Os Mil e Um Você (Volume 1)

XXVI

Sonic remexia seus dedinhos incontrolavelmente, ansioso. Cada passo para mais perto do consultório o deixava mais aflito, evidente a todos que o olhavam. Apreciava muito sua coragem naquele momento, seguindo em frente apesar de tudo o que passava por sua cabeça de forma incômoda.

Finalmente, paramos na frente da atendente, que deixou de anotar no caderninho que tinha em mãos para nos receber com um sorriso cansado de quem trabalhou durante várias horas, ainda que a clínica tivesse aberto há apenas trinta minutos atrás.

- Boa tarde! - cumprimenta ela, olhando de relance a agenda ao seu lado. - Chuto que você é Sonic?

- Sim - responde Sonic, ao meu lado. - Eu tenho... hã... uma consulta marcada pras 14 horas...

Ela assente, a par do tempo.

- Pontual, que ótimo! O doutor já está esperando por vocês na sala de número três! Fiquem à vontade para entrar quando quiserem.

Agradecendo, nos distanciamos, seguindo o caminho que a moça nos havia indicado. Não foi difícil encontrar a sala três, sendo esta uma das primeiras dali. Cuidadosamente, bati à porta, adentrando quando uma voz reconfortante do lado de dentro proferiu um "entra".

O azulado entrou primeiro na salinha branca e fria, avaliando com seus olhos verdes todos os cantos, inclusive o médico, que segurava uma prancheta e uma caneta, sentado em uma poltrona.

- Você deve ser o Sonic, suponho? - questiona rápido e caloroso, levantando-se para chegar mais perto do garoto. Após ele concordar levemente com a cabeça, o homem abriu ainda mais seu sorriso, guiando-o na direção da poltrona oposta à que estava. - Sente-se, por favor. Logo iniciaremos sua consulta. - Vindo em minha direção, fez uma pequena reverência. - Sou o psicólogo Mayers, é um prazer conhecê-lo...?

- Shadow The Hedgehog - completo-o, apertando a mão que me estendeu após o cumprimento breve.

- Sinto muito por isso - ele continuou, a voz tão doce que chegava a ser enjoativa -, mas o paciente precisa de privacidade na consulta. Creio que você deverá sair e esperar um chamado.

Suas palavras atraíram a atenção de Sonic, que volveu-se do lugar que estava sentado para intervir, emburrado.

- Não! Ele vai ficar aqui.

Dr. Mayers, confuso com a intromissão, também voltou-se ao menino, erguendo as sobrancelhas por sua benevolência.

- Mas a presença dele pode interferir nos resultados da consulta.

- Não vai! - teimou ele mais uma vez. Um sorriso de canto atravessou meu rosto, apreciando a perseverança do azul. - Se ele sair, eu também saio!

- Mas... - A frase do médico nunca foi completa, e depois de alguns segundos de espera, ele enfim suspirou e concordou. - Certo, ele pode ficar, mas longe do alcance de seus olhos.

Sonic também sorriu, extasiado por sua coragem e seu feito. Obedecendo os mandamentos do senhor, escorei as costas contra a parede mais escura do local, onde a luz que atravessava as cortinas não chegava, camuflando-me ali. Com isso, Mayers sentou onde antes estava e começou a tão esperada consulta.

- O que houve com você, Sonic?

Toda sua confiança murchou, e ele voltou a remexer os dedos, sem saber como contar sua história. Percebendo a tremedeira do menino, o médico tentou lhe acalmar.

- Não tenha medo de me contar as coisas, não farei nada com o que me disser aqui dentro. Leve o tempo que precisar.

E assim foi por vários e vários minutos. Um enorme silêncio pesava a sala, e conseguia ver por sua cara que Sonic juntava coragem para falar o que necessitava.