CRISTINA II

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I


Miles ergueu o olhar para o céu, pedindo um pouco de paciência divina. Ao seu lado, Juan fumava. Ele falava, para variar, uma quantidade absurda de besteiras, fazendo os minutos se arrastarem como se fossem horas.

Estavam sentados dentro do carro, diante de um prédio com a fachada de tijolos vermelhos opacos.

— Odeio esperar. — Juan comentou, em meio a uma nuvem de fumaça.

Ele falou com ar displicente, como se estivesse discutindo sobre o tempo e Miles permaneceu em silêncio, entregue a outros pensamentos. Estava louco para que aquele trabalho chegasse ao fim e pudesse, finalmente, se ver livre daquele sujeito e do desgaste da caçada à Diana.

— Então, escolheu a profissão errada. — Retrucou, limpando as lentes dos óculos de sol na camisa.

Enquanto isso, um homem careca saiu do prédio e caminhou até eles, lançando olhares desconfiados para a rua. Miles saiu do carro, voltando a colocar os óculos.

— É tudo o que temos — disse o sujeito careca, oferecendo um envelope pardo para ele.

Desconfortável, o sujeito soltou um sorriso sem graça para uma mulher que passou por eles, então voltou a mirar a entrada do prédio do qual saiu. Explicou, apontando para o envelope:

— Aí tem um levantamento de todas as câmeras de trânsito que flagraram a ação dos bandidos e a fuga da mulher que eles perseguiam. — Fez uma pausa para coçar a barbicha rala e riu. — Acredita que ela se disfarçou e roubou as chaves do carro dos caras?

Miles não respondeu. Em vez disso, entregou outro envelope para ele, que o abriu apenas para confirmar que estava recheado de dinheiro.

— Você fez o que combinamos?

O careca balançou a cabeça, afirmativamente. Contou:

— Durante a madrugada, houve uma pane no sistema. Um vírus corrompeu nosso banco de dados. Imagens da semana inteira foram perdidas. Infelizmente, — riu — não temos mais como identificar os protagonistas daquele incidente e as imagens que a imprensa liberou não possuem muita qualidade... — encolheu os ombros, aparentando consternação, e o capanga sorriu enquanto regressava para o carro.



II

Diana estava sentada na beirada do pequeno ancoradouro no lago. O sol forte do início da tarde castigava a pele dourada, enquanto ela deslizava a ponta dos pés na superfície da água.

Soltou um suspiro lento, afundando o pé completamente no lago. Ela sempre encontrava clareza e paz na água. Todavia, não era assim que se sentia naquele momento.

— Ela tem razão, sabe? — Falou, e Vanessa se perguntou como sempre notava sua presença antes que se anunciasse.

Silenciosa, juntou-se a ela. Sentou com as pernas cruzadas e deixou que um minuto se passasse antes de perguntar:

— No quê?

Um sorriso amargo apareceu nos lábios da ex-namorada, enquanto respondia:

— Sou uma idiota e você quase morreu por isso, hoje.

O vento forte soprava seus cabelos, dando-lhe um aspecto juvenil. Pelo que se lembrava, Vanessa nunca a vira com olhar tão perdido, nem mesmo durante a doença que acabou tomando a vida do pai.

— Nós três quase morremos — retrucou, afundando os pés na água, também.

Naquela manhã, tinha experimentado diferentes tipos de medo. Medo por si, por Cristina e medo de perder Diana, outra vez. Mesmo que não conseguisse dizer aquilo em voz alta, nem desejasse admití-lo, era a verdade do seu coração.

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