Aquilo que foge aos olhos

253 26 6
                                    


Jake abriu os olhos ofegante e por um triz não despertou a pessoa dormindo ao seu lado.

O sonho era o mesmo, a mesma mesa com prataria estranha e superfície aquosa, depois aquele espelho e ele se vendo ali, mas não se vendo. Tudo era estranho, confuso e repetitivo.

Suspirou e saiu da cama se afastando do corpo nu e convidativo do seu 'ficante mais recente.

Não queria pensar no que andava fazendo ou em quantas camas dormia atualmente. Só queria fazer parar seus sonhos bizarros de olhos abertos e aparentemente o sexo conseguia lhe trazer ao mundo real e lhe dar uma pausa de toda aquela loucura. Em sua profissão precisava de concentração e cabeça focada, e precisava disso para ontem porque sabia que logo ia entrar na reta do seu chefe por erros idiotas e iniciantes.

Não devia se aproveitar do seu físico ou da sua beleza para conseguir sexo, mas que outra forma faria seu corpo se desgastar e por fim deixar todas as coisas esquisitas sumirem da sua mente? Ele era um dançarino excepcional, droga! E aquela porcaria de sonhos diurnos o estava fazendo perder o foco e virar um inútil!

— Jake, qual é o problema?

Nick tocou seu ombro e ele sorriu amargo. Também queria saber sobre aquilo ao invés de ficar irritado com sua própria loucura súbita.

— Eu tenho que ir trabalhar. Depois deixe a chave no mesmo lugar, pode ser?

Disse baixo evitando de ranger os dentes e foi para o chuveiro tomar um banho rápido e sair para ao menos tomar um sol na cabeça e relaxar os pensamentos. O sol da manhã sempre o acalmava por algum motivo.

Não deu outra satisfação e sabia que Nick entraria para sua recém longa lista de 'ficantes que o amaldiçoavam no dia seguinte por sua falta de tato com os pós sexo.

Paciência. Ele usava aquilo para um fim e não porque amava a outra pessoa. Ele sabia que era um comportamento lixo da sua parte, mas sua cabeça não estava no lugar nos últimos meses de todo jeito.

Não era desculpa, mas era a verdade.

O trânsito na rua estava agitado como sempre e tumultuado e se fosse uma manhã como todas as outras de sua vida até começar os sonhos acordados, ele não daria a mínima para alguém vestido como uma espécie de freira do outro lado da rua. Porém agora...

Era diferente.

Ele esfregou os olhos, mas a imagem não desapareceu e como em todos os sonhos era sempre ele vestido naquela roupa estranha e dentro daquela espécie de salão vazio com mesa e espelho que pareciam feitos de água ou algo do tipo...

Bem. Ele ligou, e muito.

O homem era bonito, uma espécie de cinquentão boa pinta ator de dramas coreanos que seus colegas de estúdio adoravam suspirar por eles, mas ele não deu atenção a isso e sim ao foco dos olhos nos seus, mesmo que a faixa de pedestres tivesse aberta e nenhum dos dois se movessem para atravessá-la.

Então ao homem sorriu todo beatífico e Jake sentiu as pernas tremulas e sua única reação foi correr.

Ele correu e correu sem rumo certo e sem entender o porquê daquilo. Algo dentro dele se sentia aflito e foi essa a sua reação imediata. Correr, como se sua vida dependesse disso.

Jake correu até derrapar em uma rua sem saída em uma espécie de clichê idiota e bem, como se de verdade estivesse em alguma cena absurda... O homem de branco saltou do telhado e caiu a sua frente com graça e leveza, como se não pesasse nada.

— Acalme-se Jake, está tudo bem. Eu estou aqui para explicar o que está acontecendo.

Jake rangeu os dentes e o encarou começando a ficar estressado:

O papa negroOnde histórias criam vida. Descubra agora