Cap. 01

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A luz do sol invade meus olhos, fazendo-os lacrimejar. Apenas aperto-os, sentindo uma pontada de dor atrás do globo ocular. O calor aquece meu corpo agradavelmente. 

- No que você tá pensando? - Anne pergunta enquanto me passa um pedaço de melancia.

Organizo, analisando por onde comecei meus pensamentos.

- Sempre acreditei que eu encontraria um cara educado, bom filho, que me amaria e me satisfaria na cama. - Mordo, o suco da fruta descendo pelo canto da minha boca - Mas tô começando a achar que vou morrer sozinha.

- Que drama Amélia. Você só tem 24 anos. Não tem motivos pra se desesperar.

- 25.

- O quê?

Olho pra ela. Porquê ela sempre esquece?

- Eu tenho 25 anos. 

Ela hesita, provavelmente fazendo os cálculos para tentar provar que eu estou errada.

- De qualquer forma, você ainda é nova. Pode encontrar um cara legal, se casar, e ter um ou dois filhos.

- Eu não quero um cara legal. - Retruco - Quero um cara bom o suficiente pra mim. Um homem...

- Igual dos livros que você lê? - Ela me interrompe levantando uma sobrancelha.

Absolutamente não. 

Os personagens dos livros que eu leio são... duvidosos. Mas ela não precisa saber disso.

- É. Alguma coisa assim.

O parque está lotado. Famílias aproveitando o feriado para ficarem juntos e fugir da realidade agonizante de Argo City. Nasci e fui criada nessa cidade, correndo pelos parques verdes, indo ás missas na Catedral, e frequentando o Teatro de Atena. Apesar de ser uma cidade grande, sinto que ela poderia caber na palma da minha mão. E ainda assim... ainda assim, depois de quatro anos na Universidade cursando fotografia, estou aqui novamente.

Observo minha irmã. Sua mão passeia pela barriga de 7 meses do segundo bebê. Ela está enorme, mas continua linda. Ela ficou um pouco ressentida quando retornei para casa. Queria que eu conhecesse o mundo. Apesar de eu ser a irmã mais velha, ela leva mais jeito para esse papel. Talvez ter instituído família aos 20 anos tenha colaborado pro rápido amadurecimento.

- Acho que nós deveríamos ir agora. Daqui a pouco vai ficar escuro, e David já deve estar em casa me esperando.

Suspiro. Alguém está te esperando em casa.

- Vou ficar mais um pouco.

Ela começa a recolher as coisas do piquenique, com as palavras na ponta da língua, pronta para despejar em mim.

- Preciso tirar ainda algumas fotos pro meu álbum de admissão. - Continuo. - Minha entrevista na empresa é amanhã. Não tenho certeza se tô satisfeita com o que preparei.

Ela definitivamente não quer que eu fique sozinha, mas vai embora assim mesmo, me deixando com minha máquina fotográfica.

Ando pelo parque, aproveitando a hora mágica do por do sol para tirar algumas fotos do ambiente. Alguns cliques são realmente espetaculares, e me encanto de novo com a beleza das imagens. A foto de uma criança brincando na grama, outra de um casal de idosos andando de mãos dadas, outra dos cisnes no pequeno lago.

Todas com a iluminação perfeita, o enquadramento perfeito, mas sinto que nenhuma conta realmente uma história.
As cestas de piquenique se foram, o barulho cessou, e o que resta são só os sons dos animais pelo parque.

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