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— Meu Deus, mamãe. — Foi o que Cristal disse. — Que coisa mais encantadora! — Seus olhos brilhavam repletos de fascinação. — E como as amigas dela reagiram ao relacionamento de vocês?

Cristal estava tão envolvida naquela história que mesmo que seus olhos demonstrem curiosidade, ela não me interrompeu em momento algum, nem mesmo quando saímos do seu quarto e retornamos à sala.

— Naquela época as pessoas eram muito mais cabeça dura do que hoje em dia, então a gente ficou longos meses escondendo essa relação que ia muito além da amizade. — Expliquei. — Mas se nos olhassem bem, se nos olhassem fixamente perceberia que éramos muito mais do que amigas. Até então, só a dona Olívia, da sorveteria, que sabia sobre a nossa relação. Ela era uma senhora à frente do seu tempo, nunca nos julgou e nem nada do tipo, pelo contrário, nos aconselhava, e incentivava-nos a contar aos nossos pais. Ela dizia que eram os únicos que deveriam saber quem fazia a filha deles felizes, mas que só o nosso coração deveria escolher quem nos faria feliz.

— Que bom que vocês tiveram alguém como apoiadora de vocês, mãezinha.

— Sim meu amor, e a dona Vera e seu Lúcio também nos apoiaram.

— Ué mãezinha, essa parte a senhora não contou. — Cristal disse intrigada.

— Quando apresentamos o nosso trabalho, que por sinal ficou espetacular, o levamos na floricultura. — Seu Lúcio e Dona Vera ficaram embasbacado com a nossa maquete da loja deles, e Sarah e eu resolvemos presentea-los com ela, até porque será mais útil pra eles do que pra nós. E bom, em determinado momento, elogiamos mais uma vez a relação deles, que apesar de bastante tempo juntos ainda pareciam dois adolescentes apaixonados, e dona Vera deixou escapar um "igual à vocês duas?!" Sarah e eu nos entreolhamos e ficamos um pouco vermelhas, até que seu Lúcio disse em meio a uma risada "vocês estão surpresas por acharem que estavam conseguindo esconder esse "segredo" bem demais ou porque nós temos a mente aberta?" — Forcei um tom de voz másculo, numa péssima imitação de Seu Lúcio, Cristal achou engraçado. — Depois disso, eles desejaram que tivéssemos uma relação tão duradoura e feliz quanto a deles. E eu torci com todas as minhas forças pra que aquele desejo fosse atendido.

— E porque não foi, mãezinha? — Os lábios de Cristal estavam franzidos e seus olhos levemente caídos numa perfeita expressão de tristeza.

— Você já quer pular pro final? — fiz cócegas em sua barriga, tentando distrai-la daquele final que me causava uma tristeza sem tamanho.

— Aí mãezinha! — Cristal riu enquanto se desvencilhava de minha mão em sua barriga. — Vai, continua a história.

— Deixa eu comer só mais um franguinho?! — Peguei mais um hot wings. — Continuando...

*flashback on*

Sarah e eu resolvemos manter a nossa relação em segredo por não ser algo bem aceito na época, mas estávamos juntas em qualquer oportunidade, e quando não era oportuno, fazíamos ser.

Com mais ou menos três meses nessa situação, iria ter um passeio na escola para a nossa turma. Era em uma fazenda.

Chegou o tal dia do passeio, e dentro do ônibus a Sarah não se sentou ao meu lado, o que eu estranhei e muito, pois não não desgrudavamos. Pensei que tivesse feito algo que a tivesse chateado, mas nada vinha em minha mente.

— Oi. — Um menino que costumava sentar no fundão da sala, junto com os demais meninos me cumprimentou. Ele estava parado bem ao lado da cadeira vaga ao meu lado no ônibus. — Esse lugar tá vago?

As Inesquecíveis Tulipas VermelhasOnde histórias criam vida. Descubra agora