XV - Garoar

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Minutos, Horas se passam, e a tempestade parece que nunca chegará ao seu fim. O Vento forte tenta soprar a nossa única cobertura para longe, mas eu e Fenrir seguramos em nossa Lona para evitar que isso aconteça. O som das gotas de chuva cai ferozmente por cima de nós, fazendo um barulho alto devido ao fato de que a única coisa que nos impede de molharmos é essa lona. Estou assustada, é como se um raio pudesse nos atingir a qualquer momento. Estou relativamente próxima ao meu Guia, mas diferente de mim, Fenrir não parece estar assustado. Nos mantemos quietos o tempo todo desde quando a tempestade começou, é estranho vê-lo assim, mas ele tem os seus motivos, eu também estou nada bem. Não sei por quanto tempo ficamos nessas posições, mas parece que finalmente a chuva começou a dar uma diminuída, e os ventos se tornaram menos violentos. O som da água a cair do céu começou a se tornar mais agradável, como som ambiente. De repente, eu finalmente escuto a voz grossa de Fenrir. A fera se levanta, ainda carregando a nossa Lona acima de nós, e então ele diz:

- '' vou fazer o acampamento.''

Diz ele de forma direta. Eu me mantenho quieta, consentindo com a ideia. A chuva durou a tarde toda, então nós perdemos muito tempo aqui. Eu olho para o céu, e as nuvens escuras ainda pairam sobre nós. Acompanhado de alguns trovoes que parecem chocar a terra, mas também dá para perceber a pouca luz do sol a passar pelas poucas brechas das nuvens. Daqui a pouco deve escurecer. A grama está molhada e a minha roupa está suja. Roupa essa que não me pertence. Fenrir amarra as quatro pontas da Lona nas arvores que estão perto de nós, formando uma espécie de telhado. Eu me lembro que eu comprei essa Lona para eu poder carregar a caça de Fenrir em Marboeli, eu não imaginei que ela pudesse ter essa utilidade também. Ainda é possível ver as marcas de sangue que mancha o seu tecido, mas a água da chuva a limpa. A corda que Fenrir usou provavelmente deve ser a mesma em que ele roubou daquele vilarejo. Não vou colocar o meu lençol aqui se não irei suja-lo. Fenrir ainda está próximo de mim, ele anda em volta a procura de pedras e matérias em que ele pudesse usar para fazer a fogueira, porém está tudo molhado. Ainda está a chover, uma chuva mais fraca, mas ainda assim atrapalha. Fenrir passa os próximos minutos a montar a Fogueira. Preparando o terreno e fazendo um pequeno círculo de pedras. Fenrir também trouxe pequenos galhos, mas todos eles estão molhados. A fera prepara a estrutura com o material natural que conseguiu, e com as próprias garras, Fenrir tenta iniciar uma chama. Acaba não dando certo de primeira. O lobo respira fundo e tenta de novo. Percebo que criar uma fogueira é um exercício de paciência, principalmente nessas condições. Eu queria poder ajudar o Fenrir, mas...eu não sei fazer fogo. Nunca aprendi. Fenrir tenta novamente, mas falha. Suas mãos estão sujas, sujas de terra e também de sangue velho que mancha o seu pelo cinza. Nós dois estamos molhados, e com frio. Ainda em silencio, eu me abraço para tentar me aquecer em quanto eu observo Fenrir a iniciar o fogo. Depois de mais algumas tentativas, Fenrir consegue criar uma chama, pequena, mas esse feito consegue deixa-lo alegre. Ainda na fogueira, aos poucos Fenrir vai movendo alguns galhos para tentar fazer com que o fogo aumentasse. Eu fico surpresa de como ele conseguiu fazer isso, mesmo em uma situação tão precária como a que nos encontramos agora. Vejo que Até mesmo o Pivote se apropria da proteção criada pela Lona para ele não se molhar, e fica ao chão do acampamento. Decido comentar sobre o Fogo, também para quebrar esse silencio estranho.

- '' Woah, como conseguiu fazer isso?''

Pergunto surpresa, a me referir a chama que ele acabou de fazer. Fenrir me olha atento, provavelmente não esperando que fosse falar. Ele desvia o olhar e coça a sua nuca nervosamente em quanto responde:

- '' ah, isso? Técnicas de caçadores, se quiser eu posso te ensinar depois.''

Responde o lobo de forma casual. Ele continua a mexer na fogueira mais um pouco. Ele também mante alguns galhos perto da chama para tentar seca-los e usa-los como combustível assim quando estiverem secos. O fogo continua a queimar, e parece que vai continuar por mais um tempinho, pelo menos o suficiente para nos manter aquecidos. Após isso, Fenrir se senta ao chão, próximo a mim, mas mantendo uns dez palmos de distância e volta a se calar. Fenrir cruza as suas pernas e encara a luz do fogo com um olhar de reflexão e tristeza. Consigo ver o reflexo da chama em seus olhos azuis, é até mesmo possível ouvir um suspiro cabisbaixo vindo do caçador. Eu não consigo evitar, mas ver ele dessa forma me incomoda. Desde quando eu o conheci nessa viagem, Fenrir se mantinha quieto e era rude, mas dessa vez é diferente, e eu sei o porquê, estamos apenas há algumas horas de uma tragédia, e eu me sinto culpada por arrasta-lo nessa desventura. Demorou para eu perceber que o Fenrir não é um monstro como eu imaginava, e agora eu consigo sentir os seus machucados ocultos. Eu também estou, mas eu nunca quis prejudicar outras pessoas, principalmente alguém que se esforçou tanto para me ajudar. Ele não mereceu passar por essas coisas.

Histórias De Inverno (A Chapeuzinho Vermelho e o Lobo)Onde histórias criam vida. Descubra agora