O telefone tocou no bolso de Atlas, estremecendo sua coxa e alertando que alguém queria falar com ele. Enfiou a mão no bolso e tirou o aparelho de lá. Virou-o para ver quem era a pessoa que queria se comunicar com ele. Ver a imagem de sua esposa lhe abriu um sorriso na face.
Pressionou o botão verde e levou o aparelho até a orelha.
— Oi, amor — falou ele. — Como está?
— Respirando — ela ofegava do outro lado da linha. — Consegui fazer nossa pequena dormir um pouco e me dar um descanso.
— Ela está dando muito trabalho?
— Ela fica mais calma quando eu coloco sua voz gravada — respondeu Julieta.
— Espere! Você gravou minha voz?
— Gravei algumas de nossas conversas e ela fica mais calma quando escuta sua voz — explicou. — Nem comigo, que sou a mãe dela, ela fica tão calma.
— Eu queria estar aí para poder ver isso — ganiu Atlas, imaginando sua filha, pequena, adormecendo em seus braços fortes e musculosos.
— Como está no trabalho?
— A mesma porcaria de sempre.
— Quando vão te dar férias? — quis saber. — Não faz ideia de como você faz falta aqui. E como você faz falta — pelo outro lado da linha, Atlas conseguiu ouvir o cansaço e também o pesar. Ela estava triste, talvez chorando.
— Eu vou voltar.
— Quando? — ela tentou segurar um soluço.
— Em breve.
— Amanhã? — ela soltou uma risada, tentando aliviar o peso que sentia pela falta dele. — Brincadeira! Mas tenta ver se eles não te dão férias de imediato. Estou falando sério, amor. Você está fazendo muita falta aqui em casa.
Atlas sentiu seu coração apertar ao ouvir o pedido dela. Quis largar tudo só para voltar para suas fêmeas que tanto precisavam dele nesse momento, mas tinha trabalho a fazer e, se não o fizesse, não poderia dar o melhor para elas.
Números se fizeram em sua mente como sempre apareciam quando ele tinha que fazer os cálculos bancários que deixariam qualquer pessoa louca só de vê-los, mas ele conseguia manter-se calmo o bastante para resolve-los. Até mesmo entre os outros funcionários do banco, ele tinha paciência e calma o suficiente para resolver todos aqueles números.
Fez cálculos de valores, de gasolina, de tempo, de espaço e, até mesmo, de sexo — incluindo os imprevistos que poderiam ocorrer caso a filha precisasse do colo da mãe para se acalmar.
— Eu prometo que vai ser mais rápido do que você imagina — falou. — Agora fale um pouco mais — pediu. — Quero ouvir sua voz até dar o horário de eu ir para o trabalho.
Ela soltou uma risada do outro lado da linha e contou como foi a semana recebendo visitas de amigas para verem sua filha. Ficaram todas encantadas com a pequena Nina. Ele queria ter visto a reação de sua filha com a movimentação de tantas pessoas querendo vê-la.
— Vou fazer uma surpresa para você — falou ele.
Antes de desligar, desejou uma boa tarde à sua esposa e deu um beijo no ar perto do celular para que ela ouvisse.
...
...
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A caminho de sua casa, em Campo Grande, ele parou de vez em quando para beber um pouco do café que preparou pela manhã antes de sair da casa que alugou na outra cidade.
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Coração Quente (Volume 2)
RomanceAo voltar para sua cidade natal, Roberto se reencontra com sua família de raposas e as dificuldades que o fizeram ir embora. Atlas, o amigo leão de juba negra, divide-se entre a formação de uma família com Julieta, uma onça-pintada, e o seu romance...