Capítulo 5

493 45 12
                                    

LAILA AHMAD

Domingo à noite. A chuva cai de forma intensa e persistente ao lado de fora da boate. Ainda não está exatamente no horário de abrir, mas a cada minuto a ansiedadede estar no palco me atinge. Hoje o dia já amanheceu de forma nublada, o sol não apareceu em nenhum momento do dia, o que me permitiu ficar deitada desfrutando de um bom cobertor e chocolates ao leite.

Normalmente eu não tenho tanto tempo para lazer, sempre estou trabalhando, na faculdade ou fazendo algum dos milhares de trabalhos do curso. O meu maior sonho era conhecer algum rockstar muito famoso, ele se apaixonaria perdidamente por mim e nós iríamos para Vegas para um casamento relâmpago. Mas infelizmente à vida não é um conto de fadas.

No mundo real temos que batalhar incansavelmente para ter um mínimo de estabilidade financeira. Perdi meus pai ainda muito nova, eu não tinha nem dois anos na época, quando eles morreram, meu dindo já estava comigo à algum tempo por um motivo desconhecido por mim. Cresci ouvindo maldades dos colegas na escola, as festinhas de dia das mães era uma tortura pra mim.

Sempre fui reclusa à ter amizades, o medo delas me julgarem sempre esteve presente. Quando entrei para a faculdade isso mudou, são pessoas com mentalidade diferentes, então finalmente pude ser eu mesma, pelo menos uma vez nada vida. Megan me acolheu como sua irmã mais nova, me fez conhecer sua família e seu filho adotivo.

— Laila, pensei que não viria – Susan aparece no meu campo de vista, usando um corpete preto que é selado com linhas cruzadas, juntamente com uma mine saia quadriculada.

Susan é uma grande colega de trabalho. Ela entrou à pouco tempo, já que seu último emprego de contadora não deu certo, ela decidiu entrar para a área de dançaria. Susan tem uma pela dourada, um pouco mais escura que a minha, complementando com seus cabelos cacheados que dão um charme em seu rosto. Os lábios carnudos e perfeitos chamam a minha atenção, principalmente por estarem pintados de vermelho sangue.

— Tive esse pensamento pelo dia inteiro, mas o trabalho me chama, não posso simplesmente fugir.

— Seu padrinho é o dono, você tem créditos! – faz uma careta muito engraçada

— Que tipo de profissional eu seria se usasse essas coisas para me favorecer? – a questiono, acabando de passar lápis de olhos na parte inferior dos olhos

— A muito inteligente, por sinal – abre um enorme sorriso, correndo até mim e agarrando-se em meu pescoço – Tenho uma novidade maravilhosa!!

— Então me diga – acabo sorrindo pela sua empolgação

— Consegui o dinheiro para dar de entrada na casa da minha mãe. Hoje vou receber pelo mês e finalmente, conseguirei tirar minha mãe daquele lugar tenebroso – fala com euforia, não me contenho com tanta felicidade e orgulho por ela, acabo abraçando minha colega.

— Estou imensamente feliz por você, Susan! Sempre soube que você é capaz.

A mãe de Susan criou seus cinco filhos sozinha, já que o pai das crianças a abandonou na última gestação para fugir com uma prostituta que havia conhecido. Desde então a mãe dela lutou todos os dias para poder dar um sustento à sua família, os filhos foram separados após um período difícil que a mãe de Susan teve que roubar um pacote de pão de um supermercado, já que seus filhos estavam passando mal de fome.

Eles ficaram sem casa, sem a mãe e ainda por cima separados. Nove meses depois ela foi soltada e conseguiu a guarda dos seus filhos novamente. Quando o mais velho completou onze anos começou a trabalhar, os mais novos foram para escola e assim ela poderia tentar arrumar um emprego. Hoje em dia sua vida é estável, mas ainda pode melhorar bastante e Susan como filha mais nova, se vê no direito de fazer qualquer coisa para melhorar à vida da mãe.

— E você já sacou o dinheiro? – questiono

— Não! Estou esperando o do seu padrinho cair, assim pego tudo junto e pago o mais rápido possível.

Antes que eu pudesse abrir a boca para dizer alguma coisa, um som grave invadiu meus ouvidos, me fazendo tampá-los imediatamente e fechar os olhos pelo som horripilante. Aparentemente uma bomba ou granada explodiu perto da boate, já que as luzes foram apagadas imediatamente. Olhei para Susan e ela estava caída no chão, com os olhos assustados.

Ainda estou meio zonza, minha cabeça ecoa o barulho sem parar e sinto meus ouvidos dormentes. Ajudo Susan à se levantar, a mesma estava indo até a porta para vê o que tinha acontecido, mas é impedida quando sons de tiros estão ecoando e gritos de pessoas assustadas. Quando percebo já estou movendo minhas pernas até a porta.

— O que você pensa que tá fazendo? – Susan me impede de abrir a porta, falando baixinho.

— Vê o que está acontecendo! Não podemos ficar aqui sem saber de nada.

— Não seja teimosa, Laila. – continua com seu tom baixo – Escute! Isso são tiros, a Boate está sendo invadida, temos que arrumar uma forma de sair daqui e rápido.

Parecendo uma chave em minha cabeça, percebo o que realmente está acontecendo. Estamos em extremo perigo aqui. No instante seguinte já estou empurrando a escrivaninha para a porta, Susan trancou a mesma e começou a me ajudar, colocando o sofá atrás da porta. O som só aumenta, os gritos estão diminuindo o que significa que pessoas podem estar feridas ou até mesmo mortas.

Quando finalmente a porta parece estar segura, ouvimos aguentem tentar abri-la e forçá-la. Puxo Susan até a janela, valiando ao redor, não parece ter muitas pessoas desse lado. Consigo abrir à janela, mas aí quando eu ia por minha perna por cima da mesma, a porta é quebrada ao meio e vários homens entram rapidamente. Um tiro faz meu corpo se arrepiar, o som entra pelos meus ouvidos me fazendo estremecer.

São puxada brutalmente pra dentro do camarim. Infelizmente vejo o que nunca imaginei, o corpo de Susan está caiando de bruços no chão, com um tiro na cabeça e um grande poça de sangue em volta do corpo. Meus olhos se enchem de lágrimas instantaneamente, minha garganta se fecha e posso sentir minhas pernas perdendo a força. O homem me agarra de forma bruta, enquanto outro homem se aproxima com um sorriso no rosto.

— Então é você a joia do velho Saidd?

Não posso respondê-lo, nem se eu tentasse conseguiria. Para o meu terror, sons de tiros voltam a ecoar e dessa vez o aperto atrás de mim não existe mais, fazendo meu corpo sair por cima do de Susan, me deixando suja com seu sangue em minha roupa, cabelo e mãos. Os homens que estavam em torno de mim, agora estão mortos com tiros no corpo.

— Laila! – a voz do meu dindo é distante, porque meus olhos estão focados em Susan em baixo de mim – Laila, minha filha, está me ouvindo?

E assim, me permito fechar os olhos entregar-me à escuridão.

Vendida Pra Ti - Série Milionários 01Onde histórias criam vida. Descubra agora