Senhorita.
Hoje tentei me despedir de você, não deu muito certo, minutos após me convencer de que não queria mais ver teu rosto voltei atrás, te liguei afim de resolver tudo mesmo sendo você a errada, tu me machucou exatamente da mesma maneira, na mesma ferida, tragicamente do mesmo jeito me matou. O que mais me deixa exausta é que eu já não sinto o mesmo, desde que te vi nos braços daquele garoto que é basicamente minha versão masculina algo em mim morreu, quando te vi caminhando, sorrindo e rindo, com os pés alinhados aos passos dele, exatamente como fazia comigo, com os braços ao redor do teu ombro e com as mãos entrelaçadas exatamente como fazia comigo, ele tinha o olhar apaixonado, cara de quem tinha o peito apertado ao te ver, exatamente como era comigo, eu já estive ali, mas dessa vez era ele, e ali naquele lugar, naquele momento, senti meu coração apodrentar.
Aprendi de maneira fatídica que sobrevivo à uma doença que tanto corrói o ser como um tumor na alma, o amor, mortal e medicinal amor, guerra efêmera dentro da mente e do peito surrado por tanto gritar em silêncio, paixão irremediável por olhos aliciantes desesperados por gotas que arranham o rosto e ferem o âmago do coração, tal como te olhar e sentir profunda cicatriz coçar. Te culpo por cada lágrima, cada dor e cicatriz, cada noite mal dormida por ter um espinho agatanhando a garganta, um nó de cordas vocais que antes cantavam teu nome com tamanha gentileza que era de se hipnotizar, mas no final da noite irei repensar teus atos, porém sem pensar muito, porque senão não te perdoo, me vejo com dó e piedade de mim mesma, me enxergo de longe e penso em me bater, me machucar até verter o grosso sangue para que possa ver que além de dentro morro por fora também, contanto te perdoo, pois tenho a amarga impressão de que a dor de não te ter é maior do que a dor das feridas que tu me causa.
08/06/2023
