8. Medo

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22 de fevereiro de 2012

Saio do quarto do Antônio pulando e completamente saltitante enquanto desço as escadas. Abro a porta e já na área externa procuro pelo meu pai mas não o encontro.

- Pai? - pergunto achando estranho, já que o pai do Antônio havia me dito que ele estava aqui fora me esperando.

Sinto um arrepio na espinha e estou prestes a voltar para dentro quando alguém chuta minhas costas e me dá uma enorme pancada na cabeça.

Acordo em um quarto branco, deitada em uma maca e tento observar atentamente cada detalhe. Busco na mente o que pode ter me trazido até um quarto de hospital, mas nada me ocorre.

Olho pra baixo e vejo que estou usando um avental cirúrgico. Me lembro então de ter levado uma enorme pancada na cabeça na entrada do casarão.

Estou prestes a me levantar quando uma enfermeira entra no quarto.

- Oi Amanda, como se sente?

- Bem eu acho, não sei. Meu estômago está doendo muito e minha cabeça também.

- É normal, você levou uma bela pancada.

- Eu quero ir pra casa agora. Meus pais estão aqui?

No mesmo momento a porta se abre, e o pai de Antônio entra. Sua expressão não é nada amistosa e eu sinto o medo se alastrar por cada poro do meu corpo.

- Eliza, nos deixe a sós por favor.

- Sim senhor - ela responde, e sem me olhar, abaixa a cabeça e sai.

Ele se aproxima lentamente da ponta da maca onde estão meus pés e se senta ali, com um pé erguido e o outro no chão.

- Você está grávida.

- S...sim - gaguejo, com muito medo da sua reação - como o senhor sabe?

- Eu sei de tudo que acontece naquela fazenda Amanda.

- Eu quero ir embora.

- Você vai, não se preocupe. Mas antes, nós precisamos resolver algumas coisas que estão me preocupando demais.

- O que?

- Esse bebê é a primeira delas, você... é a segunda.

- Não... por favor, não faça nada com o bebê, eu te imploro. Eu faço o que o senhor quiser, mas deixa o bebê aqui.

Depois disso uma sucessão de eventos acontece e quando acordo, eu estou dopada demais e com a camisola repleta de sangue, enquanto cólicas horríveis perpassam por todo o meu ventre.

Eu choro e imploro à Deus pela vida do meu filho, e quando a enfermeira, que agora eu descubro se chamar Eliza entra no quarto, eu lhe suplico.

- Por favor, me ajuda. Eu estou perdendo o meu bebê.

- Você precisa se acalmar ok?. Amanda, não há mais nada a ser feito. Você ingeriu mais comprimidos abortivos do que seu corpo deveria ser capaz de processar, o feto já começou a ser expulso.

- Não, há um engano, eu não ingeri nada... - e só então a ficha cai. Olho para baixo e levantando a camisola, percebo que estou sem calcinha.

Procuro ao redor e não encontro a minha mochila, nem minhas roupas, absolutamente nada.

- Não adianta gritar menina. Estou te avisando antes que você tente. Se você fizer, eles vão entrar aqui e vão te matar, você não sabe com quem está lidando. Apenas fique quieta e espere até que te levem de volta para a casa.

Me deito na maca e tudo é apenas demais. Fecho os olhos e rogo a Deus por clemência pela minha vida, já que a do meu filho está se esvaindo pelas minhas mãos e eu não posso fazer nada.

Um choro devastador rasga a minha alma, e os soluços preenchem todo o ambiente, enquanto eu questiono a Deus por tantas coisas.

- Deus, porque comigo Senhor? - sussurro e choro baixinho, levando a mão ao ventre e pensando o quanto Antônio ficaria feliz se eu tivesse lhe contato.

Não sei quanto tempo se passa, até que o pai dele entra novamente no quarto, dessa vez trazendo minhas roupas e mochila nas mãos.

Ele joga tudo no chão, me obrigando a catar como se eu fosse um nada. Mas eu faço, preciso ir embora daqui o quanto antes.

- O primeiro problema foi resolvido. O segundo, bom, eu quero você fora e o mais longe possível da fazenda ainda hoje, ou seus pais sofrerão as consequências por você.

- Nos deixe em paz por favor.

- Eu estou te dando a chance de ir sem que nada de ruim aconteça Amanda. O Antônio precisa seguir a vida dele, sem toda essa idolatria que ele tem por você, já está mais do que na hora. Eu esperei demais e deixei que tudo chegasse muito longe.

Um soluço escapa da minha boca e eu busco a respiração que está fraca no meu peito.

- O motorista vai te levar até a fazenda, e depois vai te deixar no aeroporto. Eu espero que você suma do mapa e da vida do meu filho Amanda. Você entendeu tudo que eu falei?

Concordo. Com medo demais por tudo que já aconteceu.

Com dor, visto a roupa que no mesmo instante se suja com todo o sangue que abandona meu corpo. Coloco a mochila nas costas e saio do quarto, atravessando o hospital olhando para o chão, com medo suficiente de fazer qualquer besteira.

Quando chego em casa, procuro meu celular na mochila e não o encontro. Abro a porta e vejo que no relógio já marcam 07h56 da manhã.

Vou até o quarto dos meus pais, e meu coração se alivia no mesmo instante ao ver minha mãe ali, ainda dormindo.

Volto para o meu quarto e rapidamente faço minhas malas. Mas antes tenho uma ideia e resolvo tentar explicar para a minha mãe.

Pego um caderno e começo a rabiscar várias folhas, depois de pronto, vou até o seu quarto e a acordo.

Ela leva um enorme susto ao ver meu estado, mas faço sinal de silêncio e ela obedece o meu comando enquanto vou passando folha por folha para que ela possa entender.

"Há escutas na casa".

"O pai do Antônio está nos vigiando".

"Ele descobriu sobre o bebê"

"E o arrancou de mim"

Nesse momento, as lágrimas começam a banhar o seu rosto.

"Ele me induziu à um aborto"

"E agora eu preciso ir embora"

Ela balança a cabeça negando.

"As ameaças são maiores"

"Eu darei um jeito"

"de entrar em contato"

"Tirarei vocês daqui"

"assim que puder"

"Tomem cuidado"

"Lembrem-se das escutas"

"Avise o papai"

Quando termino estamos em pranto, ela me abraça, e nem mesmo o seu abraço de mãe, que sempre curou tudo, é capaz de confortar meu coração.

Instantes depois o motorista bate na porta, me indicando que está na minha hora de partir.

- Adeus mamãe. Eu te amo. Nunca se esqueça.

- Adeus filha. Espero te ver em breve. Eu te amo, para sempre.

E com o coração em pedaços eu parto, com a certeza que no momento é o melhor que posso fazer, por mim e pela minha família.

O que acharam?, eu tentei aliviar muito a cena, por que estava realmente muito pesada. Deixem nos comentários sugestões e aperta na estrelinha sempre que puder. Em breve estarei de volta. Beijos ❤️

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