CAPÍTULO 11: Um passo importante

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Desembarcamos no Rio no início da noite e seguimos para o meu apartamento. Não voltamos a falar no episódio desagradável na fazenda exceto quando titia nos ligava tocando no assunto.

Passávamos todo tempo juntas, mesmo no hospital, apesar dela nunca permitir que trocássemos carinho em público, as pessoas sabiam que estávamos juntas, imaginava que aquela reação dela seria para evitar fofocas. Nossa intimidade era evidente, raramente dormíamos separadas, até nos beijávamos na frente de Dona Leonor sem constrangimento.

Lauren ainda me intrigava, existiam momentos que ela era tão transparente, me contando tudo sobre seu dia com naturalidade, e outras vezes ela tinha um ar misterioso, por muitas vezes saía da minha presença para atender o celular. Tentava disfarçar meu desconforto com isso, mas ela sempre respondia que eram assuntos de trabalho, eu fingia acreditar, mas ficava com uma pulga atrás da orelha, uma vez que desviava o olhar do meu quando estava me escondendo algo.

Já nos conhecíamos pelo jeito de olhar, às vezes não precisávamos falar nada pra entender o que a outra queria, o sexo entre nós continuava incrível, até na maca do consultório dela transávamos nos plantões, quase fomos flagradas por duas vezes.

Uma coisa me incomodava no nosso relacionamento: não saber da família, do passado de Lauren, ao passo que ela já conhecia toda minha família, e sabia de praticamente tudo da minha história.

As únicas coisas que ela me revelara era o trauma por ser traída várias vezes por suas ex-namoradas, mas não me dava detalhes, não falava de nenhuma ex em específico. Ele me revelou também que foi expulsa de casa no último ano da faculdade pelo seu pai, quando este descobriu sua orientação sexual, manteve contato com sua mãe e seu irmão (o qual era muito apegada, na época que saiu de casa ainda era uma criança), até a morte de mãe a cerca de cinco anos, depois disso, ficou mais difícil ver o irmão, a essa altura já estava ingressando na faculdade. Lauren era muito reservada quanto a falar de suas dores, mas seu olhar de tristeza quando falava de seu pai era honesto, sentia vontade de colocá-la no colo e arrancar aquela tristeza dela, não suportava vê-la sofrer.

Algumas semanas depois que chegamos de Minas, Lauren me surpreendeu com o convite de irmos até Niterói, sabia que era a cidade da família dela, tratava-se no aniversário do seu irmão Christopher. Almoçaríamos juntos, ela queria nos apresentar oficialmente.

Era sábado, não trabalhamos, de manhã fomos ao shopping comprar o presente do aniversariante, e seguimos para Niterói, Chris nos esperava em um restaurante italiano no centro da cidade.


Chris era um homem alto, deveria ter mais de 1,80m, era forte, corpo com músculos bem definidos, cabelos claros lisos, olhos escuros deferente da irmã, nariz afilado, seu sorriso lembrava muito Lauren, lindo.

- Lolo... Que saudades minha irmã!

- Chris! Saudades também, parabéns!

Os dois se abraçaram longamente, até lembrarem da minha presença, emocionada ao ver aquela cena:

- Não vai me apresentar essa mulher fabulosa que veio com você? Ela é meu presente? –falou enquanto me olhava dos pés a cabeça.

-Ei... Respeita a mulher dos outros moleque! – Lauren respondeu esmurrando o bíceps do irmão. – Essa é a famosa Camila, Chris, MINHA namorada.

- Olá, Chris, é um prazer e feliz aniversário. – Estendi a mão, tímida.

Chris ignorou minha mão avançando para me abraçar, sentamos à mesa que ele reservou e depois de pedirmos o almoço, entregamos os presentes. Lauren deu um notebook, sabendo que seria muito útil na faculdade que ele estava iniciando, eu, depois de sondar a irmã, descobri que ele era flamenguista doente, o presenteei com a nova camisa oficial do time, o que o deixou eufórico.

Eu quase não falei durante o almoço, dada a excitação dos dois em atualizar o papo, riam, se acariciavam, nunca vi Lauren tão alegre na presença de alguém que não fosse eu. O almoço se estendeu até o meio da tarde, foi quando nos despedimos, o convidei para assistirmos juntos o jogo do Flamengo contra o Atlético Mineiro, que era meu time, o Maracanã estava em reforma, então muitos jogos estavam sendo realizados na Ilha do Governador, bairro onde eu morava, inclusive esse.

Senti pela primeira vez naquela tarde, que eu participava da vida de Lauren, mas ela ainda me parecia misteriosa demais com os tais telefonemas.

Os meses passaram tranquilos, no final do ano, não fui a Valença no recesso da residência, não queria encontrar com a vovó, como toda a família comemorava as festas de fim de ano na fazenda, eu não quebraria minha jura de não pôr mais os pés lá. Foi o primeiro natal que passei longe de tia Penélope e Sophia. Estava triste, mas Lauren nos preparou uma linda ceia, convidou alguns amigos mais próximos do hospital, como a enfermeira Ally, Letícia que era fisioterapeuta e sua companheira Flávia, Bosco recepcionista da emergência além de Dona Leonor e o senhor Wagner nosso porteiro, tornando a noite menos saudosa pra mim.

Naquele Natal, presenteei Lauren com um colar de ouro, com pingente em forma de anjo, ela com frequência me chamava de anjo, do anjo que a fez acreditar no amor. Estranhei porque ela não retribuiu o presente, depois que os nossos convidados deixaram meu apartamento, Lauren me levou para o quarto, com um ar de mistério:

- Pra onde você está me levando doutora?

