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— Onde a senhora estava? — Cristal perguntou assim que abri a porta do nosso apartamento. Havia passado o dia inteiro fora de casa, e Rogério quem teve que leva-la e busca-lá na escola. — Depois da ligação que você recebeu mais cedo, a senhora sumiu. Aconteceu alguma coisa?

— Oi meu amor. — A cumprimentei, jogando minha bolsa sobre a mesinha de centro, e beijando o topo de sua cabeça. — Não se preocupe querida, hoje precisei ir mais cedo pro trabalho, e foi um dia daqueles. — Enfatizei o final da frase.

— Hum.. Adivinha só? — Cristal perguntou empolgada. — Sua filha está definitivamente de férias!

— Muito bem meu amor, estou orgulhosa! — Vibrei junto à ela, pois isso significava que ela não ficou de recuperação em nenhuma matéria, nem mesmo em biologia que ela não tinha muita certeza. — Você já comeu?

— Sim, o papai levou Clarisse e eu no Mc Donald's. — Caminhei para a cozinha, sendo seguida por Cristal. — Ele também passou no KFC só pra te comprar seu lanche preferido.

— Sério?! Nossa, o seu pai é mesmo incrível! — Abri o microondas e lá estava um balde com alguns hot wings.

Fui até a geladeira, peguei uma garrafa de refrigerante, e enchi um copo. Em um gesto, ofereci à Cristal, que em outro, recusou, então guardei a garrafa novamente.

— É.. ele é sim. — O seu tom de voz havia mudado, estava quase inaudível. — A gente foi até o seu trabalho pra te fazer uma surpresa, mas a senhora não estava lá. — Meu olhar foi diretamente de encontro ao seu, e meu coração apertou, me senti como uma criança quando é pega mentindo. — Então não mamãe, a senhora não recebeu a ligação do seu trabalho, a sua assistente disse que a senhora pediu pra ela cancelar todos os seus compromissos hoje cedo. Onde a senhora estava?

— Eu..estava resolvendo assuntos pessoais. — Limitei-me a dizer na falha tentativa de achar que seria o bastante para ela.

— Mãezinha? — Ela entendeu que poderia prosseguir sem que eu desse uma resposta para isso. — A senhora tá com namorado novo?

— O quê?!

— A senhora sabe que pode me contar, provavelmente eu vou ficar triste pelo papai, mas acima de qualquer coisa eu quero te ver feliz. — Cristal pareceria uma mulher adulta falando senão fosse pelo pijama do Bob Esponja.

— Não é o que você está pensando. — Peguei o balde com os frangos e o copo de refrigerante e fui para a sala, na falha tentativa de fugir daquele assunto. Me sentei ao sofá.

— Olha mãezinha, eu já não sou mais nenhuma criança. — Cristal disse se sentando ao meu lado no sofá. — Eu sei que o papai te amou muito, mas que vocês desistiram do casamento por conta dessas suas saídas repentinas que demoravam horas, quase o dia inteiro. E era sempre uma desculpa diferente, ora a senhora estava no trabalho, ora estava na casa da vovó, mas aposto que nunca de fato estava onde dizia. E tivemos a prova disso hoje, quando a senhora disse que estava no trabalho, e não estava. — Cristal mantinha o tom sereno, mas ainda dava para sentir o desapontamento em seu tom de voz. — O papai tentou esconder a decepção, mas eu sei que ele ficou triste. A gente tava indo te fazer uma surpresa, achando que a senhora estava tendo um dia super cheio com seus clientes.

Realmente o meu consultório de advocacia me tomava certo tempo, mas não era o caso.

— Eu tô triste com a senhora, porque achei que éramos amigas e que se a senhora fosse começar outro relacionamento ia querer que eu soubesse, porque saberia que independente de qualquer coisa eu ficaria feliz. — Foram as últimas palavras de Cristal, que não me deu direito de resposta. Ela simplesmente saiu quase que correndo para o seu quarto, e aquilo partiu o meu coração em mil pedaços.

As Inesquecíveis Tulipas VermelhasOnde histórias criam vida. Descubra agora