O primeiro amor de uma menina

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Estudiosos e grandes almas dizem que o primeiro amor de uma menina se trata do pai e que as próprias tendem a seguir um dos dois caminhos mais distintos: procurar alguém que se pareça com ele ou alguém que a ame, como ele não amou.

Meu pai e minha mãe se conheceram muito jovens, jovens cheio de paixão mas paixão é diferente de amor, eles sempre se queriam, porém não o suficiente para se amarem.
Quando nasci, meus pais trabalhavam muito então passava a maior parte do tempo com minha avó, que fazia as coisas mais básicas como me trocar e me alimentar. Desde pequena, eu mesma me ensinava a trocar o CD, a pintar dentro das linhas e a inventar as mais diversas brincadeiras pra satisfazer a minha necessidade de ser criança.
Nessa primeira infância, raramente via meus pais. Quando criei a minha própria consciência e passei a conviver mais com meus pais, reparei que meu pai (em grande parte do tempo) estava bêbado, discutia com minha mãe e me pedia perdão depois. Na outra parte do tempo me levava para comer fora, compensando a falta de atenção com dinheiro. Quando esteve sóbrio nunca me pediu desculpa quando estava errado, mas me comprava presentes.
Sempre tive noção de quanto o dinheiro custava, nunca pedia nada e se pedia era sempre do mais barato, não conseguia aceitar presentes de ninguém (a menos que fosse dos meus pais) e se ganhasse era praticamente obrigada a devolver.
Meus pais sempre foram financeiramente presentes, mas emocionalmente nunca. Elogiavam minha habilidade em aprender sozinha, em ser inteligente e por isso não achavam que precisavam me dar amor, eu já tinha a mim mesma.
Por mais que talvez eu fosse inteligente, não era o que eu queria. O que eu queria era o que as outras crianças tinham: carinho.

Quando dizem que o primeiro amor de uma menina é o pai, para um pai que nunca foi realmente foi um pra mim, se torna um pouco difícil entender o que é o amor.
Meu pai me ensinou a ser sozinha, me ensinou a ser sincera e a conversar olhando nos olhos das pessoas, me ensinou os valores da vida, o valor do trabalho e do esforço.
Meu pai ensinou a minha irmã a importância de ser criança, a importância do carinho, o valor da família.
Pra ela, ele pode ter sido sim o primeiro amor que ela se sentiria feliz em lembrar.
Já comigo a história é diferente.

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