💍 Capítulo 9 💍

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JEONG YUNHO

Yunho suspirou baixo, sentindo o peito de Mingi subir e descer em suas costas de forma calma, já que estava encostado nele, perfeitamente encaixado entre as pernas e enroscado nos braços dele ao mesmo tempo que estavam acomodados por cima dos edredons e almofadas que espalharam pelo chão da sala. Mesmo com toda aquela calmaria, seus pensamentos não se silenciaram, gritando cada vez mais alto todas as inseguranças e medos que sentiu por todo esse tempo, como se tivessem voltado como uma avalanche, pronta para desestabilizá-lo.

Já não prestava mais atenção no filme Esqueceram de Mim 1 que passava na TV, pois as palavras ditas por Song mais cedo conseguiram tomar todas as ideias de sua cabeça, fazendo aquela pequena aflição que nascera em seu peito crescer a cada segundo um pouco mais. Tentou afastar os pensamentos obscuros, ditando palavras positivas para si mesmo de forma interna, que diziam que não precisava mesmo se preocupar e que o fato de Song ter sugerido que se mudassem foi apenas para aumentar a segurança dos dois, e não porque iria acontecer algo grave. Como explicaria para sua cabeça que a situação já estava sob controle, e que nada de ruim aconteceria consigo ou com Song? Como explicaria para sua ansiedade que tudo daria certo, e que era apenas uma preocupação equivocada de alguém que nunca havia passado por aquilo antes?

Às vezes se odiava por ser ansioso demais, por todos os dias se preocupar em chegar ao final do dia bem, onde tudo que planejou tenha corrido de forma correta. Por um breve momento se imaginou vivendo dentro de um livro, onde não existiria incógnitas sobre um próximo passo, no qual poderia pisar sem medo e se imaginar tendo um final de vida extremamente feliz. Na verdade, queria que sua história fosse um conto de fadas onde teria sua vida tranquila que tanto almejou e se casaria e viveria feliz para sempre ao lado de Mingi, mas infelizmente descobriu da pior maneira em como a vida real era dolorosa e traiçoeira, muito diferente do que descreviam nos livros de infanto juvenis que leu quando era mais novo, que o passado queimava como folhas secas que rapidamente viraram cinzas, dando como fruto de toda a revolta uma rosa ou um lindo dia de Sol.

Naquela altura do campeonato, descobriu que estava equivocado sobre a ideia que tinha do mundo, pois achava que seu passado pudesse ficar mesmo para trás, trancafiado a sete chaves para que nunca mais pudesse se desprender. Descobriu que estava errado quando se deu conta de que só agora estava colhendo os frutos de ter assumido o relacionamento com Mingi — não que se arrependia de ter o feito —, pois sentia nele toda a força que precisava para que chegasse inteiro onde estavam hoje, mas só se preocupava com toda a proporção que aquilo poderia chegar. Achava que com o tempo aquilo iria parar, a curiosidade dos outros iria parar. Por um instante desejou que aquele passado pudesse ser apagado para que pudesse viver seu presente de maneira plena, sem se preocupar, mas acontece que a vida real era mais complicada do que aparentava ser, pois não importava onde estivesse, as sombras de seu passado ainda continuavam lá, lhe seguindo pelo seu presente, querendo se arrastar mais ainda para seu futuro. Talvez o tempo fosse um grande traidor e também aquele que oferece uma noção equivocada de que tudo que havia passado realmente ficava para trás, pois na realidade as coisas eram totalmente diferentes. Nos livros, se poderia muito bem separar a temporalidade se quisesse, escolher viver em diversos mundos ou da maneira que quisesse, mas na vida real é de grande consenso que não existe esse poder, pois nela a distinção entre passado, presente e futuro nunca existiu, e a magia de controlar o tempo também não.

— Você quer mais pipoca? — ouviu Song perguntar e então saiu de seus pensamentos, se virando para ele enquanto assentia com a cabeça de maneira positiva.

— Se tiver pipoca doce, melhor ainda! — disse, saindo do aconchego do corpo de Song com certa dificuldade quando viu que ele se levantaria, já ouvindo a risada baixa dele quando se encostou no assento do sofá.

— Você é uma formiga! Não se contentou com isso tudo de chocolate e balas fini? — ouviu seu noivo perguntar e olhou pra ele, sem dizer uma única palavra. — Ok, já entendi... — ele resmungou e Yunho riu, negando com a cabeça. — Tudo que você não comeu de doce no ano, está comendo agora... deveria me preocupar? — Song perguntou da cozinha e Yunho riu fraco, olhando para suas mãos repousadas em suas pernas enquanto mexia os dedos de maneira brincalhona.

