessoas também passou despercebida, visto o horário que chegara ao local.
Se encontrava solitário e assustado andando pelos corredores, procurando qualquer sinalização de civilização (atual), gritava por algum segurança ou algo do tipo, mas nenhuma resposta obtida. O horário brilhava na tela do seu celular, às 21:58.
Derrubando suas coisas no porcelanato frio enquanto andava exasperado entre os becos do prédio, agachou irritado pelo inconveniente, estressado pela situação e nervoso por ser quase que inútil na resolução desse problema. Pegou o caderno do chão, junto do celular que trazia consigo uma tela trincada, fazendo o rapaz resmungar em frustração. Pensou em ligar para alguém responsável, policia ou até o corpo de bombeiros, mas tudo fugiu de sua mente quando, ao se levantar, mirou um corpo alto, misturado e confuso, com vestes egípcias e antigas, o encarando assustado.
Com um pulo para trás junto de um grito em pânico, César foi capaz de identificar mais diversas imagens facilmente reconhecíveis por si, figuras que, normalmente, deveriam estar paradas e expostas nas vitrines do local de visitação. Reconheceu macacos da área de animais, faraós, ossadas de grandes animais e até mesmo representações de homens pré-históricos o encarando com a mesma confusão que ele retribuía.
Praticamente se rendendo, começou a levantar do chão com as mãos trêmulas à frente do corpo, pedindo piedade pelo olhar, não sabendo bem qual língua deveria se comunicar com o resto dos presentes no cômodo.
Ouvindo uma marcha com som metálico ao final do corredor, percebeu o restante dos seres ali presentes abrindo espaço para um pequeno grupo de “pessoas” passarem, mas seus olhos só foram capazes de focar na figura mais alta e que vinha mais à frente de todos os outros, se aproximando com mais rapidez e curiosidade. Quando estavam relativamente próximos, pode ver o homem tirar a máscara com um pouco de dificuldade, rindo envergonhado pelo ato, se curvando em respeito e olhando para o Cohen com um pouco mais de atenção.
- Atração nova? Prazer, Jouki. Joui Jouki. Não vi sequer uma pessoa comentar sobre alguma estátua nova por aqui, ainda mais carregando esse tipo de…coisa. - proferiu, mais sério e apontando para o celular nas mãos do homem à sua frente.
— Não! Negativo! Apenas visitante! Inclusive, já de saída! Se o senhor puder me dar uma licencinha…
Pode ouvir uma risadinha admirada, um sorriso brotando no rosto alheio junto de um pequeno passo para o lado. E com absoluta certeza pode ouvir murmúrios chocados mais ao fundo, de choque pela resposta dada por si. Abaixou a cabeça, desconcertado e envergonhado.
- Eu poderia apenas ter alguma noção do teu nome? Apesar da ousadia, ninguém aqui pretende fazer algo de ruim para o senhor. - Jouki, olhando ao redor, fez um sinal com a mão, fazendo todos os outros presentes se afastarem com o simples gesto, se curvando perante a ele rapidamente e novamente. - Peço perdão pela lotação, não é recorrente alguém novo no local, mas percebo seu desconforto.
— Ah…é Ce-Kaiser…Kaiser Cohen…e obrigado…
— Kaiser..belo nome…imperador? Rei? - com um leve toque nas costas do outro, começou a o guiar pelo local, buscando algum canto mais vazio, no setor das pinturas, onde alguns sofás ficavam à disposição dos visitantes, o puxando para se sentar em um deles.
— Nao, programador… - respondeu confuso e tímido com a presença ao seu lado, sorrindo leve quando percebeu a confusão no rosto do outro. — Eu faço algumas aplicações para essas…coisas. - referenciou o celular apontado anteriormente, recebendo um aceno em concordância.
— Certo…um cidadão comum… - outro aceno em resposta.
A figura parecia quase inabalável, uma postura ereta e quase perfeita, junto das peças pesadas que pode identificar como o uniforme também em exposição, e quando teve todas as peças juntas no tabuleiro, chegou a conclusão de que este era definitivamente um importante homem, um guerreiro, provavelmente.
— Te observo pelos corredores quase toda semana…acho engraçado seu jeito de andar…e de me olhar.
— Curiosidade…te acho bonito- digo, a apresentação! E as roupas..sua estátua e tal… - uma risada proferida, junto de um aceno em entendimento.
— Claro! Também te acho interessante…se fosse uma apresentação de museu, eu com certeza ponderaria horas em observação, assim como você… não se preocupe.
O tempo passava rapidamente na conversa, vez ou outra, um desconforto pelas criaturas que andavam curiosas pela presença calma do samurai, que tagarelava e relaxava no sofá conforme a conversa fluía. Quase um desabafo, guardado há tanto na garganta deste que, um dia, também fora um homem comum, e que agora, tinha sua alma presa naquele bloco de bronze esculpido.
A confusão também havia sido explicada, e logo quando o papo se deu por encerrado, resolvida. O mais alto retornou com o homem para o fundo do prédio, apontando uma saída de emergência que abria por dentro, junto de um sorriso simpático e uma breve frase antes da despedida.
- Torço para que o Sr. Bonito se perca mais vezes neste local, será uma honra o recepcionar mais uma vez por aqui…Caso precise, já sabe onde me encontrar, apenas após o horário de fechamento.
Uma piscadinha foi lançada ao ar, um pouco bagunçada por acabar de aprender a fazer o ato, mas suficiente para arrancar uma risadinha e uma leve vermelhidão no rosto de César, que acenou com as mãos e um sorriso, finalmente conseguindo sair do local
As visitas continuaram, e digamos que, perder o horário, passou a ser algo frequente e interessante na vida monótona de César.
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uma noite no museu | joaiser
Fanfictionbetado (preguiçosamente, perdão pelos errinhos ahsuaha) os personagens não me pertencem! todos os créditos vão ao rpg ordem paranormal fanfic inspirada na franquia de filmes "Uma Noite No Museu". Todos os créditos e referências também são dedicadas...