ARMAND

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I

Aquiles sorriu, observando Gillian e seus homens levando Diana e Max para o interior da imponente residência nos arredores da cidade. Estavam em uma chácara, longe de olhos e ouvidos curiosos.

A propriedade não era muito grande, considerando os padrões do criminoso, contudo a localização era perfeita.

Ele ainda se encontrava dentro do carro, saboreando um cigarro e a vitória. No entanto, tinha as sobrancelhas erguidas e os lábios crispados. Algo o incomodava. A surpresa da noite anterior e a captura de Diana, uma hora antes, lhe pareciam fáceis demais. Conhecendo a sobrinha, esperava que ela desconfiasse de algo e tentasse lhe passar a perna.

Deslizou a mão pelos cabelos, impaciente. Talvez estivesse exagerando. Tinha passado tanto tempo correndo atrás dela, sendo feito de idiota, que acabou por esperar alguma surpresa, como a que havia ocorrido quando Miles morreu.

Gillian se aproximou do veículo e abriu a porta, posicionando-se ao lado desta, enquanto o aguardava descer dele. O chefe esmagou o resto de seu cigarro com a sola do sapato, respirando o ar puro do fim da madrugada e afastando suas preocupações.

— O que deseja fazer, senhor? — Perguntou o capanga.

Aquiles coçou o queixo, ainda irritado com a sensação da qual não conseguia se desapegar. Prosseguiu para a entrada da residência, ponderando sobre a pergunta do capanga, que o seguia de perto, todavia não entraram. Em vez disso, Aquiles pendurou outro cigarro nos lábios e acendeu.

— Coloque-as juntas. Deixe que Diana saiba que descobri seu segredinho. Que elas contem os minutos para a morte juntas.

Com um sorriso raro e malvado, Gillian se adiantou e entrou na casa, deixando-o para trás. Alguns dos homens que conduziam a prisioneira, ainda usavam as máscaras de tecido negro e faziam piadas com a moça, que mantinha um sorriso confiante nos lábios ensanguentados, mas nada dizia.

Eram bem poucos agora, depois do incidente na casa do lago. Alguns se empertigaram ao verem o grandalhão Gillian se aproximar, outros se afastaram de seu caminho, já que não era saudável para ninguém atrapalhá-lo. O humor do sujeito andava péssimo e sanguinário desde a morte de Miles e companhia.

Gillian envolveu o braço da prisioneira com a mão grande e áspera e a empurrou pelo corredor no fim das escadas, que haviam acabado de subir. Apertava forte e conseguiu lhe extrair um gemido de dor.

— Estou muito surpreso com você. — Disse ele, sem esconder a raiva que o tomava.

— É mesmo? — Ela respondeu com voz estranha e rouca.

Ainda interpretava seu papel e Gillian não estranhou o fato, pois era comum que demorasse a sair do personagem. Não foram poucas as vezes em que ele imaginou que Diana fazia isso porque tentava fugir da própria vida.

Se um dia tivesse comentado suas impressões com ela, teria descoberto que estava muito longe da verdade.

— Confesso que jamais imaginei que pudesse tirar uma vida e me causou grande eto saber que você matou Miles. — Ele continuou, aumentando a força, como se fosse uma serpente se enroscando no braço dela.

Caminhavam em direção à porta no fim do corredor, ouvindo seus próprios passos e os da dupla de capangas mascarados que os seguiam.

— Como desejei matar você assim que encerrou aquela ligação. — Contou, agora falando baixo e ameaçador. — Miles tinha família!

Ela virou a face para olhá-lo, enquanto respondia:

— Muita gente tem família. Você já parou para pensar nas famílias das pessoas que matou? — Mostrou um sorriso escarninho, para depois gemer quando ele a fez andar mais rápido com um safanão no ombro.

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