— Claro que não... É Natal, eu sempre como muito doce no Natal. — argumentou, girando o anel em seu dedo anelar esquerdo, vendo a pedra de quartzo brilhar mesmo apenas com a luz que saía da TV.

Na verdade, Yunho nunca comia tanto doce, nem no Natal, mas de alguma forma encontrou em todo aquele açúcar um jeito de acalmar a inquietação que sentia em seu coração, e acreditava que Song não desconfiaria daquela tolice, mas se esqueceu totalmente de quem estava falando e só se lembrou quando viu Song se sentar ao seu lado, deixando o balde de pipoca na mesa de centro para poderem ficar frente à frente com mais liberdade.

— Espero que tenha mesmo gostado do anel, não posso mais trocar. — ouviu Song dizer e logo olhou pra ele, dando um riso baixo.

— Eu amei o anel, amor! Nem se você me pedisse em casamento com um lacre de latinha, eu continuaria achando a coisa mais linda do mundo. — disse com sinceridade, retribuindo o olhar calmo e terno que Song direcionou para si, e não se conteve em dar um sorriso pequeno assim que sentiu a mão dele encostar em sua bochecha e dar um carinho calmo, o que fez todo seu corpo amolecer. Naquela hora viu o quão era fraco com tudo que envolvia Song. Praticamente desarmou nas mãos do outro quando o viu abrir os braços, e sem pensar duas vezes se aproximou dele, se enroscando no corpo dele o máximo que podia.

— Droga! Por que não me falou antes? Paguei uma fortuna nesse anel! — viu ele dar um tapa na própria testa e logo gargalhou com a brincadeira, enroscando os braços no pescoço dele assim que sentiu ele lhe ajeitar nos braços. — Você só me dá dor de cabeça! — ouviu ele resmungar e rir enquanto sentia ele dar pequenos beijos nos pedaços de pele exposta em seu colo pela gola da camiseta.

— Então eu acho que deveria trocar de noivo, e não de anel! — disse, vendo Song lhe encarar no mesmo instante e então riu baixo, vendo ele negar com a cabeça.

— Eu esqueci que às vezes o seu humor é ácido... — ouviu ele resmungar e riu, abraçando ele de maneira apertada quando se ajeitou no colo dele.

— Foi você quem começou.

— Ok... e vamos de: a culpa é totalmente minha! — ele disse, desistindo e Yunho logo riu, assentindo com a cabeça. — Mas não precisa ficar assim. Você sabe bem que você, sua companhia, valem mais do que qualquer anel ou do que qualquer outra coisa no mundo pra mim. — ouviu Song dizer e então levantou seus olhos para os olhos escuros e brilhantes, sentindo aquela maldita sensação que lhe perseguia quando mergulhava de cabeça naquela imensidão escura que lhe causava tantas sensações que nem podia descrevê-la. E era assim que descobria que aquelas malditas sensações ainda continuavam lá, mesmo depois de tanto tempo, quando encarava o grande motivo de todo aquele rebuliço que se formava dentro de seu ser.

Todas as borboletas de seu estômago se agitaram, cada cantinho de si passou a formigar assim que viu o sorriso de Song perto de seus lábios, e não tardou em sorrir junto, se sentindo feliz por tê-lo por perto. Era surreal como ainda sentia seu corpo todo vibrar por Mingi mesmo depois de tanto tempo. Era como se estivesse sendo tocado por ele pela primeira vez. Não conseguia descrever o que sentia, era como se seu corpo abrandasse, mergulhado em uma calma como se nunca tivesse passado uma tempestade por ali. Estava tão feliz por ter Mingi por perto, pois só ele, quando com todo o cuidado do mundo encostou seus narizes um no outro, conseguia acalmar aquela ansiedade que cobria seu coração. Só com ele conseguia voltar a se sentir seguro, como se ele fosse o pilar responsável para que se mantivesse em pé por todo aquele tempo. Sem ele ficaria completamente vazio e perdido. Song era a única pessoa que lhe fazia acreditar novamente naqueles livros infantis que lia quando era um menino, pois quando estava perto dele sentia uma felicidade e calma genuína que não sentia com mais ninguém. Só quando olhava nos olhos de Song sentia que toda aquela calmaria voltaria, e realmente acreditou que aquela calma voltaria, só não imagino que seria por tão pouco tempo. 

LOYALTY II - O passado fica para trásOnde histórias criam vida. Descubra agora