dueto.

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Oi!
Então, tive essa ideia porque cansei do tio cyr tombando a gente 😞. Até eu pegar o tom deles vai ser difícil, então eu quis fazer essa one em um tom mais cômico. Talvez, eu tenha colocado um pouco do Antenor no Tonho...

ENFIM! Boa Leitura.
(não esqueçam de ler com sotaque.)

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Tudo que é ruim, pode sim piorar e Irene era a prova viva disso. Óbvio que alguma coisa iria dar errado, estava tudo tão tranquilo. Tolerar Antônio já era um desafio enorme, agora tolerar Antônio com um pé quebrado era demais. E como ela quebrou o pé? Correndo atrás de Petra.


Tentando pegar os remédios da mão dela junto com Luigi, Angelina esqueceu de avisar que o piso estava molhado e a escada escorregadia. O resultado foi ela escorregando, virando o pé e de quebra, caindo da escada. Agora tinha uma bota ortopédica no pé e uma tentativa de se levantar pra comer alguma coisa.

— Ai, maldição! – tentava forçar a muleta para levantar, mas o impulso a levava para trás. — Angelina!

Gritou uma, duas, três vezes e a única resposta que ganhou foi o silêncio. Gritou por todo mundo – até por Caio – e ninguém aparecia. Desistiu e se jogou pra trás, esparramada em várias almofadas.

— Algum problema? – como um espírito, Antônio apareceu na sua frente.

— Ai que susto, Antônio! – levou a mão ao coração e respirou fundo. — Custa falar alguma coisa antes de chegar assim?

— Eu moro aqui, Irene. – retrucou, retirando o chapéu. — Não preciso me anunciar na minha própria casa.

— Mas também não precisa chegar igual vudu. – revirou os olhos, tentando levantar de novo. 

Antonio encarou o pé dela, estranhando a bota ortopédica.

— Quebrou?

— Não, é meu sapato novo, tô usando pra ver se você nota alguma coisa em mim. – retrucou irritada, ainda tentando levantar. — É claro que eu quebrei Antônio.

— O que você quer? Eu pego pra você. – tentando ser gentil, ele a ajudou a se sentar novamente.

— Tô morrendo de fome, não tem ninguém em casa e a Angelina sumiu. – ela fez um bico, voltando a ficar esparramada.

Em poucos minutos ele voltou com uma bandeja de torrada e café. Irene devorou em poucos minutos, e tentou de novo se levantar.

— O que você quer agora?

— Subir. – disse simples, e ele arregalou os olhos. — Daniel me trouxe no colo pra cá.

—Ah, então você trate de arranjar um jeito. – ele encarou ela e depois a escada, tentando recorrer a uma alternativa mais fácil. — E agora?

— Se você me ajudar a levantar, a gente arranja um jeito. – Antônio estendeu as mãos e a puxou, fazendo assim ela se levantar. — Acho que eu arranjei minha babá.

Irene riu, Antônio preferiu ignorar e seguiu com ela. Inventaram uma estratégia e Irene finalmente estava em seu quarto com a banheira sendo enchida. Antônio estava parado ao lado dela na cama feito uma estatueta. Irene intercalava os olhares entre a bota ortopédica e Antônio.

— Não sei se você sabe. – ela pigarreou. — Mas eu não consigo tirar a bota sozinha.

— Não vai achando que eu vou ficar ajoelhando toda hora pra tirar essa bota maldita. – resmungou, tirando a bota e ajudando Irene andar até o banheiro. — Tanta coisa na minha cabeça e você ainda quebra o pé.

Irene revirou os olhos e preferiu manter o silêncio, levou uns 20 minutos no banho. Na verdade, pensava sobre como seu casamento era feliz, quer dizer, parecia feliz.

Antônio sempre foi atencioso, nunca faltou com as obrigações como marido, mas agora parecia vidrado em ignorá-la e ser grosseiro. Lembrava-se que ele adorava dançar, tomar tereré aos fins de tarde e assistir algum filme velho que estava passando na TV. Tinha uma mania de brincar com Petra quando ela era pequena, mas aos poucos, a menina cresceu e ele deixou isso de lado.

Mas ele adorava dançar, era a coisa que mais adorava na vida e em qualquer momento a tirava para dançar; seja em horário de almoço, café da tarde, jantar e principalmente em festas. Ele tinha uma alegria que se esvaiu com o tempo.

É claro que, ela sabia que ele nunca esqueceu Agatha. Ela sempre foi e sempre será a primeira, mas Irene preferia ignorar e enganar seu cérebro repetindo inúmeras vezes que ele a amava. Tinham dois filhos, uma casa linda, então.. eram felizes.

Mas era triste, era triste pensar que nunca seria amada como Agatha foi, que foi um estepe para suprir a falta de uma esposa e de herdeiros na sucessão e diga-se de passagem, sua única preocupação era a sucessão. Era cansativo.

— Irene. – ele bateu na porta. — Morreu aí dentro?

— Já tô saindo. – respondeu sem ânimo, com dificuldade vestiu a camisola e o roupão.

Abriu a porta e Antônio não tirou os olhos dela.

— Você já pode ir. – ela ajeitou as cobertas no corpo. — Não vou mais ser um fardo pra você.

— Nunca disse que você era um fardo.

— Mas me trata como um. – ela tirou os olhos dele, ignorando as lágrimas. — Eu já entendi que eu não sou a Agatha, mas pelo menos, eu tô viva e aqui com você.

— Irene, você lava a boca pra falar da Agatha! – ele gritou, e o corpo dela se encolheu.

A expressão no rosto dela fechou, era um olhar frio e ele mexeu os pés em sinal de desconforto.

— Claro, Antônio. – ela disse calma. — Terei o maior respeito pela sua esposa, pode ficar tranquilo. Agora, se você puder me deixar dormir.

Ela deitou a cabeça no travesseiro, e ele notou lágrimas silenciosas caindo.

— Irene, eu-

— Tchau, Antônio. – foi seca, e fechou os olhos.

Ele fingiu fechar a porta, e observou quando ela dormiu em meio às lágrimas.

Tinha uma grande mania de velar o sono dela, não deixando nenhum dos filhos interromper isso. Irene sempre dormiu do lado direito, e a regra é pelo menos um abajur do quarto ficar ligado ou uma vela. Gostava de ficar tirando os fios de cabelo do rosto dela e gostava quando algum mínimo movimento atiçava as covinhas dela. Ele adorava essas covinhas.

Ela estava de costas pra ele, mas ele ainda conseguia ver as covinhas que às vezes apareciam durante o sono dela.

— Você não é um fardo. – ele sussurrou enquanto retira outro fio de cabelo do rosto dela. — Posso não transparecer, mas eu amo você. Obrigada por ser minha mulher.

Deixou um beijo em sua bochecha, e virou-se para sair sendo surpreendido pela mão dela segurando seu braço.

— Fica. – ela se ajeitou na cama. — Por favor, só hoje.

— Fico. – ele sentou novamente na cama, dando-lhe um beijo nos lábios.

Daniel adentrou o quarto e encontrou os pais dormindo abraçados. Sorriu.

Era raro, mas acontecia.

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