Não respondeu, deixou somente o abajur ligado no meu quarto e fez com que eu me sentasse na cama, pediu que abrisse a caixinha que estava sobre o travesseiro. Sabia que era uma joia pelo formato da caixa, apressei em pegá-la quando a abri minha respiração quase faltou ao ver um par de alianças fininhas em ouro, com detalhes em prata, ao olhar para Lauren ainda boquiaberta, com os olhos cheios de lágrimas, vi Lauren, ajoelhada na minha frente, tomou minha mão, e com a voz embargada, e olhos marejados ela falou:

- Karla Camila Cabello Estrabão, sei que estamos juntas só há nove meses, mas não preciso de mais tempo para ter certeza que você é o amor da minha vida, e não quero passar mais um único momento sem ter você ao meu lado, esse ano você me devolveu a alegria, o amor a vida que eu julgava ter perdido, você me ensinou a amar de uma maneira plena, eu quero passar todos os anos que nos esperam descobrindo novas formas de te fazer feliz como você me faz, então... – parou para enxugar as lágrimas, respirou fundo e perguntou – Você me daria a honra de compartilhar comigo o resto de nossas vidas, que eu espero que durem uns mil anos... Enfim... Quer casar comigo?

Eu estava extasiada com aquelas palavras lindas, com o gesto de Lauren, segurando aquelas alianças, nunca sonhei com casamentos, mas ali eu tive a certeza que nasci para esperar aquele momento... entretanto não consegui soltar uma palavra, eu soluçava:

- Camz, pelo amor de Deus, responde, porque eu estou quase pondo um ovo aqui de tanta ansiedade! Se você disser não, eu vou entender, apesar de já ter calculado quantos ossos eu posso quebrar me jogando do oitavo andar e...

Interrompi aquelas bobagens de Lauren a beijando com toda intensidade, repetindo entre um beijo e outro:

- Sim, sim, sim meu amor, caso com você próximo ano, amanhã, agora mesmo se você quiser!

Trocamos ali as alianças, e nos amamos até o amanhecer.

- Ei moça... Quero fazer as coisas direit,o tá? Primeiro noivamos, depois casamos, quero tudo que tenho direito, vestido, festa... – disse em tom de ordem.

- Claro, claro... Será como você quiser!

Convidamos Sophia e Tia Penélope para passar o Réveillon conosco, sabia que Sophia sempre quis ver a queima de fogos em Copacabana, e assim, seria a oportunidade de falar pra elas sobre nosso noivado. Também convidei Dinah e Harry que não pensaram duas vezes, no dia 30 desembarcaram no Rio junto com tia Penélope e Sophia. Lauren chamou Chris também.

Alugamos um apartamento mobiliado, desses que se aluga por temporada, em frente a praia de Copacabana com 3 quartos, já que não caberiam todos no meu apartamento. Jantamos antes da queima de fogos, por volta das 22:30, desconversamos quando nos perguntaram sobre nossas alianças durante os dois dias inteiros, queríamos anunciar no jantar e assim fizemos:

- Gente, eu e Lauren temos algo para contar, e reunimos vocês aqui porque são as pessoas mais importantes para nós.

- Vamos acabar esse suspense, né amor... Eu e Camila resolvemos nos casar... Estamos noivas!

Exibimos nossas alianças juntas. Silêncio na sala. Até o grito afetado de Harry invadir a sala:

-Uhuuuuulllllllllllllllllllllll, enfim um de nós desencalha!

Todos riram quebrando o silêncio de vez, levantando da mesa nos cumprimentando emocionados, Tia Penélope principalmente, nos abraçou juntas, e nos desejou muitas, muitas felicidades, nos fez mil recomendações e nos perguntou quando pensávamos em realizar o casamento simbólico.

- Ainda não sabemos, titia – Lauren já chamava assim tia Penélope. – Mas será em breve, temos detalhes práticos pra acertar, alugar um apartamento maior, gostaríamos de viajar, então preciso de férias do hospital enfim...

- Apartamento maior? Estão pensando em filhos? - Sophia perguntou preocupada.

- Por que não? – Tia Penélope respondeu por nós. – Eu quero ser avó, e se depender de você e James que terminam e voltam o namoro uma vez por semana, nunca serei, minha esperança são vocês agora meninas!

- Calma aí... Não falamos em filhos, aliás nunca conversamos sobre isso, né amor? – falei segurando a mão de Lauren. – Queremos um apartamento maior, porque precisamos de um escritório decente, quarto de hóspedes para as visitas esperadas ou não – disse olhando pra Harry e DJ – e também queremos que tenha nossa cara...

- Mas fica tranquila titia, que vamos pensar com carinho sobre seus netos... - Lauren deu uma piscadela pra Tia Penélope.

A noite não podia ser mais perfeita, por volta das 23:30h, descemos para praia, com garrafas de champanhe, e taças, a fim de brindarmos pelo noivado e pelo ano que chegava. Durante a queima de fogos, ficamos de mãos dadas Lauren e eu, beijamos a aliança uma da outra:

- Feliz ano novo, noiva...

- Feliz ano novo, minha noiva...

Ignorando a plateia, trocamos um beijo suave, mas demorado. Não faltava mais nada para nossa alegria ser completa, Copacabana testemunhou nosso amor, o próximo ano prometia...

EU SEI QUE É AMOR...Onde histórias criam vida. Descubra agora