Prólogo

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"O futuro nos traiu!", foi o que disse o velho pirata, "Nos bombardeou com suas esperanças e nos deixou para naufragar no caminho!"

A frase me fez rolar os olhos, mas eu saberia dita-la em qualquer entonação. Porque eu ouvi tanto aquela história... Tantas vezes...

Aqueles homens que erguiam suas espadas e bradavam sua glória... Eu pensei que eram heróis, ninguém me contou que não tinham coração.

A visão de Narae sobre a realidade sempre foi mesmo diferente demais.

Eu prefiro acreditar que meu pai era um homem muito bom para esse mundo, por isso se deixava enganar tão facilmente. O problema era quando Junghwan pedia por história antes de dormir, e então papai o tratava de arrastar para o mesmo engano fantasioso.

Em todas as noites em que ele chegava para nos encontrar ainda acordados - e eu creio que na tentativas de desviar nossa atenção do buraco deixado pela ausência da mamãe -, os mesmos piratas erguiam os mastros e giravam o timão do navio mais lendário de todos os tempos: o Estandarte Bangtan.

O Estandarte era um navio invisível, disfarçado por uma porção de quadros espelhados que tomavam toda a extensão de seu casco, refletindo as nuvens enquanto flutuava acima das vistas atentas dos patrulheiros. Era à porta de balas.

Sempre que viam uma oportunidade, mergulhavam para a terra e saqueavam os portos. Tomavam tudo o que podiam, até o barril mais valioso de água, e os levavam.

A parte legal não estava na invasão ou no furto. Oh, não... A parte boa vinha quando o Estandarte tomava os céus outra vez para voltar para casa, exatamente porque sua casa era todo lugar, mas lugar nenhum.

O Estandarte não tinha um lugar apenas para chamar de lar, porque qualquer parte do mundo onde houvesse um ser vivo que precisasse de ajuda, esse seria seu lar.

Os furtos de água e comida nos portos tomavam rumos diversos em cada uma das vezes. Se espalhavam pelas colônias marginalizadas e eram distribuídos sem burocracia alguma.

— E todos gritavam como eram piratas sujos, cruéis e traidores! — Papai dizia. — Mas ninguém enxergava que os mesmos homens sujos, cruéis e traidores só roubavam dos ricos o que podiam distribuir aos pobres.

Junghwan e seus olhos brilhantes apenas se encantavam mais a cada vez que ouvia a mesma frase. E então espadas de plástico tilintavam pelo quarto, porque entre nós três ele sempre foi o melhor falso espadachim.

Junghwan se tornava um pirata nobre. Se tornava o reflexo de herói que papai adorava como uma divindade.

Eu fui parte de sua tripulação.

Até o dia em que as fantasias de Narae tomaram verdade demais. Até o dia em que o vimos sair para o trabalho pela manhã, e apenas recebemos notícias suas ao fim do dia.

Até o dia em que meu pai foi morto por uma espada.

Depois desse dia, a única maior certeza que eu tenho é de que não me importam quais sejam suas intensões. Esses malditos devem ser erradicado do que restou da terra, e por mais que não possa garantir isso com minhas próprias mãos, eu apoiarei qualquer um que apontar uma arma para suas cabeças.

Estandarte de Jade |• ATZ (Poliamor)Onde histórias criam vida. Descubra agora