A Mudança

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Todo adolescente acha que vai morrer quando o primeiro amor se vai, e aparentemente, não sou diferente deles.
Estou sentada na 3º cadeira da quinta fileira da sala de aula, olhando pela janela em um dia totalmente ensolarado, vendo meu primeiro amor ir embora, e sinceramente, sinto que meu coração vai ser arrancado do meu peito a qualquer momento.
- Oi. – disse alguém distante.
Rapidamente sou retirada de meus pensamentos e volto ao mundo real.
- Oi.
- Você é a carioca que andam falando pela escola? – ele pergunta com os olhos semi-serrados.
- Hã? – respondo sem entender bem o que ele se refere.
- Você é a carioca que andam falando pela escola? – repete ele com uma paciência que nunca havia visto antes.
- Sou sim – solto uma risada sem graça para disfarçar meu constrangimento. Desde que vim para essa cidade, todos me reconhecem como a carioca que chegou no final do primeiro ano do EM, e não consigo disfarçar o sotaque que me ronda.
Queria passar despercebida, mas toda vez que abro a boca, todos me reconhecem.
- Qual seu nome? – pergunta ele.
- Giovanna. – respondo rápido. – Qual o seu nome? – pergunto por educação.
- John. – imediatamente ele abre um sorriso, tão lindo e sincero que me aquece inteira e me faz ficar encantada. Começo a reparar em John e como ele é lindo, um moreno um pouco mais alto que eu, cabelos escuros e um pouco grande demais sem definição, acho que precisa de um corte.
– Por que você decidiu vir para Cachoeiro? – assim que ele me fez essa pergunta, uma tristeza toma conta de mim e um nó se forma em minha garganta como se a qualquer momento eu fosse desabar de tanto chorar.
- Por conta dos meus pais, eles decidiram vir para mais perto da minha família. - quando termino de responder, a vontade de chorar vem a tona, mas eu tento disfarçar, afinal, não posso chorar na frente de uma pessoa que acabei de conhecer.
Solto um sorriso de canto para disfarçar a tristeza e aliviar um pouco o ambiente. Rapidamente a Professora entra pela sala e me volto para frente afim de encerrar a conversa.
Sempre fui uma pessoa fácil de fazer amizades e conhecer gente nova, mas desde minha mudança repentina para o Espírito Santo, ando meio distante de tudo que poderia ser bom para mim. Minha vida tem se resumido a escola, voltar para casa e ficar o resto do dia trancada dentro do quarto a espera de uma resposta do meu namorado, que depois do verão que passamos juntos em Rio das Ostras, anda mais distante que o normal.
Conheci Noah na escola pouco tempo antes de vir embora para o Espírito Santo, eu tinha acabado de começar o Ensino Médio e estava começando a querer saber mais sobre garotos. De cara me encantei por ele e seu jeito de ser. Noah tinha 17 anos, ele é lindo, alto e magro, tem um cabelo liso e macio que cai sobre o rosto dele, um sorriso largo e uma risada contagiante. Nós começamos a conversar por conta de um amigo dele que estava interessado em mim, porém, ficamos muito próximos, até que ele assumiu para o amigo que estava gostando de mim, então começamos a sair e ficar sempre que podíamos. Nosso namoro começou um tempo depois de nos conhecermos, Noah era parceiro, amigo, carinhoso, gostava de conversar e super viciado em vídeo game, ele parecia ser perfeito para mim, apenas parecia.
Depois que começamos a namorar, viajei com ele para casa da família dele em Rio das Ostras, foi tudo perfeito, a viagem parecia um sonho, conheci toda família dele, infelizmente, tive que ir embora antes dele e voltei para o Rio, mas nos falávamos todas as noites sem falta, e eu ansiava pelas ligações noturnas, a saudade dele não cabia mais dentro do peito.
Em Outubro, assim que ele voltou de viagem, corri para casa dele para ver ele depois de dias sem poder estar perto. Pouco tempo depois, quando tínhamos completado 3 meses de namoro, meus pais decidiram largar tudo para trás e vim embora, isso acabou comigo, passava dias chorando e odiando eles por terem feito isso comigo, deixei meus amigos, minha escola e um menino por quem era completamente apaixonada para trás. Achei que tudo entre mim e Noah havia acabado, mas mesmo com a distância decidimos tentar um relacionamento longe.
