capítulo 1/1

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Joana era apenas uma garota esquisita caminhando pelo pátio do Campus. Seu olhar era triste e isso era inequívoco, seus passos eram lentos e parecia caminhar em um deserto árido, onde as emoções se contorciam.
Evitava se aproximar das pessoas, tinha a certeza de que sozinha era menos infeliz, pois não compartilhava o fardo da sua presença que sempre parecia pouco interessante. Não ousava nos termos, mas era depressiva e se protegia como em um ritual das diversas formas de decepcionar-se.
Todo dia revelava uma tristeza que se escondia nos versos noturnos de um amor impossível, na dura recuperação das marcas que a vida lhe deixou.
Escrevia bonito e doloroso, áspero e instigante, mas escrevia para ninguém ler.
O tempo passava e não havia castigo maior do que sujeitar-se ao medo de sempre, às relações automáticas, à monotonia, ao inferno daquele corpo parado, cuja mente voava longe e os tecidos não obedeciam.
Evitar os comportamentos de sempre era ínutil, estava acostumada com isso.
Abruptamente, isso não aconteceria.
Em uma quinta-feira, quando as luzes da faculdade falhavam por falta de energia, suspirou em um abraço que lhe veio rapidamente em mente, um sentimento simples de infância, abraço de criança, coisa pura, inequivocadamente pura e deliciosa, como manjar dos deuses.
Por que as crianças tem que crescer e se tornar adultos tão esquisitos?
Naquele piscar das lâmpadas, foi surpreendida por um esbarrão e pensou: “Maldito novato, por que não olha por onde anda?”
Aquele cabelo era inconfundível, nunca vira igual antes.
—Moça, perdão! Eu sou novo aqui, me perdoe!
Aqueles traços do rapaz eram diabolicamente sedutores, o corpo, os lábios, a barba, os trajes.  Parecia aqueles bad boys de filmes adolescentes, mas com uma pegada mais adulta e responsável.
—Moça? — o rapaz notou que a garota viajava em sua mente.
— Tudo bem… — suspirou Joana.
— Não gostaria de incomodá-la, mas poderia me mostrar o caminho da direção?
— Sem problema, venha comigo.
A moça caminhava ao lado do sujeito bonito e as meninas até desdenhavam ao longe supondo teorias em suas mentes de garotas.
— Qual seu nome, Senhorita?
—Joana e o seu?
— Jonh Wenner, do 1º D.
Joana arregalou os olhos, não podia acreditar que o rapaz estava na mesma sala que ela:
— Jura? Estamos na mesma sala então.
— Você tem muito a me ensinar, Senhorita…
— Todo mundo tem alguma coisa a ensinar e aprender — sorriu.
Joana nunca tinha se aproximado de um garoto daquela forma, de uma forma tão leve. Tudo parecia tão difícil sempre…
O rapaz seguiu para a sala do Diretor Clóvis e ela ficou estremecida, pela primeira vez, com um sentimento meio bom, meio ruim.
Seguiu para a sala em passos lentos, mas conforme os dias se passavam o rapaz estranhamente procurava estar mais próximo dela, até que um dia, no corredor vazio que dividia o campus, ele puxou seu braço:
— Eu gostaria de dizer algo!
— Fale!
— Eu acho que a Senhorita já sabe…
— Algo sobre Carl Jung, Freud, Nietzche?
— Algo um pouco mais quente do que as aulas de psicologia.
— O que seria?
— Eu quero beijá-la, quero beijá-la muito, quero beijá-la desde o primeiro dia.
— Você não me acha esquisita?
— Acho e isso faz com que meu desejo seja maior ainda.
Os pombinhos se beijaram ardentemente, como uma vela que se acende em um quarto escuro. Se beijaram como se o fogo os consumissem por inteiros.
Desde o primeiro beijo, o primeiro colo, a primeira vez, tudo… O rapaz se tornava o primeiro amor da vida de Joana, o mais faceiro e inspirador, o mais poético, heróico e atrapalhado…
Os anos se passavam e aquele amor era de uma ajuda surpreendente, os sonhos eram maiores, pareciam possíveis, independente do tamanho que tivessem.
Eles se formaram em psicologia, depois de cinco anos surpreendentes.
O casal era tímido no início e tudo parecia difícil, mas agora que tudo acabava bem, se fortaleciam na ideia de proporcionar aos seus pacientes, maiores possibilidades de melhora, uma vez que agora sentiam-se melhores do que nunca.

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