Véspera do primeiro dia - Capítulo 2.

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Rafael,

Faltam apenas algumas horas para o primeiro dia de aula, não vou mentir que estou animado. Último ano, últimas aulas e últimos momentos. Muitos podem pensar que eu sou apático em relação a tudo, porque no geral eu sou bem fechado e não falo muito sobre o que eu penso. Não quero dizer que eu sou o garoto sombrio do tipo que você vê nos animes, honestamente isso é bem brega, haha. Mas sou um cara na minha. Fechado e na maioria das vezes calado.

Normalmente eu não fico muito animado, mas soube que esse ano vão entrar alunos novos o que me dá um pouco de esperança em relação a tudo. Não que eu não goste da minha turma, só sinto que vamos ser o último ano mais apagado que aquela escola já teve. Sempre fomos muito tranquilos, sem confusões, sei lá, tudo meio igual todos os anos. Faz alguns anos que não chega ninguém novo, então estou empolgado. Vai que alguém anima aquela sala de aula?

– Filho, cê me ajuda a terminar a janta? – minha mãe gosta de fazer perguntas óbvias.

Claro que eu vou ajudar.

Desde a morte da minha irmã nós temos muita dificuldade em lidar com o luto. Meus pais são divorciados e é melhor do que eles brigando a todo momento, quebrando os pratos e gritos que toda a vizinhança escutava. Realmente bem melhor. Mas por outro lado, a falta de um apoio é bem complicado. Não que meu pai seja ausente na minha vida, mas na vida da minha mãe, obviamente que ele é.

Eles eram muito agressivos um com o outro, talvez seja por isso que eu nunca namorei. Sempre tive medo de ter algo como o "romance" deles. Eu estou bem sozinho e é o sentimento que eu sempre senti. Não preciso de ninguém, e ninguém precisava de um garoto tão introvertido quanto eu.

Por mais melodramático que isso possa parecer.

– Mãe, e aí? – ela sorriu para mim.

– Tudo bem filho, mas o que exatamente você quer saber? – sorri de volta.

– Ter a mãe como diretora da escola onde você estuda, é bem legal, – ela gargalhou, já sabia do que se tratava – principalmente quando você quer saber sobre os alunos novos.

– Uma garota e um menino, que surpreendentemente se inscreveram hoje. – eu fiquei confuso, pois achava que Amanda iria entrar.

Quem é Amanda? Lembra quando eu disse que estava bem sozinho?

Pois é, se fosse com ela, esse problema não existiria.

Ela foi um romance que eu tive, ou melhor um romance que só existiu dentro da minha cabeça. Ela é linda, longos cabelos loiros, olhos verdes e um corpo tão bem estruturado e moldado que faria qualquer um se apaixonar. Ela foi a minha única paixão. Estudávamos juntos mas infelizmente ela se mudou, éramos muito novos, então acabamos perdendo o contato quase que completamente.

– Ah! – minha mãe exclamou – Tem a Amanda também, você lembra dela, filho? – suspirei aliviado e respondi:

– Ah, mais ou menos mãe. – menti, e menti bem feio por sinal.

Não Existe Final FelizOnde histórias criam vida. Descubra agora