Depois que soubemos da notícia da mudança, passamos todos os dias juntos, nos víamos na escola, na rua, em casa, saímos e aproveitamos. Quando o dia da minha despedida chegou, foi uma choradeira enorme, chorei com todos os meus amigos, a saudade deles já estava batendo, e a ficha ainda não tinha caído, que eu iria embora para outra cidade e deixar as pessoas que eu amava aqui. Além da saudade, todos os meus sentimentos se resumiam a raiva do que meus pais estavam me obrigando a fazer, naquele momento, achei que jamais perdoaria eles por me tirarem de onde eu amava estar. Quando chegou a hora de me despedir de Noah, eu estava despedaçada, não tinha forças para seguir em frente, mas ele me fez a promessa de que logo iríamos nos ver e que ele não me deixaria. E finalmente demos nosso beijo de despedida, foi o beijo mais demorado e gostoso que já havíamos dado antes, mas ao mesmo tempo, foi o beijo mais doloroso da minha vida, eu daria tudo para não sair daquele abraço, daquele beijo, daquele cheiro, de perto dele. Mas eu sabia que era apenas um até logo e que estaríamos juntos novamente em alguns dias, ou meses.
Todos os dias, desde que vim morar aqui, nos falávamos sem falta, com vídeo chamadas, mensagens, ligações, tirava foto de tudo e mandava para ele, as vezes passava a madrugada com ele em ligação enquanto ele jogava. Não via a hora de poder beijar e abraçar ele novamente. Todos os dias eu chorava de saudade e meu coração parecia que não ia aguentar toda essa distância.
Depois de três longos e dolorosos meses, meus pais me deram de presente de aniversário, uma viagem, e finalmente pude ir passar verão em R.O com Noah. No momento em que eu desci do ônibus e vi ele de longe, eu joguei a mala no chão e sai correndo, como se eu dependesse daquele abraço e daquele beijo para não morrer. Assim que cheguei e me hospedei na casa dos avós dele, eu fiquei agarrada a ele cada momento que eu podia. Durante os dias nós passeamos muito, eu conheci lugares e pessoas novas, nos divertimos, saímos, demos muitas risadas, e nos beijamos sempre que tínhamos chance.
No dia 23 de Dezembro de 2016, estávamos na casa do tio dele quando decidimos ir deitar, e tudo parecia perfeito, Noah me beijou em cada centímetro do meu corpo, ele me acariciava como seu eu fosse a única mulher do mundo, me olhava com paixão e desejo, tinha todo cuidado do mundo comigo. Tudo que eu queria era mais dele e daquele momento, meu desejo era que o mundo parasse e ficássemos naquele momento para sempre. Ficamos juntos e nos beijando e quando percebi, já estávamos sem roupa qualquer e tínhamos chegado no grande momento. Depois de meses de espera, nem acreditei que iria acontecer e, de fato, aconteceu. Eu estava com a pessoa certa, com meu primeiro amor, com alguém que eu confiava e que confiava em mim também. Ele me tratou com carinho, teve cuidado, me beijava e tinha calma, como se quisesse, tanto quanto eu, que aquele momento durasse para sempre. Foi perfeito, todos os minutos ao lado dele foi perfeito, desde o beijo até os toques.
Depois ficamos juntos abraçados na cama como se nada a nossa volta importasse mais, ele me olhava como se eu fosse a pessoa certa, e no meu coração, ele era a minha pessoa certa. Após um tempo, adormecemos abraçados e juntos. PERFEITO.
Depois de uns dias chegou o momento de voltar para casa, estávamos na rodoviária esperando meu ônibus, e quando ele chegou e o momento da nossa despedida também, cada parte do meu corpo doía, meu coração estava em pedaços e eu só sabia chorar, não queria sair do lado dele, eu preferia morrer do que sair de lá. Novamente Noah foi perfeito, me tratou como se eu fosse única e como se nunca iríamos nos separar, mas no fundo, eu sabia que nada seria como antes, não mais.
Porém todo cuidado e carinho que ele tinha por mim acabou quando voltei, alguns dias depois que voltei, ele ficou distante e nossa relação foi se esfriando aos poucos e eu fui me afundando em uma depressão que não tinha medida. Meu coração, minha alma, meu corpo clamava por Noah, eu deveria saber que não duraria muito, mas eu queria que durasse o resto de nossas vidas. Infelizmente não foi como eu queria.
Quando me dei conta, o sinal do fim da aula tocou, juntei minhas coisas para descer para o recreio e notei que John ainda estava me olhando, logo abri um sorriso para ele e segui para o refeitório.

Mil e um amores.Onde histórias criam vida. Descubra agora