Dez anos e dez meses depois o Instagram me envia uma notificação de postagem dela. Desbloqueio a tela rapidamente e vejo uma foto das quatro, lembrando o quanto elas eram inseparáveis.
Rolo a tela e noto que a última publicação, anterior a essa, é uma foto do pulso dela, mostrando o relógio que eu havia lhe dado de presente na nossa última noite juntos.
E choro. Choro principalmente por que ainda é muito difícil lidar com a enxurrada de sentimentos mesmo após tantos anos.
Choro tentando entender o porquê. Eu lembrava dos dias anteriores à sua partida, e era tudo tão perfeito que a minha mente entra em parafuso enquanto eu buscava uma resposta.
Quando ela se foi, eu a procurei em cada maldito canto da cidade, busquei informações suas na rodoviária, nos aeroportos, nas delegacias e hospitais, mas era como se ela nunca tivesse existido.
O primeiro mês foi especialmente o mais difícil. Me sentia febril, hiperventilava o tempo todo e o desespero rasgava meu peito em mil pedaços.
Eu me deitava, e me mantinha em posição fetal pelo que pareciam horas. Os calafrios percorriam meu corpo de ponta a ponta, a cabeça pesava e o coração parecia um cavalo desenfreado correndo no peito.
No primeiro ano depois que ela se foi, eu lhe escrevi vinte o oito cartas, e os seus pais me garantiram que todas chegaram até ela. Mas mesmo assim nenhuma resposta veio. Nenhum mísero porquê. Nenhum "olá Antônio, estou bem, tô por aqui seguindo a vida feliz e sem você".
Cada canto da fazenda que eu olhava, visualizava uma memória bonita de nós dois. Deitados no pasto olhando as estrelas. Ou brincando de luta, enquanto a deixava me vencer, apenas para ter a sensação do seu corpo sentado sobre o meu, e a sua felicidade enquanto abria o meu sorriso favorito e vibrava por mais uma vez ter me nocauteado.
Eu tentava odiá-la mas não conseguia. Cada maldito dia eu me sentava na porteira da fazenda no final da tarde, na esperança de vê-la cruzar a entrada saltitando, como ela fazia desde que éramos criança.
Ela se foi, e com ela toda a felicidade e entusiasmo dos meus dias. Eu já não sorria mais, não saia, não vivia. A bem da verdade, a Amanda era tudo que eu tinha de mais valioso na vida e tentava entender qual foi o meu erro pra não merecer ao menos uma explicação.
No final do primeiro ano, depois de acordar de mais um dos inúmeros pesadelos, mesmo medicado, eu sabia que não dava mais pra esperar. Eu precisava aceitar e seguir a minha vida. Ela não iria mais voltar, e aonde quer que ela estivesse, eu já não tinha mais qualquer importância na sua vida.
Eu segui a minha vida a contragosto, sentindo a sua presença em cada maldito segundo do meu meu dia. Não teve um único dia dos últimos dez anos, que eu não pensasse nela e em todos os momentos que passamos juntos e foram os mais felizes da minha vida.
Estava deitado na minha cama, perdido em pensamentos quando meu celular toca.
- Oi Fred.
- Estamos indo comemorar o aniversário do Ricardo. Resolvemos de última hora. Passo aí em quarenta minutos.
- Não estou muito a fim.
- Não te perguntei se você quer ir Papato, eu te falei que estamos indo.
- Fred...
- Chego em quarenta minutos. Tchau - ele anuncia e desliga. Filho da puta.
Me levanto e me arrumo rapidamente. Estou terminando de escovar os dentes quando meu celular apita. O pego e desço as escadas correndo, entrando no enorme carro, no banco do passageiro.
Assim que entramos no local eu a vejo, no fundo do bar, sentada entre a Aline e a Bruna. Usando um vestido preto, com os cabelos completamente escovados, e uma leve maquiagem que realçava ainda mais a sua beleza.
Me aproximo devagar, com medo das reações que o meu corpo podem ter ao ficar tão próximo dela. Meu coração bate rápido no peito, e assim que a Bruna fala algo em seu ouvido, sua cabeça se levanta e seus olhos encontram os meus.
Tudo dura uma fração de segundos, porque ela logo abaixa a cabeça e vejo seus olhos marejarem. Ela respira fundo, uma, duas, três, dez vezes. Então se levanta.
- Eu preciso ir pessoal, nos vemos depois - ela tenta afastar a cadeira para trás, e a mesma cai em um estrondo no chão.
- Mas amiga...
- Você acabou de chegar Amanda.
- Seu drink ainda nem chegou amiga.
Todos falam ao mesmo tempo em protesto, e é difícil distinguir quem fala o quê.
Eu sei que a sua ação é motivada espelhando o que eu fiz com ela nas duas últimas vezes que a vi. Sei que ela quer ir embora, para que eu fique confortável com meus amigos. E sei também que ela não quer passar mais uma vez pelo constrangimento de me ver virar as costas e sair por sua causa.
Ela se abaixa rapidamente enquanto tenta conter as lágrimas. Levanta a cadeira e tenta passar por mim, quando eu seguro levemente seu braço.
- Não vai, fica - peço baixinho, enquanto sinto todos os olhares da mesa vidrados em nós.
- Mas... - ela não olha nos meus olhos, permanece com a cabeça abaixada tentando controlar o choro que parece insistir em não abandoná-la.
- Me desculpe pelo desconforto que te causei das outras vezes. Não vai se repetir.
- Tudo bem - ela susurra - eu vou ao banheiro - solta seu braço do meu aperto e passa por mim, ao mesmo tempo que Aline se levanta a vai atrás dela.
O que estão achando?, comentem aqui e deixem uma curtida no capítulo sempre que possível. Já já estou de volta. Beijos ❤️
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DocShoe - Todo seu
FanficDez anos após sumir do mapa, Amanda está de volta à sua antiga cidade. Os motivos que a trazem não são bons, muito menos todas as memórias que insistem em vir à tona. Enfrentar o passado pode ser doloroso, mas nada se compara a dor de ver o seu anti...